30 de outubro de 2009

Querer. Insistir. Não desistir.


Querer

Não podemos ter sempre o que queremos. Se os Rolling Stones falaram nisto mais de dez anos antes de eu nascer (daqui a pouco mais de 15 dias a música completa 41 anos) alguma razão devem ter.
Mas hoje um amigo meu disse-me uma frase tão atabalhoada e quase falaciosa e irreal, que me fez todo o sentido. Se calhar foi aquilo em que quis acreditar, e por isso, mesmo atabalhoado, o raciocínio pareceu-me lindíssimo.

Era algo como isto: não interessa o que os outros querem. O que interessa é o que tu queres. O que tu queres está ao teu alcance. E o teu querer pode mudar o querer dos outros.

Enfim... era qualquer coisa assim. E eu estou a esforçar-me por acreditar na ideia dele.


*
Insistir

Ontem comprei umas botas Cat® muito giras. E apesar de ter ido jogar à bola ontem e ter lixado os pés todos, achei uma excelente ideia ir hoje de manhã com elas calçadas. Andar um quilómetro a pé, a subir, até ao hospital, percorrer corredores, subir escadas, cirandar pela enfermaria... e depois, à saída, tornar a fazer o mesmo caminho.
O resultado: as botas comeram-me os calcanhares, literalmente.
Não contente com isso, bebi umas quantas minis e fui jogar à bola a seguir porque um amigo precisava de mim. Que se lixem os pés, o que é que pode correr mal?
Andei lá a correr que nem um maluco, a doer-me à bruta, mas não quis saber, insisti. Queria sentir a dor, ali, à rijo, para me fazer esquecer de outras dores. Como quem dá uma martelada no dedo para tentar esquecer uma dor de dentes. Corri o mais depressa que pude, chutei com toda a força que conseguia, até jogava a bola à Madjer e tudo. Até que deixou de doer e tinha as meias em sangue.

Cheguei a casa, mal conseguia andar. Mas o pior estava para vir. Quando a água do duche desceu pelo corpo, a arrastar o sal até aos calcanhares.

Coisas como estas esculpem o carácter de uma pessoa. Só pode.


*

Não desistir

Hoje desistiram de mim no trabalho. Há muito tempo que se vivia um clima de tensão de cortar à faca naquela sala de enfermaria, e por fim houve uma mudança. Já não sou orientado pela mesma pessoa. Estava a custar-me muito levar na cabeça todos os dias, sempