24 de dezembro de 2008

Queres uma prenda?

Tenho ouvido e lido por aí um número crescente de pessoas que dizem que odeiam o natal, que é pura hipocrisia, que é consumismo... Ainda houve uma altura em que pensei que muita gente dizia que não gostava do natal por ser moda dizer que não se gosta do natal. Depois mudei de ideias. Agora sim, acredito mesmo nas pessoas que dizem isso, e tenho pena.

Tenho pena porque ... para mim o natal é uma coisa tão simples! Para mim é estar na consoada a comer bacalhauzinho, e beber um vinhinho, e rir-me um bocado! É estar o pessoal todo em minha casa, atarefado a fazer doces e fritos, e eu a ajudar só a partir nozes, mas a curtir o ambiente! É ver a minha irmã a embrulhar prendas, e depois à meia noite a dar-nos essas prendas, uma de cada vez, alternando as pessoas. E ver a minha cadela às voltas a tropeçar nas pernas de toda a gente, porque sabe que também há prendas para ela...

Também fico contente no natal por ver que apesar das coisas tristes que acontecem, parece que só as pessoas de fora é que teimam em fazer cara triste quando nos desejam bom natal, e dizerem "pois, tenha um bom natal dentro do possível, pois, eu bem sei que nunca é, não é? que nos lembramos sempre das coisas más"... e depois dentro de casa nós estamos é numa boa, não se passa nada.Bem, aproveito também para dizer que contactei um bocadinho com a má face do natal. O trânsito estúpido, as pessoas ainda mais nervosas do que o habitual com tanto para fazer, com as obrigações, os sítios cheios, os empregados-do-bolo-rei completamente de cabeça perdida nas pastelarias... Eu sei... é a má face do natal. Mas o natal é o que o homem quiser (e quando a mulher deixar ehehehehe... humm... não?... ok) e eu escolho deixar essas coisas de fora do natal. Prefiro pensar que são danos colaterais. Torno a dizer que tenho pena de quem não gosta do natal. Acho que é porque não aproveitam, como eu aproveito, o mais simples simplezinho... um bacalhauzinho bom, um vinhinho, a casa quentinha, a cadela maluca com as coisas em cima da mesa, a irmã natal... ou não aproveitam, ou não as têm. Tenho pena, pronto.
Aproveito para dizer que fui muito mimado, com mensagens personalizadas, visitas na véspera de natal (pessoas que enfrentaram o trânsito para me verem!), prendas... enfim. Só me chateia um bocado estar à rasca dos rins, e de arriscar, justamente no dia de hoje, bater o record de banhos de imersão em água a ferver em 24h. Just in case, já disse à família que abria as prendas na banheira, se fosse preciso. Quanto ao bacalhauzinho e ao vinhinho... deus queira que não me faça pior (não sei se é possível ehehehe). De resto ... tudo está óptimo, tudo está bem. Serenidade ...


Vejam o videozinho de natal que a iris esfenoidal fez. Não está tão querido?
Beijinhos e abraços para toda a gente.

14 de dezembro de 2008

Body Combat 89'


Vou fechar os olhos com força. Depois, vou contrair todos os meus músculos. Vou ficar assim cerca de 30 segundos, a absorver a energia do ambiente que me rodeia. Em seguida, vou gritar assustadoramente, estico as mãos, e delas sairá um potente raio azul claro, de energia pura.
Odeio ser contrariado. Odeio querer que algo corra idealmente, e depois acontece precisamente da maneira oposta. Odeio ser contrariado, mesmo que esse algo que imagino tenha, ad initium, maior probabilidade de não acontecer segundo a minha vontade. Principalmente quando vai contra as leis da física. Ou quando depende de toda a gente no mundo menos de mim. Ou quando a coisa tem tudo para correr assim e corre assado.Julgo ficar sempre surpreendido quando me cortam as vazas.
Queria poder jogar pelas mãos um raio azul claro, puro de energia, que libertasse toda a minha frustração, e me levasse a atingir o ponto de equilíbrio de energia mínima, para que assim pudesse obedecer ao princípio da estabilidade universal.
Também não me importava que acontecesse como nos filmes de animação, em que pelo poder do amor ou da fé incondicionais, as pessoas se concentram, dão as mãos, fecham os olhos, e libertam uma aura de uma energia qualquer verde fluorescente que dissolve os maus. Que faz com que toda a gente no mundo se entenda e tenda para os caminhos mais óbvios do ponto de vista do plano do Criador, mesmo que mais difíceis de percorrer pelos mortais. Que dobra os caminhos que se separam, distorce os carris, e torna a oferecer a oportunidade para, sempre pelo livre arbítrio, eles se unam de novo. Que salva vidas. Que dilata as pupilas das pessoas, faz bater mais depressa o coração, faz suar as mãos. Que aguça os sentidos e as percepções. Que dá a segurança de princípios, a confiança no querer, a força para ultrapassar barreiras intransponíveis, cortar amarras...
*

A felicidade é, para mim, um momento limitado no tempo em que existe em nós um decréscimo abrupto de energia. Ou seja, uma ocasião em que não mais fazemos do que obedecer à principal lei do universo: perder energia para o exterior, ficando mais estáveis. Mesmo que isso aumente grandemente a confusão à nossa volta, o balanço é positivo na perspectiva global. Também é verdade que a felicidade é espontânea. E aqui põe-se um problema: a espontaneidade é indissociável do livre arbítrio, entidade que permite tomar opções, decidir sobre alguma coisa, ou efectuar essa coisa. Os animais (já para não falar dos outros seres vivos) regem-se por regras básicas de sobrevivência e procriação, e portanto atingem a satisfação/felicidade percorrendo essas regras, cumprindo 3 ou 4 necessidades básicas. Por assim dizer, para os bichinhos, uma pirâmide de Maslow teria dois, três no máximo, degraus. Portanto eles não têm um verdadeiro livre arbítrio. Feliz e infelizmente, no nosso caso, a nossa pirâmide tem vários lanços de escadas, com diversos patamares e corrimões mal definidos. As necessidades estão lá ... mas são múltiplos os caminhos e entroncamentos para as satisfazer. Muitas delas - não todas - dependem do livre arbítrio. E é aqui que consiste o busilis da coisa.

Temos uma apetência muito grande para complicar o que muitas vezes é fácil. Pensamos no depois quando deviamos aproveitar o agora, e outras vezes ficamos bloqueados no presente, sem perceber que o agora é a única altura de que dispomos para fazer alguma coisa que requeira algum desvio aparente na obediência à ideia da minimização da energia, mas que depois por fim, no balanço final do acto, produz mais satisfação. E o agora já passou. Mesmo que logo a seguir venha outro agora, e estejamos sempre cientes disso.

Mesmo se o caminho é em linha recta e sem grandes opções a fazer, muitas vezes não o interpretamos como tal. E quando há impasses ou dilemas, escolhemos frequentemente as soluções mais fáceis olhando apenas numa perspectiva regional a curto prazo. Esta opção x vai mudar esta pequena coisa nesta pequena gaveta desta prateleira, nesta sala deste armazém que é a minha vida, durante alguns minutos. E depois passamos ao lado de outro caminho que, a médio prazo, globalmente, iria trazer muito mais dividendos, ou, se assim quisermos, ser melhor, no seu todo mais espontânea e com maior potencial de gerar felicidade. Isto acontece mesmo cada um de nós sabendo mais ou menos conscientemente - e de antemão! - disso. O conceito de energia de activação assusta-nos.

Olho à minha volta e não faltam situações de energia retida. Pessoas que são bombas à espera de explodir, e que se admiram quando vêem o seu rastilho a arder. Ou pessoas cujo rastilho é tão grande que quando arde todo a bomba já está chocha. Ou apagam o rastilho. Passamos grande parte do tempo a escolher as hipóteses não espontâneas, soprando para o rastilho, prolongando-o, adiando o BOOOOM! Uma bomba é feita com o intuito único de explodir, e uma vida é feita de múltiplas e pequenas bombas. Apesar disso, o que fazemos tantas vezes é abafar os fogos todos. Vivemos não para ganhar mais, mas para perder menos; não para disfrutar, mas para tentar não sofrer. Temos vergonha de dizer sim, medo de dizer não, e orgulho demais para dizer todas as restantes palavras em defeito e calar aquelas em excesso. E vamos acumulando frustração na proporção inversa da felicidade atingida, consentindo que, lenta mas inexoravelmente, nos atem, reatem, amordacem e ancorem a situações que na realidade não queremos. Tudo isto porque tememos o custo inicial de reagir. Pode-se passar uma vida inteira com medo de se ser explosivamente feliz pelo caos que isso causaria nos nossos surroundings - animais, vegetais, minerais, e os Outros. Somos meninos que ao crescerem aprendem a desobedecer ao universo, e ele castiga-nos provocando em nós um estado permanente de tédio, insatisfação, angústia e mal estar geral. Dizemos então para nós próprios - até para nos convencermos disso mesmo - que não sabemos porque é. Que nos falta algo... bom!
É tão bom quando estamos a perder o jogo em casa por 0-1 aos 89', e arranjamos forças para marcar dois golos nos minutos de compensação. Pena que tantas vezes recolhamos aos balneários após o apito final, engolindo a nossa auto-patranha de que perder só por um não é mau nos dias que correm. E às vezes era só encostar para a baliza aberta...
*
Agradar-me-ia muito poder dar voltas ao mundo à velocidade da luz e poder voltar atrás. Ou que, pelo acreditar inabalável, gerasse uma aura verde fluorescente que espalhasse um pouco mais de honestidade nas pessoas para com elas mesmas; que lhes lembrasse que cada um de nós só dispõe desta vez. E dar-lhes muita, muita coragem, como a que eu gostava de ter e não tenho.
Queria poder libertar toda a minha frustração em vários raios de energia pura enquanto gritava assustadoramente KAME AME! Queria poder fazer isso, e que fosse tão normal como uma aula de 50 minutos por dia de body combat. Gostava que fosse possível. Ficaria de bem com o universo e ele retribuir-me-ia com a felicidade.

9 de dezembro de 2008

Falou e disse - 2

E porque às vezes é necessário baixar o nível ...

stp - tava com uma enchaqueca mesmo


Chico - oh miudo...tu já tens quase 30 anos... para alem disso és um acabado de merda, nao te podes meter assim a jogar à bola


Chico - mas tomaste alguma coisa para isso?

stp - tomei benuron e deixei-me tar na cama, e pronto, lá dormi e passou


Chico - benuron... fraquinho

stp - é é, mete-te a tomar nimeds por tudo e por nada e cá te espero

Chico - dores de cabeça às vezes tb tenho... fico de rastos

Chico - eu nunca tomo nimed... só quando me mandam. quano me doi a cabeça , tomo aspirina

stp - e levas no cu mesmo quando não te mandam :D

Chico - e voute ao cu sempre que te vejo, porque tu nao pedes, mas sei que queres

stp - e quando te mandam levas duas vezes LOLOLOL

Chico - ai o c*****

stp says - esta vai ser a conversa numero dois no blog

Chico - "e agora , neste lindo blog, nova rubrica..Conversas da merda (com os meus amigos!)"

Chico - o "conversas de merdas" com letra trabalhada e o "com os meus amigos" assim tipo carimbo, de lado

stp - ya :D assim tipo STRAAAAMMM!!! CLASSIFIED!

Chico - ya! :)

7 de dezembro de 2008

Old school


Esta foto foi tirada em Aljezur, no caminho que ladeia o parque de campismo do Serrão. Não sei já em que ano foi, mas talvez em Agosto de 1999. Algumas das pessoas que aqui estão ainda hoje são minhas amigas, e espero que o sejam enquanto eu for vivo!
A minha bicicleta ainda é a mesma, e lembro-me bem destes ténis que tinha calçados ...
A garrafa de água que um dos tipos mais à esquerda tem só pode ser para gozar. Os 4 Dalton atrás (ele é o rapaz mais à esquerda e o do chapéu mais à direita) ficaram para sempre conhecidos como Os Alentejanos - penso que eram de Portalegre - e foram capazes de emborcar uma litrosa cada um enquanto percorriam a parte deste caminho que ladeava o parque, que calculo não ter mais que 200 metros. Eu vi!
Temos também a minha querida madrinha de curso do lado esquerdo (Vera), e o puto estúpido que está atrás de mim, e à esquerda do gajo do chapéu (à esquerda dele, não a nossa!) é o Pedro, colaborador do Valdispert, e meu grande amigo (que não escreve aqui há eons). Mais à direita da foto, o marido e mulher mais recentes: Stefan e Susana. Não os vejo muitas vezes pois são do Porto, mas... eles sabem que... sim.
E a miúda gira abraçada a mim (eu não tenho a culpa, já em teen era assim :P) é a Marta. Não a vejo há dois anos por culpa própria e partilhada, e a ver se tomamos um copo no próximo fim de semana.
Tenho muitas muitas muitas muitas muitas saudades desta altura!
Oh tempo, volta para trás!

6 de dezembro de 2008

Falou e disse - 01


STP - isto tá bonito, tá.

Ela - joão o mártir

STP - sabes ... que ... eu pequei muito. Muitííííííííssimo ... mas nunca fui condenado directamente pelos meus pecados. Porque são segredo. Mas já fui condenado injustamente por bué merdas...
Ela - lolololololool... pois epá....fica ela por ela então.

STP - Mas assim como é que deus pode ser pedagógico ?

Ela - Mas era suposto ser?

STP - Mas que raio de deus temos nós ?

Ela - Mas... deus existe?

STP - Se existir não vou conhecê-lo ...

3 de dezembro de 2008

Battles - Atlas

Porque o blog, afinal, também parece que é meu
[incha aí, STP!]


18 de novembro de 2008

Sex type thing

I know you want whats on my mind

I know you like whats on my mind

I know it eats you up inside

I know, you know, you know, you know

Here I come, I come, I come, I come!

Eis o que vai acontecer: na passagem de ano, vou a L.A. ver estes gajos ao vivo (outra vez).

11 de novembro de 2008

For reasons unknown

"I pack my case.

I check my face.

I look a little bit older.

I look a little bit colder.

With one deep breath, and one big step,

I move a little bit closer.

I move a little bit closer.

For reasons unknown.

...

But my heart, it don’t beat, it don’t beat the way it used to,

And my eyes, they don’t see you no more

And my lips, they don’t kiss, they don’t kiss the way they used to,

and my eyes don’t recognize you no more".

Curto esta banda. Tem-me apetecido ouvir música bem disposta, e estes gajos põem-me bem disposto. Aliás, até pus esta música como toque de telemóvel e tudo!

O vídeo não é aquela coisa, e o vocalista até é todo pró-Bush, mas... que se há de fazer? Gosto mesmo!

See ya !

4 de novembro de 2008

Great Gig in the Sky

A primeira vez que ouvi esta música passei a gostar de Pink Floyd e não soube na altura. Foi numa peça de teatro a que assisti no Tivoli, com a Regina Duarte - "Coração Bazar" - entre Setembro e Outubro de 2004 (se a memória não me atraiçoa), em boa companhia. Na peça pareceu-me muito bem. Só bastante tempo mais tarde é que soube que era dos Pink Floyd, quando decidi ir à procura da discografia deles, por ter achado uma lacuna cultural gravíssima não conhecer nada para além da "Another brick in the wall" e da i-rri-tan-tí-ssi-ma "Wish you were here". De facto, foi o melhor que fiz.

Em todas as procuras no Youtube não encontrei melhor voz feminina do que a original - nem em concertos posteriores da própria banda.

***

Vera diz:
medicina sucks
STP diz:
completamente
Vera diz:
pq é q eu nao fui pa arquitectura...estupida....devia ter seguido o meu desejo de qd tinha 3 anos..
STP diz:
pois
STP diz:
porque é que eu n fui para canalizador ...
Vera diz:
serias o Super João
Vera diz:
e saltarias em cima de tratarugas e destruirias tijolos para apanhar cogumelos
STP diz:
LOLOOLOLLOLOLO!!!

28 de outubro de 2008

Enfartamento


Estou com uma certa sensação de saciedade precoce ... e tenho tendência a vomitar o que li nos dias anteriores!

27 de outubro de 2008

Comfortably Numb

Que belo dia para jogar umas raquetes de praia !

Cá continuo pela Ericeira, a maximizar o meu estudo dentro do possível. Mas nos intervalos aproveito para ir tomar café a sítios diferentes e para visitar as praias daqui. Esta é uma delas. Há mais de 20 anos lembro-me de vir com a minha avó para esta praia - Praia de São Lourenço - e de me doerem imenso os pés por causa da areia grossa. Tive oportunidade de confirmar que não era dos meus pezinhos frágeis de menino. Realmente esta areia é grossa pa caraças e rebenta com os pés a um tipo. Para quem não está habituado, claro. E como este ano eu e a praia não fomos particularmente amigos ...

O ambiente aqui é muito bom, é calminho, e tem estado bom tempo. À noite posso ir à varanda de casa e ouço o vento a passar num daqueles moínhos gigantes de vento, para a produção de electricidade... a torre ainda está longe, mas ouve-se bem o wwwooowwwnnvvv... wooowwwnnvvv.... woooowwwnnnvv... é um bocado impressionante. E quando o céu está limpo - que tem sido quase sempre - também dá para ver um belo céu estrelado.

Deixo-vos aqui o vídeo de uma das melhores músicas de uma das melhores bandas de sempre, na minha opinião e na de milhões de pessoas - embora tenha uma grande amiga minha que os odeia ... :)
Dava quase tudo para poder ter estado neste concerto. Paciência ... não fica para a próxima!
E este solo é ... fantástico. E este David Gilmour ... sim, eu sei que está velhinho, mas curto milhões o gajo.
Até breve, amigos e amigas ...

16 de outubro de 2008

Não fui à flash interview porque...

Tive pena do jornalista que ficou sozinho na flash interview depois do jogo contra a Albânia, à espera dos intervenientes da partida. "Aizz... elez deviam virzz para podermozz reflectirzzzz... aaaizzz... vou chorarzz... oz portuguezezz mereciiiamzzz...".
Mas eu sei que tanto Gilberto Madail como Carlos Queirós tinham bons motivos. Um, para fugir das bancadas do estádio, outro para não comparecer à entrevista-relâmpago, pois tive acesso à lista de desculpas que ambos elaboraram antecipadamente. Encontrei a lista caída no chão à saída da pedreira de Braga. É natural que, como homens avisados que são, façam uma selecção de bons pretextos, já que a primeira desculpa pode não colar.
Queirós
1 - "Perdi-me nos corredores do estádio! Acreditam nisto?";
2 - "O que é uma flash interview? Não sei falar inglês...";
3 - "A verdade é que não fui porque tive vergonha. E o Nani pediu-me para não ir.";
4 - "Estive a consolar o CR7.";
5 - "Eina pá, nem sabem o que me aconteceu! Apanhei uma gastroenterite!";
6 - "O meu melhor amigo precisava de desabafar. Ele anda triste ...";
7 - "Não me apeteceu. Algum problema?";
8 - "Chamaram-me dos altifalantes do estádio para eu ir mudar o carro de sítio";
9 - "Não fui porque o meu nível de alcoolemia não mo permitia";
10 - "Alego insanidade mental temporária";
11 -"Sabe, tive que telefonar ao Ferguson. Só ele tem o manual de emergência "como proceder após ser humilhado em casa com uma equipa de merda... tipo albânia... jogando com 10".
12 - "Recebi um telefonema do Ricardo. Sim, esse, o chicken man. O que disse? MUERRE borracho de mierda!! Mais valia ter ido à Flash Interview (ouve-se choro compulsivo)".
Gilberto Madail
1 - "Saí mais cedo porque para sair do estádio depois é complicado, é muita gente...";
2 - "Flash o quê? Só sei duas palavras em inglês: Jack e Daniels";
3 - "Estava a ouvir vozes dentro da minha cabeça e fui para a roulote do estádio beber umas para acalmar";
4 - "A minha filha ligou-me para o telemóvel e eu tinha de atender";
5 - "Esqueci-me que tinha que ir buscar uma bilha de gás e já era tarde";
6 - "Deu-me umas cólicas. Acho que estou com uma gastroenterite";
7 - "Precisava de chorar num ombro amigo e liguei para o Scolari. Ele lá me ajudou, dizendo que no futebol são sempre 11 contra 11 ...";
8 - "Há mais na vida do que o futebol, sabem? Há um bar em Braga... só vos digo, supimpa!"
9 - "A comitiva dos paralímpicos entupiu-me o telemóvel de mensagens a dizer que a selecção estava pouco móvel em campo";
10 - "Fui telefonar ao presidente da federação espanhola a perguntar se não queriam fazer uma selecção conjunta. Era um assunto da maior importância";
11 - "Encontrei o Sá Pinto, e perguntei-lhe se ele não queria esmurrar outro seleccionador";
12 - "Não me chateiem, sou só um velho bêbado ...".
Backup - plano Z - "Telefonei ao Paulo Bento a indagar da disponibilidade do Paulinho para ser o nosso médio-centro cerebral, para reforçar a nossa visão de jogo em campo".
Pronto. Decidi partilhar convosco o que vinha escrito no papel.

13 de outubro de 2008

Dark Matter

"Crushed like a rose
In the river flow
I am I know"...

Desta vez, deixo-vos uma música dos Porcupine Tree. É uma banda que conheci há relativamente pouco tempo - um ano e tal, talvez - mas de que já sou fã. Não há vídeo para vos mostrar, mas quem quiser, oiça a música.

Nas palavras de um amigo meu - a pessoa por intermédio de quem os conheci, por ter lido um texto que ele escreveu sobre o último álbum da banda - a arte dos PT está na capacidade de criar ambientes e sentimentos. De resto, são músicos fantásticos, e não vou adiantar-me muito sobre a banda. Para isso, pedirei a esse meu amigo que escreva algo sobre eles, porque ele tem muito mais jeito do que eu para descrevê-los. Ainda assim, acho que, para quem tem curiosidade, o melhor é mesmo dar uso aos programas de sacanço e descobrir por si mesmo.

Eles vieram a Portugal há dias. Estiveram em Lisboa - Incrível Almadense - e no Porto - Teatro Sá da Bandeira. Esse meu amigo, é claro, disse "presente!" em ambas as ocasiões. É inacreditável como em Lisboa estiveram apenas 900 pessoas. Faz-me muita confusão, uma banda destas devia encher estádios...

É claro que eu não fui a nenhum dos dois concertos, e andei meses a remoer-me no vai não vai. Acabei por não ir, não sei se me arrependo ou não. É mais um daqueles sacrifícios idiotas que me habituei a fazer, a pensar em outrém ou em potenciais pássaros que vão a voar e não se sabe se um dia vão estar na minha mão. Não aprendo.

Sobre a sondagem que esteve aqui durante um mês para votarem: finalmente terminou e o resultado foi um empate técnico entre as declarações do atleta olímpico português - o da caminha - e a abordagem do pivot das notícias ao presidente olímpico português. Conclusões: o pessoal odeia o Sócrates (seria mesmo preciso teres feito uma sondagem para concluir isto? Não me parece, João), e gosta de votar em declarações que se calhar não ouviu (será que toda a gente viu as notícias naquele dia?). Para breve, mais uma sondagem vos será proposta, com opções inteligentes para escolherem. Está prometido!

Tenho tido muitas ideias para escrever umas coisas como antigamente fazia, mas... falta-me a energia para brincar com as palavras. Tenho pena, mas é mesmo assim... não vou considerar que é bloqueio de escritor, porque não sou escritor. Acho que é mais bloqueio de leitor - acontece quando se lêem coisas áridas como o Principles of Internal Merdicine.

Até breve, minha gente!

7 de outubro de 2008

Pounding

"... And I say

We so down

But it's now or never baby

We don't mind

If this don't last forever

See the light

But it won't last forever

Seize the time

Cause it's now or never baby

So why

Is it so hard to get by? ..."

Hoje mostro-vos mais uma canção dos Doves de que gosto muito. Esta é, ciclicamente, a minha preferida deles... e é-o porque me dá a sensação de ambiguidade entre um ritmo alegre, aquele feeling de comfortable music - extensível a toda a música da banda, de resto - e uma letra que me incomoda.

Pounding é, no dicionário:

1: to reduce to powder or pulp by beating;

2 a: to strike heavily or repeatedly; b: to produce with or as if with repeated vigorous strokes —usually used with out ; c: to inculcate by insistent repetition : drive ; d: to move, throw, or carry forcefully and aggressively ;

3: to move along heavily or persistently ;

4: to drink or consume rapidly : slug ;

intransitive verb

1: to strike heavy repeated blows;

2: pulsate , throb

3 a: to move with or make a heavy repetitive sound; b: to work hard and continuously —usually used with away.

Sem querer alongar-me sobre os significados que estas várias definições têm para mim pessoalmente, digo-vos que esta canção me dá conforto e alguma alegria, e portanto a uso como "botão secreto"(*) para me tentar animar em momentos como Este. É difícil para mim estar a ouvi-la e não começar a bater o pé.

Até breve ...

(*) - roubei esta expressão a um livro que ando a ler, e de que talvez aqui fale um dia.

30 de setembro de 2008

There goes the fear



"Close you brow eyes... and lay down... next... to me" ...


Cá estou, rapidamente, para mais algumas sugestões de coisas que gosto. A primeira é esta música dos Doves, que tenho ouvido várias vezes enquanto estudo e agora não consigo deixar de a repetir mentalmente sem dar por isso. Já a conheço há anos, mas continua a dar-me um enorme conforto ouvi-la. Acho que a voz do vocalista é fenomenal, e sou fã confesso da banda. Infelizmente este clip não tem a música toda; completa, tem pouco menos de 7 minutos, o que talvez fosse exagerado para um clip comercial.


Esta minha pausa foi um bocado maior do que o habitual porque estava com uma enxaqueca do tamanho das casas. Portanto aproveitei a minha incapacidade para estudar para ver dois filmes de uma assentada. De uma forma completamente randomizada, vi finalmente o Hostel 2 e o "The Jacket", filme cuja tradução entre nós é "O colete de forças".


Quem de vós me conhece, sabe que não sou exactamente um fã de filmes de terror. Mas, já que tinha visto - e gostado - do Hostel 1, na véspera da minha viagem para Barcelona (vai fazer dois anos), na companhia de uns colegas, achei que tinha que ver a sequela. De facto, foi engraçado, na véspera de ir para um hostel em Barcelona, vê-lo na companhia daqueles que iam comigo na viagem. E já que ia dar no telecine, aproveitei. Na verdade, de terror não tem grande coisa, é mais gore ...


Não desgostei, e até acho que tem pequenas partes bastante melhores do que o primeiro filme. Mas globalmente - e talvez por razões que se prendem com o contexto em que vi o Hostel 1 - gostei mais do primeiro. Ainda assim, e para quem gosta, vejam o primeiro. Gosto daquela sensação que o filme dá, de um grupo de amigos em viagem, todos contentes, todos inocentes, a acontecerem-lhes coisas divertidas, e miúdas giras a meterem-se com eles, e não sei quantos, e depois quando menos esperam estão a ser torturados numa realidade difícil de imaginar. Enfim, eles já tinham idade para saber que tudo o que nos é dado obriga a uma retribuição ... pobres jovens :P


Agora sobre o segundo filme que vi, o The Jacket. Gostei mesmo muito do filme. Não tinha conhecimento da sua existência. Naturalmente não vou dizer grande coisa. Apenas desvendo que não tem nada a ver com terror. E posso também dizer que me soube um piquinho a The eternal sunshine of the spotless mind, embora a história seja suficientemente diferente para se demarcar inteiramente do filme. É mais uma questão de ambiente, talvez. As mesmas pessoas que sabem que não aprecio (normalmente) filmes de terror, sabem também que o The eternal etc... é um dos meus filmes preferidos de sempre. Outra coisa que também apreciei no The Jacket foi a banda sonora. Não se dá tanto por ela como no Despertar das Mentes (é a tradução do The eternal...), mas gostei e provavelmente vou à procura dela, qual ave de rapina.


Por fim, uma palavra para o casalinho de actores que dá vida à história. O primeiro, é aquele actor de O Pianista (tenho que ir ver ao google, esperem lá... ok, é o Adrien Brodie), e fiquei ainda mais fã dele. Quanto a ela, a Keira Knightley, não a conhecia de lado nenhum. Sim, claro que fui ver ao google o nome dela, e não só ehehehe! :p ... Ok, a miúda é bem gira. Sim, miúda, porque eu já sabia ler quando ela nasceu. Também vai benzinho no filme.


Em suma: oiçam a música, e vejam O colete de forças. Muito bons. Quanto ao Hostel 2 ... epá, se quiserem vejam, mas não é imperdível na minha opinião. Também tem miúdas muito engraçadas, mas morrem quase todas, o que lhes tira um bocado o sal.


Obrigadinhos, voltarei em breve :)



12 de setembro de 2008

Estoirou-me a cabeça - 01

Quando vi o filme (e digo já que gostei bastante) no cinema, não pude evitar rir-me um bocado quando o Batman falava. Pareceu-me que aquela voz que o gajo fazia - sem dúvida para invocar a escuridão, as profundezas, etc... - era um bocado ridícula, e cheguei a gozar com isso durante uns dias depois. Mas agora dou de caras com este sketch de uns bacanos que nem sei quem são...
Não sei se vão achar piada, mas eu mandei-me ao chão a rir!
Enjoy ...

9 de setembro de 2008

Quando eu morrer

Curta metragem de Luís Vieira Campos, com música do Manel Cruz. Encontrei-a durante uma das minhas explorações ao acaso, nos momentos de fuga momentânea da realidade...


2 de setembro de 2008

Janela


"Mesmo mal nos conhecendo
Vamos pela fé
Da transparência abrindo uma janela
Da mentira
A brincar, a brincar
Como voltando atrás
Em parte ou em partes partidas no tempo
Um refúgio para crianças como tu
Agora não tens nada a pagar
Só a apagar
Uma hora toda para ti
Só tens de a gastar
Brincando como dantes
Por ora com brinquedos novos
Brinquedos para adultos como tu
E é como estar nu
Pronto p'ra nascer, de novo pronto a nascer
E vamos para onde o céu for
Vamos para onde o céu for
Para onde o céu for
Para onde o céu for...
Sei como é estranho ouvir
Soar a nossa hora e eu nem quis
Mas como posso eu não sei
Ignorar a voz que me avisa
Que eu não vou servir para estar
Nesse papel
O que eu não entendo
É que eu não aprendo
E é quando eu me rendo
Vamos para onde o céu for
Vamos para onde o céu for
Para onde o céu for
Para onde o céu for".
"Janela" - Supernada
Também eu tenho coisas que não entendo, ou entendo mas não aprendo. Não vou sequer elogiar a banda. E nem me vou debruçar sobre o porquê de, nem como Ornatos Violeta, nem como Pluto, nem como Supernada (com membros coincidentes ou diferentes, sempre com o Manel Cruz na voz) conseguiram ter tanta audiência e exposição mediática em Portugal como conseguiram nomes como The Gift (se quiser ouvir e elogiar uma voz grossa, escolho um homem), David Fonseca (não mudes essa tua nova pronúncia a cantar, não), Mafalda Veiga, João Pedro Pais, os Mesa ("olá, olhem, o meu grupo é Os Cadeira") e tantos outros. Por um lado parece uma injustiça, um sacrilégio. Mas depois lembro-me daquele provérbio antigo que acabei de inventar: se toda a gente for beber ao mesmo rio, a água deixa de ser doce.
Quem quiser, peça-me o mp3, pois está muito, mas muito melhor do que os videos do youtube. O que mais admiro nestes músicos, e em particular no vocalista/letrista, é a simplicidade com que canta frases que pareceriam demasiado lamechas ou estúpidas cantadas por qualquer outra pessoa. O vocalista dos ... como é que era o nome ... aquele das raizes quadradas de somas subtraídas e o sindicato dos deuses e não sei quê (a letra mais otária e mais sem sentido que já li)... Os Toranja!... ia dizendo, pois, que esse tentou. Eu tenho a versão dele de uma das músicas dos Ornatos Violeta. O resultado não foi famoso.
Caros amigos, ando muito cansado e com a fonte seca. Mas vou deixando aqui fotos e referências a coisas de que gosto. Muito. Só para vocês :)
Até daqui a bocadinho.
Acre

3 de agosto de 2008

Por favor, não tornem isto mais difícil do que já é!



E pronto, estamos novamente no Verão, e com ele vêm as férias, a praia, o sol, as cervejas, o resort ou o campismo, e todas essas coisas por que aguardamos ao longo de não sei quantos meses de estudo ou trabalho, dependendo do caso. Apesar de frequentemente a montanha parir um rato - porque toda a gente está à espera ansiosamente de uma maravilha qualquer que aconteça no Verão, e depois acaba tudo em filas de trânsito a voltar para casa ainda mais stressado do que chegou - a verdade é que não deixamos de esperar por isso.


Este ano, não é esse o meu caso. Como a maior parte de vós deve saber, vou ter um exame lá para Novembro, que é um bocado importante. Sem querer ser agressivo, mas tendo que ser honesto, digo-vos que é uma espécie de luta entre todos os que, como eu, acabaram agora o curso. A maior parte deles não conheço, porque são de outras faculdades, e mesmo na minha não conheço boa parte deles. Dos que conheço, muitos não me agradam assim por aí além. Mas há uns quantos por quem tenho amizade, e outros por quem nutro alguma simpatia. E falando nesses, não posso deixar de me lembrar aquela cena do filme "No escape" (também conhecido como "Escape from Absolom") em que o mau da fita mete dois amigos dentro de um poço e joga um pau afiado lá para dentro, obrigando-os a lutar até que um deles morresse. Ou então morriam os dois. Não é tão dramático como isso, mas bem vistas as coisas vamos estar a jogar uns contra os outros. Odeio a ideia, mas já não sou completamente virgem em relação a ela. Luta-se sempre: ou para entrar na faculdade, ou dentro da faculdade para ter os melhores horários, ou para estagiar no melhor hospital...

Encurtando razões, o que queria dizer-vos - ou melhor, às pessoas a quem interesse - é que a probabilidade de não aceitar convites de praia, uma cerveja, um café rápido, uma saída à discoteca, um cinema, um jogo de futebol, uma noite de sexo escaldante, uma ida às compras, um "estar-na-conversa", etc... é superior a 95%, com uma amostra randomizada, sem viés e com bom intervalo de confiança.

Não levem a mal, mas é que custa-me estar a recusar essas coisas todas. Claro que me custa mais a mim do que a vocês por não poder fazer convosco estas coisas, também não quero estar a ser pretensioso. Mas custa-me particularmente quando alguém fica ofendido por eu não poder aceitar alguma coisa.

Digo-vos sem rodeios: passo muito tempo a dormir, e às vezes até fico imenso tempo a vegetar em frente à TV a ver as televendas. Mas são coisas importantes de que não posso nem me vou privar. Até já me acusaram "Ah e tal porque dormes o dia todo e depois dizes que sim mas que também". Pois claro que é verdade. Mas é uma questão de opção, um gajo tem que descansar a alguma altura do dia ou da noite. Os padeiros também ficam acordados à noite, e aposto que a maior parte do tempo não é a jogar às cartas.

"Não me digas que não podes dispensar uma tarde ou uma noite, se o exame é só em Novembro" - se houvesse uma listagem das frases mais batidas ouvidas por mim e pelos meus colegas, esta seria provavelmente a que ocuparia o primeiro lugar. Agora respondo só "Não. Não posso.". E depois levam a mal...

Mas nem sempre foi assim. Eu antes respondia: "Se soubesses quantas pessoas é que já me disseram isso... se fosse a tirar um dia por cada convite que recebi, então só estudava na véspera!".


As respostas a isto variavam do "Ah, mas eu sou eu!" ao "E então, o que é que pode correr mal?".

Não há comentário possível.


As pessoas que me conhecem bem sabem que eu nunca me corto quando posso aceitar um convite, a não ser que esteja a cair de podre. E para essas, este reparo nem é necessário.

Este pequeno post é só para dizer, essencialmente, que sim, que adorava poder fazer todas essas coisas e ir a todos esses sítios, mas é uma questão de responsabilidade. Ninguém me obriga a estudar até lá. Não tenho um professor a obrigar-me a estudar todos os dias, ou um trabalho para entregar para a semana senão chumbo. Só eu é que me posso impor essa responsabilidade. Portanto, não sejam vocês a desencaminhar-me. Por favor, continuem a falar comigo, mas não me façam pirraça com as vossas idas à praia, não gozem, não convidem. Se me der um vaipe, eu penduro-me sem ser convidado ...


Beijos e queijos, até breve!

2 de julho de 2008

Colorblind




Percorre o corredor que me leva do balneário até ao rectângulo de jogo. Sobe as escadas e ouve o barulho dos pitons a bater no chão. Ouve também já lá fora a música da liga dos campeões e o coração bate descompassado, seguramente a mais de 200bpm. Invade-o ansiedade dos grandes jogos, mas, como dizem os comentadores desportivos, essa ansiedade desaparece com o apito inicial do jogo.
Junto à linha lateral, vai aquecendo ainda com o colete amarelo berrante vestido. A multidão agita-se, e os flashes das máquinas fotográficas invadem o ar, obedecendo apenas à estocástica. Os cânticos arrepiam a relva. Os músculos retesam-se e sente-se vivo, como uma brasa velha a quem sopram.
Não obstante, vem de uma lesão prolongada. Diz-se nos jornais que passou ao lado de uma grande carreira devido às graves lesões e às más opções de gestão da carreira. Mas tudo o que ele queria era jogar futebol. Tudo o que ele sempre teve foi muito amor para dar à camisola.
Assim, o espectáculo começa com um silvo agudo que ecoa contra as cabeças dos espectadores, mas ele está no lugar a que já se tinha acostumado - o banco. Sente-se preparado para jogar, embora um pouco inseguro. "Estou pronto. Estou pronto. Estou pronto. Estou bem. Só preciso que me tirem de mim mesmo.".
Outrora, ele sabia bem o que havia de fazer à bola, e adivinhava a posição dos colegas de equipa de olhos fechados. Estes, por sua vez, sabiam exactamente o que esperar dele, e portanto tudo corria ordeiramente. Umas vezes melhor, outras vezes pior, claro. Que diabo, nem tudo pode correr sempre bem - a inspiração não é sempre a mesma, os relvados por vezes não ajudam, e até o árbitro pode ser malandro. Não obstante, a audiência entoa ainda várias canções com o seu nome.
O jogo não começou de feição para a sua equipa. Dois golos de rajada dos adversários provocam o desalento entre os jogadores. Para piorar, o jogador mais esclarecido lesionou-se e não pode regressar ao relvado.
Sente um baque no peito. "Será a minha chance? Não, claro que não. Vai meter mais um avançado e abrir o jogo. Ou então... talvez pôr um médio defensivo e jogar para não ser humilhado. Não me vai pôr a mim, de certeza".
Mas o treinador decide-se mesmo por ele. "Será uma jogada de moralização? Sou o mais velho, se calhar precisam de um líder para tranquilizar a equipa. Não compreendo ... ".
Recebe o braço do treinador por cima dos seus ombros. Vê a placa ser levantada com o seu número.
"Joga o que sabes" - diz-lhe o mister.
"Mas mister! Para onde vou jogar? O que quer que eu faça?" - entra em campo sem obter resposta, empurrado pelo 4º árbitro.
No emaranhado de jogadores e dos duros confrontos físicos, lá lhe passam a bola de vez em quando e a multidão faz frissom. Outras vezes, as suas opções parecem criticadas por todos, que parecem não o compreender.
"Não sei o que faça. Será que é para defender? Será que é para atacar?".
Desce no campo e começa a recuperar bolas. Os sócios não parecem contentes. Vai mais para a frente, tira dois adversários do caminho e passa a bola ao extremo, bem colocado. O treinador joga as mãos à cabeça, furioso. Num pontapé de canto da equipa contrária intercepta a bola com o peito e sai a jogar, e ouve os gritos da multidão. Continua com a bola, atravessa o campo todo, passa o guarda-redes contrário e marca golo. A assistência passa-se da cabeça, os comentadores ficam roucos. O jogador está feliz, conseguiu reduzir a desvantagem. É preciso continuar a correr atrás do prejuízo.
Logo a seguir, a equipa contrária marca mais dois golos, e toda a gente olha para ele com cara de poucos amigos. "Mas o que fiz eu? Era eu o defesa a pô-los em jogo? Tentei cortar a bola... não sei o que faça...". A poucos minutos do intervalo vê o seu número na placa de substituições.
Joga as mãos à cabeça e sente uma superfície aborrachada contra as gotas de suor da testa. "Que luvas são estas? Não me explicam nada...".
Para a história fica apenas o resultado.
*
A expressão "amigos coloridos" sempre me deixou algo desconfortável. Na verdade posso mesmo dizê-lo: odeio a expressão. Soa-me a hipocrisia, não sei explicar bem porquê. E o problema das cores é que são muitas, variam muito de intensidade, e deixam espaços entre elas onde podem entrar outras cores. Há sempre espaço para o vermelho vivo, mas também para o azul escuro....e nas pontas da paleta, há sempre o branco luminoso de um lado, e o preto do outro. O preto-necessidade-de-suporte-avançado-de-vida; o preto-ficar-a-soro. Quem não percebe, tivesse percebido.
E o pior de tudo é que um dos amigos coloridos, na tentativa de chegar ao branco luminoso (que nunca chega), arrasta o outro para perto do preto. Aí, uma das partes da paleta fica toda borrada - de medo, também. Também nestas coisas não há democracia. Aliás, se há coisa que é definida é a posição de cada um relativamente ao outro. Esta história faz-me lembrar os líquenes.
Odeio coisas-porque-sim. Que existem para passar o tempo ou para preencher não se sabe bem o quê. E portanto, naturalmente, odeio relações que não têm sentido, em si. Se ambos gostarem do outro, então não são amigos coloridos. Ou namoram, ou casam, ou juntam-se, ou, de outro modo, são amigos. Para quê as cores?
Tenho para mim que há sempre alguém que se lixa nesse tipo de "simbioses". Na verdade, nem sei porque é que pus aspas na palavra. Afinal é mesmo uma simbiose. Por definição, esse tipo de relações bióticas reserva para cada um dos intervenientes um papel diferente. É claro que as espécies podem viver separadamente, e na relação há sempre uma que tira um proveito revestido de maior dependência que a outra. Um deles fica porque gosta do outro a sério e tem dificuldades em se ver com outro qualquer. O outro... bem, o outro recebe interesse, companhia e afecto, em troca da sua tolerância. A pouca democracia prende-se com o facto de um deles estar satisfeito com a vida e com a perpetuação desse tipo de situações, enquanto o outro vive numa tensão, sem saber o que fazer à bola: se a chuta para canto e joga na defensiva, ou se pega no jogo, arrisca o peito às balas, e tenta virar a "contenda" a seu favor, que é, no fundo, aquilo que julga ser melhor - pelo menos, idealmente - para ambos.
O que queria sublinhar era o facto de estas simbioses serem feitas, por definição, a partir de duas espécies diferentes. Ou seja, não podem acasalar, procriar, etc. Acho que não me engano muito se disser que a bela e o monstro talvez não tenham sido feitos um para o outro.
Mas podem ser amigos.

23 de maio de 2008

Perturbação Humorística #6 - Porque esta vale a pena

Premissa: Uma flash-mob de 100 pessoas persegue incautos cidadãos pelas ruas de uma cidade japonesa.

Gritos de guerra traduzidos:
Tipo #1 - Aqui vem o Tsunami!
Tipo #2 - Aqui vem o Tsunami!
Tipo #3 - Foi este gajo!!
Tipo #4 - (nada)
Tipo #5 - Cuidado, abaixem-se!


Perturbação Humorística #6 - Porque esta vale a pena

Premissa: Uma flash-mob de 100 pessoas persegue incautos cidadãos

13 de maio de 2008

Campistas-Ciclistas II - 2


Dia 1. Ao contrário de há 7 anos, em que a travessia do Tejo foi feita do Cais do Sodré, desta vez apanhámos o barco em Belém. Esta é a razão pela qual se vê a Ponte 25 de Abril. Que bonito: passar por debaixo da ponte 25 de Abril no 26 de Abril!

"Já não gosto da ponte. Antes, quando olhava para ela, fazia-me lembrar férias, praia, sol... entretanto a sensação invocada mudou completamente. E também atravessar o rio de barco já não é tão giro como me parecia antes. O barco a atracar, a bater nos enormes pneus de tractor ou de camião pendurado na parede da doca... o homem a lançar as cordas para a margem... já me pareceu bem mais pitoresco.".




Perto de Setúbal. Pequena paragem para descansar, após uma subida mais puxada. O que vale é que a seguir a esta curva vem uma descida excelente... deu para atingir os 67 km/h de velocidade. Parece pouco, mas quando se vai numa bicicleta, com um suporte com bagagem atrás, com o pneu de trás completamente lisinho, sem relevo, e com travões sub-óptimos, com possíveis carros atrás, a ter que fazer as curvas fora de mão para ser mais seguro... a sensação que me dá é que a qualquer momento a bicicleta se vai desintegrar, ou então vou apanhar um gato na estrada, ou um buraco, ou uma poça de óleo, e... acabou-se.
Foi de tal maneira que, ao ver a meio da descida a placa com o desvio à direita para o Outão, travei, e só parei uns 200 metros à frente. Nem me atrevi a virar.
Tirei esta foto desta maneira, não porque estivesse muito cansado, mas porque há 7 anos tirámos uma igualzinha, neste mesmo sítio; creio que quem aparecia era o Chico. Continuo a procurar as fotos, mas esconderam-se bem...

26 de abril de 2008

Campistas-Ciclistas II


Amanhã às dez, em algés. Combinámos assim mas não foi para rimar. Em frente à entrada do túnel da estação dos comboios.

Há sete anos, fizemos a mesma coisa. Fomos descendo. E descer é uma palavra engraçada de usar neste contexto, porque quem lê pensa que são só descidas, já que vamos para sul. Meus amigos, garanto-vos que não são só descidas. Assim de repente lembro-me de uma subida até Santiago do Cacém, que depois de bastantes km, ninguém acredita o que custa, a não ser os que fizeram.
Ia eu a contar: há sete anos fomos para sul, sempre de bicicleta, a parar em parques de campismo. Dois dias antes tinha-nos dado na cabeça ir para longe de bicicleta. E estávamos à noite, no meu antigo renault 9 - e eu nem tinha a carta na altura - com um mapa aberto em cima do volante, a traçar metas completamente irrealistas, como verificariamos mais tarde.

"E um dia vamos até à Rússia!" - diziamos.

Foi tudo em cima do joelho. Portanto, não é de admirar que cada um de nós levasse 30 quilos às costas, em mochilas de campismo.

Podia-vos contar tantas coisas... podia falar de como chegámos a Setúbal, logo no primeiro dia, totalmente rotos, e não nos queriam deixar ficar no parque de campismo - que agora já não existe - porque não tinhamos carta de campista. Isto depois de uns 70 km.

Também podia falar da insolação que o Chico (o outro da dupla CC) apanhou nesse dia, e das latas de Nívea que tivemos de comprar. Ou das marcas com que ficou no peito e nos ombros, por causa das alças da mochila serem demasiado finas.

Ou então, podia falar da forma como chegámos já ao fim da tarde do 2º dia à Praia da Galé, já sem água, sem comida nenhuma há uma data de tempo, e quando estavamos a montar a tenda o Chico me disse "vou ao wc", e eu respondi "ok", e foi a única coisa que dissemos um ao outro em 3 horas, tal não era o cansaço.

Ou podia referir a forma como, no meio do nada, algures entre Porto-Covo e a Zambujeira, descobrimos um café com uns velhotes alentejanos que não acreditavam que vínhamos de Lisboa com aquelas malas. Íamos com t-shirts presas com corda de sisal à cabeça, de maneira que nos chamaram de Arafat's. E quiseram pagar-nos minis... mas só bebemos um sumol cada um.

E à chegada à Zambujeira, foi a minha vez de quebrar fisicamente. Sentados num muro cá em cima, lá em baixo a praia, devo ter comido umas 6 sandes de queijo em 10 minutos, e depois ficámos ali a descansar indefinidamente...

Depois, nessa noite de autêntico verão, comemos ali sentados na rua um frango assado, que deve ter sido o melhor que comi na vida.


Podia por fim contar-vos como chegámos a Lagos e nos disseram que afinal não podiamos meter as bicicletas no comboio e voltar para Lisboa, ao contrário do que nos tinham garantido na CP do Barreiro. E de como, nessa noite, as pessoas se afastavam de nós na rua com medo de sermos assaltantes.


Para que vos estou a contar tudo isto?

Tentem imaginar, 30 kg às costas, sem suporte nas bicicletas para levar malas. Uma páscoa como nunca vi, com tanto sol que já me custava andar na rua, quanto mais pedalar debaixo dele. 350 km - sim, porque as bicicletas não andam nas autoestradas. Estradas em mau estado, não como agora, que foram arranjadas...

Duas mudas de roupa, a contar com a que tinhamos no corpo. Sem colchões para dormir, era mesmo ali, corpinho contra as pedras bicudas. A comer Atum Ok (sim, a marca é mesmo esta: Atum Ok) com feijão frade e a beber litros de água (excepção para o frango e para os sumóis).

Chegámos a Lagos e eu tinha as duas t-shirts com buracos, rasgões... todos nós eramos pó, nódoas, arranhões, não sentiamos nada, e o que sentiamos doía-nos.

Não havia telemóveis. Havia uns gigantes, mas não tínhamos.
É só para que o pessoal perceba que não tem a noção das distâncias só por ter ido e vindo do algarve umas 500 vezes de carro. Não dá para ter noção. E é para terem também a percepção de que por mais que me chamem maluquinho, não vão entender nem a essência da coisa, nem a dificuldade que é.

Se custa tanto, porque é que vão outra vez? Podem perguntar isso.

Vamos porque... e é difícil de explicar isto, mas vou tentar... é uma enorme sensação de liberdade estar longe de casa, no meio do nada, só com a força do nosso próprio corpo. Sem depender de ajudas de carros de apoio, ajudas de telemóvel, ficar em pensões, comer refeiçõezinhas em restaurantes, e todos esses confortos.

Enquanto pedalamos pensamos em tudo. Temos muito mais tempo para reflectir sobre as nossas vidas, lembrarmo-nos de coisas que nunca lembrariamos no meio da cidade, nas nossas vidinhas normais. Talvez as pessoas que já fizeram os Caminhos de Santiago de Compostela possam ter uma compreensão desta parte. Mas... meus amigos, multipliquem por 3 o esforço. Sem querer tirar o mérito.

Naquela altura a viagem foi muito importante para nós dois, de tal maneira que ano após ano tentámos combinar repetir, sem êxito, devido à dificuldade de encontrar calendários compatíveis. Este ano surgiu a chance, embora tivessemos de fazer opções complicadas para podermos ter condições para ir.

Naquele ano tive de tomar decisões de mudança de vida radicais, e tenho a certeza que a viagem me ajudou a amadurecer ideias. E hoje estou certo de que tomei as melhores decisões.

Este ano também será de mudanças. Acabo o curso, tenho de estudar para um exame muito complicado em Novembro, e também há decisões a tomar. Conto com esta aventura para que me ajude, de novo, a tomar os caminhos certos, mas também para me reencontrar com quem eu era há 7 anos. Não há nada que eu conheça de mais poderoso do que uma viagem deste tipo, no esforço máximo, no sacrifício físico máximo, para retomar uma visão global de todas as coisas.
Uma nota para os dois totós que quiseram ir para Dakar de bicicleta. Tenho lido o blog deles, e se já tinha alguma desconfiança quando vi a reportagem da RTP na partida deles, agora ainda estou mais renitente.

Não quero de maneira nenhuma fazer-me superior, mas... há 7 anos, eu andava de bicicleta todos os dias, fazia 30 km diariamente. Jogava futebol 3 vezes por semana. Encontrava-me num pico de forma que nunca mais voltei a ter, e que, sinceramente, não via em mais ninguém à minha volta. Era um desportista autêntico, e quem me conhece pode assinar por baixo.

Fiz esta viagem, com 30 quilos às costas, é certo, mas ia mesmo em forma. Com uma bicicleta BTT, mas uma boa bicicleta BTT, bastante leve. Fui até Lagos, fiz 350 km, mais coisa menos coisa. E... meus amigos... nunca nada me custou tanto fisicamente. Custou-me pa caraças.

Antes de ter esta bicicleta, tive outras, do Continente e do Jumbo, baratinhas, que estoirei completamente nas minhas voltas diárias - e não foi a fazer downhill... foi só estrada. Rebentei a roda pedaleira, os pedais, o eixo da roda pedaleira, as jantes, os travões, até um quadro consegui partir.

E o que vejo são dois totós - desculpem lá mas eles têm cara de totós - com bicicletas dessas, a irem para o Dakar. E vejo em fotos, eles sempre a sorrir. Eles no deserto, de chinelos em cima da bicicleta. Eles, com a pele até bonitinha, sempre a sorrir! Eles a sair de Lisboa, com camisas e de calças, a pedalar em bicicletas que aquilo não tem ponta por onde se lhes pegue. E queixam-se de terem partido raios da bicicleta. Jovens, eu andei milhares de km e nunca parti um raio. Ah! E supostamente eles estavam super fora de forma e nunca tinham andado assim muito de bicicleta.
Quando fui a Lagos - e reparem, a distância não é comparável, fiquei todo FODIDO da pele. Caiu-me duas vezes em 6 dias. E eu não estive em África! Gostava de ter encontrado as fotos - sim, eu tirei fotos há 7 anos atrás, e não foram digitais - para poder provar umas coisas. Vou tornar a andar à procura delas.

Andar de bicicleta de chinelos não é uma opção. E calças? E as camisolas de malha com que eles aparecem, todos bonitos, nas fotos? Onde é que eles levam a tralha toda?

E mais... eu até consigo fazer 50 km de plano numa boa, mesmo em baixo de forma. No dia a seguir ando a coxear, com as pernas a parecerem troncos, mas consigo. Agora imaginar o dia a seguir, e depois, e depois e depois... indefinidamente até chegar ao destino... e aparecer a sorrir para a fotografia do blog? Jovens, a gente ao fim do dia nem falava um com o outro de tão descompensados que estávamos!
Queriam ir com 1000 euros até Dakar. Achei a ideia muito engraçada, mas... eu há 7 anos para ir até Lagos, exclusivamente pelos meus próprios recursos, gastei mais de 100 euros, e fui muito poupadinho. Fiquei em parques de campismo e comia enlatados (que levei, alguns deles! = mais peso às costas). Mas eles têm ajudas, ficam na casa de pessoal e tal, mas ... planearam ficar em pensões e jantar assim. 1000 euros? 1000 euros quase que não dá para sobreviver em casa dois meses, quanto mais ir para o Dakar de bicicleta. Nem à nossa maneira, quanto mais à deles!

Há aqui demasiadas coisas que não batem certo. E portanto, eu não acredito.

Mas, abro aqui uma dúvida razoável: se realmente for verdade e lhes estiver a custar pa caraças... dou a mão à palmatória. Só que aquele blog... parece que estão a passar férias num interrail.

Um dos maiores riscos que corremos é quando os camiões nos ultrapassam. Mas se vierem contra nós, eles é que vão capotar! Rijos!


Voltando à nossa viagem que começa amanhã: para vocês pode não significar nada, ou significar muito menos do que para nós. É verdade que existem riscos, mas eles estão minimizados. E o que pode acontecer é não chegarmos a Lagos. Estamos completamente em baixo de forma, estragadinhos pelo tabaco e pelo trabalho e estudo... e se agora parece mais fácil, estar a pensar nas dificuldades enquanto escrevo este texto... a verdade é que amanhã... vai custar pa caraças!

Quando voltar, talvez tenha algo para contar. Até ao meu regresso!

16 de abril de 2008

I might be Wrong IX - Não voltarei a ser... fiel



1 - MAC

Na fachada da maternidade, em vez de estar escrito Maternidade, podia estar escrito Hospício, hospital psiquiátrico, ou algo do género. Aquele traçado antigo não ficaria nada mal num filme como o "Voando sobre um ninho de cucos".Quando se entra lá dentro, as coisas não melhoram. Para começar, deram-me um cartão de estagiário, que ainda não sei para que serve, já que existem - supostamente - zonas interditas.
Depois de ter lá estado duas semanas a estagiar (e já estou a ser simpático com o verbo), estava eu às 8 e meia da manhã a abrir o cacifo com a chave que me deram, e que abro todos os dias, com o cartão na mão. Tencionava vestir a bata e preparar-me para mais umas horas de completa perda de tempo, quando um gigante de bata, com um ar algo oligofrénico, que vinha a passar no corredor, estaca e me dá dois "toquezinhos" com os dedos no ombro. "Não podes estar aqui!". Apeteceu-me dar-lhe uma chapada, mas tive a inconsciente lucidez de virar a mão para cima e mostrar o cartão, enquanto olhava para ele tentando não transparecer muita ira. "Ah... desculpe, Dr.".
Não. Eu havia de estar ali para quê? De certeza que havia partido o pescoço a alguém dali e roubado a chave de um cacifo, e agora ia furtar alguma coisa. Precisamente ali. Às 8 e meia da manhã. Ou não, eu estava ali para roubar bebés, com certeza. De dentro de cacifos.

O pessoal de lá é completamente doido e ilógico. Constroem portas de vidro - umas transparentes, outras translúcidas, mas que só impedem o acesso a determinadas áreas. Ainda por cima, algumas delas abrem-se se as empurrarmos um bocadinho de nada.Uma dessas áreas é o 2º piso, onde põem os cacifos dos estagiários. Agora sim, sinto-me muito mais seguro a deixar as minhas coisas no cacifo. Em vez de ter o meu dinheiro na conta do banco vou deixá-lo ali. Ah, mas espera. Existem dois outros caminhos pelo meio da maternidade, e que curiosamente até começam perto das salas de espera para consultas, ou seja, acessíveis ao público! Só falta porem uma pessoa em cada entrada da maternidade a distribuir flyers com um croqui a explicar como fazer para ir lá dar.

Para cúmulo, no primeiro piso estão as puérperas - e, portanto, os bebés. Podia entrar pela porta principal, dizer bom dia à segurança, elogiar-lhe o penteado, subir dois lanços de escada, virar à direita, entrar nos quartinhos sem as mamãs me verem, pegar num saquinho, roubar dois ou três putos, ir-me embora, passar para o outro lado do piso, ir desejar boa sorte às grávidas que ainda não pariram, voltar pelo mesmo caminho, perguntar à segurança se já lhe tinha dito que tinha um belo penteado, embalar os putos dentro do saco para pararem de chorar - ao que a segurança diria algo como: "tadinhos, devem estar com fome" - despedir-me e ir-me embora. E depois no dia a seguir vinha uma reportagem nos 4 canais sobre andarem malucos a roubar bebés na maternidade. A sério, sem medos. Não há portas magnéticas que vos impeçam! Go for it! O que é que pode correr mal?
Oh pá! Tomara eu não engravidar, com tantos estrogénios ali dentro! É as grávidas, é as enfermeiras, é as médicas. O ar lá dentro é amarelado!Em resumo: barra-se as portas aos estagiários, que estão lá para aprender e ser úteis no que lhes deixarem; mas se for para gamar bebés, acho que lá ninguém nos leva a mal. Se eu quisesse miúdos naturalizava-me francês, inscrevia-me numa associação humanitária e ia ao Chade! Ou então armava-me em Angelina Jolie ou em Madonna. Sempre viajava ao Vietname, Malawi, etc. Nunca iria acordar cedo e deslocar-me à maternidade.

A primeira vez que não percebi como funcionavam as portas, fui falar com as secretárias. "Então mas não lhe deram o cartão magnético?", "Não". "Ah, então não sei", "Mas eu sou estagiário, sou aluno do 6º ano...". "Não lhe posso abrir a porta. Mas olhe, vá ali pela escada e vire nas consultas e onde está um elevador torne a subir essas escadas até cá cima, e depois passa pelo meio do refeitório, e já vai dar aos cacifos".
Depois pensei: bom, vou passar pelo refeitório 10 vezes por dia, vindo das consultas de ginecologia, do bloco operatório, etc. Acho que deviam dar um prémio pela política de prevenção da contaminação naquela maternidade. O refeitório é, de facto, a pedra angular para os alunos da maternidade. Abundam os coffee brakes.

Adorava jogar paintball naquele edifício. É só passagens e passagenzinhas, com montes de obstáculos, pouca luz, elevadores. Ando ali perdido de bata e parece que estou a jogar ao Doom. Para ter acesso a determinada zona tenho que apanhar o cartão x, y, e k, carregar no botão h para abrir a porta, etc. É de gritos.Para ir ao bloco operatório é preciso ir vestido de forma própria. Pelos hospitais onde já passei, contíguo ao bloco existem balneários com muito vestuário de bloco operatório. Mas claro que ali tinha que ser diferente. "Olhe, desculpe, onde está a roupa?", "Não há. Vesti as últimas calças.", "E onde posso arranjar?", "Tem que ir às caves", Lá fui.
Nas caves há pouca luz, o estuque das paredes está todo rachado, ou então caído no chão. Há pó por todo o lado, algumas portas estão trancadas, outras não. Ouve-se o barulho de gotinhas a cair no chão - puoik... puoik... de resto, o silêncio domina. Ouvem-se os meus passos, crrsh, crrsh, no meio do entulho do chão. De rouparia, nem vê-la. De resto, ficaria muito surpreendido. Podiam-me aparecer ali zombies do Resident Evil (a sério, parece mesmo tirado do jogo) e caçadeiras no chão para apanhar e desatar ali aos tiros, que não só era mais divertido, como também era mais previsível do que descobrir ali a roupa do bloco operatório.Como não apareceu nenhum zombie para me limpar o cebo, resolvi vir-me embora.
Um bocado mais tarde, aconteceu-me o que não me acontecia desde os 14 anos: tive um ataque de asma. Parabéns, maternidade. Fumo pa caraças, ando exposto às intempéries, acampo, ando de bicicleta na primavera, estive em quase todos os hospitais de lisboa, e nunca mais tinha tido asma. Mas vocês conseguiram!

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2 - Status

Ando chateado. Não é que na generalidade as coisas corram mal, porque não correm.Quando andava no 3º ou no 4º ano, diziam "Ah e tal, andas em medicina, deves ser um crânio, vais ter uma profissão muito bonita, mui nobre, depois a ver se me arranjas umas receitas e umas consultas", ao que eu respondia que não é bem assim, que algumas das mais gigantescas pedras com olhos que conheço andam em medicina, e espero que nunca precises da minha ajuda porque é bom sinal, essas coisas circunstanciais que se grasnam nessas ocasiões.Agora, quando me chamam Dr... há alturas em que preferia que me chamassem filho da puta. A sério que preferia. Era mais humano, menos hipócrita. "O... doooutor... ainda precisa do processo da cama 50?", "Oh ... doutoooor... saia-me da frente que tenho que ir fazer a higiene ao doente da cama 50", "A culpa também é do ... doutoooor... de isto da saúde em portugal andar assim!". Acabou-se a beleza. Agora sou um cabrãozão como os outros todos, vou ser muito rico e comer à conta dos doentes. Deviam-me meter numa saca de serapilheira com pulseiras com correntes nas mãos e pés e jogar-me ao tejo. "Não gosto de médicos" - é o que dizem agora.

Voltando à MAC: acreditam que vou ao tal refeitório beber café, chego à registadora para o pré-pagamento, digo bom dia, simpático e sorridente, e ficam a olhar para mim com cara de asnas (sim, também são mulhereS) à espera que eu faça o meu pedido? À primeira ou segunda vez deixei escapar. Mas a partir daí digo bom dia e fico calado a olhar, na expectativa. Passados vários segundos de processamento, lá vem o "Diga, faxavor.", "Então já não disse? Bom dia!". Ou então: "Diga você primeiro", "Digo o quê?", "Bom dia".

A ver se na segunda semana já não começaram a dizer bom dia.

Também vejo que entre colegas as coisas estão muito diferentes. Muito mais individualismo, pouca ou nenhuma preocupação entre supostos amigos. Algumas vezes até parece que se sentem como se os tivessem jogado para um poço, e mandado um pau para se degladiarem até à morte. In the end, there can only be one. É uma pena, entristece-me. Vejo muitas pessoas a perderem a perspectiva global das coisas e do que é realmente importante. Ou então talvez seja eu que me estou a armar aqui em velho sábio, não sei. Pelo menos é o que sinto.
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3 - Mulheres

Depois de muito ter teorizado - e praticado, em boa verdade... - sobre mulheres, considero muito importante, mesmo muito importante, ter passado pela MAC para provar determinados pontos de vista e enriquecer a minha vivência. Já vi, vivi em primeira mão e ouvi em segunda mão, muitas coisas. E agora, nas consultas de obstetrícia já vi várias coisas interessantes. Vi mulheres a instalarem DIU's e calarem-se bem caladinhas para os maridos, que querem ter filhos. Vi outras a quererem fazer laqueação de trompas, porque os maridos pensaram em fazer vasectomias, e elas tinham medo de engravidar "por fora" e depois não poderem atribuir os filhos ao corno. Vi mulheres que descobriram que tinham DST's pelas análises, e chorarem quando se lhes dizia que tinham que trazer também os maridos para fazerem tratamento, "Mas eu não quero que ele saiba...".

Mas o melhor mesmo... foi quando a Dra, minha assistente, me disse uma frase marcante: "João, prepara-te. Tu vais ser sempre enganado". Não que eu não o soubesse já. Aliás, respondi-lhe sem pestanejar um "Eu sei". Mas ouvi-lo da boca de uma mulher!, jovem!, ginecologista!, é um outro nível de clarividência.

Tenho para mim que o maior mito, a maior mentira da humanidade, a maior vitória das mulheres, foi convencer os homens de que são mais inteligentes e têm o poder nas mãos. "Nem sabes a sorte que tens", dizem as mães aos filhos. Começa logo de tenra idade. Essa ideia vai-se inquinando, incrustando na cabeça dos rapazinhos, e fica para sempre.
Não pedia uma mãe como a de um colega meu, que sempre o avisou "Filho, olha que elas são todas umas putas". Mas quando me dizem naquelas conversas da treta que os homens são uns cabrões, ocorre-me imediatamente concordar, e acrescentar que as mulheres são umas cabras. Sim, porque eu gosto de partilhar a fama e as luzes da ribalta. Só acho que deviam ter vergonha na cara de se andarem a vitimizar por aí. Pensem lá bem se não andaram ou andam na podridão completa, e continuam a achar que só por serem mulheres podem acusar os homens. Vá lá, admitam. Vocês sabem que eu sei. Eu estava lá. Vocês sabem do que é que eu estou a falar.

Ocorreu-me, neste contexto, aquela estratégia clássica do homem que está com uma mulher pela primeira vez (ou não) e não o consegue "pôr em pé", e diz: "Não entendo, é a primeira vez que me acontece, desculpa". É sempre um bom escudo, protege-se o ego masculino desta forma.
Mas as mulheres têm uma estratégia semelhante para quando estão com homens pela primeira vez, e em circunstâncias pouco "lícitas" - "Que loucura, nunca me tinha acontecido isto". Desta maneira, protegem a sua honra feminina e reafirmam a sua não promiscuidade, ao mesmo tempo que fazem sentir ao homem que é tão especial que não resistiram.
Toda a gente fala na verdade e na sinceridade, mas cada vez mais acho que isso é tudo uma grande treta. O fair-play é uma treta. E para quem quiser vir comentar "ah, eu sou diferente", pergunte-se a si mesmo se vale a pena.
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4 - Resoluções

Quando ando um bocado chateado comigo mesmo, dá-me na cabeça de ter ideias para mudar coisas. E em tempos difíceis que se avizinham, com os relatórios do mestrado, o enclausuramento do estudo para o exame de acesso à especialidade, o próprio exame... creio que é mesmo uma altura indicada para tal.

Resolução A - Consulta de cessação tabágica

Não vale a pena enganar-me. Está na altura de parar de fumar. Devo ser das pessoas mais estúpidas nesse capítulo do fumar, por todas as razões. Descobri que lá na MAC a assistente de um colega meu faz essas consultas, e vou lá amanhã. Vamos ver no que é que dá. Esperem notícias em breve. Não se preocupem, se não conseguir eu conto. Mentir para quê?

Resolução B - Evasão de estímulos nocivos

Todos nós temos pessoas que nos picam o miolo de vez em quando. Pessoas que descobriram que não gostam tanto de nós como um dia nos disseram, mas mesmo assim de vez em quando lhes dá na cabeça para nos contactarem, como que para testarem a influência que têm em nós. Não sei se é por uma questão de alimentar o ego, ou se é porque se sentem em determinada altura sozinhas, ou têm esgares de recordações. Às vezes não fazem por mal, não têm consciência.Essas pessoas são como abcessos cerebrais, ali escondidinhos por detrás das nossas defesas, e que aparentemente esperam a altura certa em que estamos mais vulneráveis para extravasarem e nos provocarem uma recaída generalizada.Parece que essas pessoas não percebem que, se algum dia gostaram de nós, se nos respeitam, devem deixar-nos num canto, sossegados.Eu sou adepto do tempo e da distância. Eventualmente esses abcessos curam ou ficam fibrosados, e mais tarde as cicatrizes ficam bem rijinhas. E até pode ser que tornemos a ser amigos delas.

Resolução C - Campistas-ciclistas, parte 2

Dia 26, se o clima o permitir, vou reeditar aquilo que fiz há uns anos. Vou de bicicleta para bem longe daqui durante uns dias. A forma já não é a mesma de há 7 anos atrás, mas mesmo assim acho que sou capaz. Como até lá não vai haver mais posts, prometo fotos da aventura.

Adeuzinho e até ao meu regresso!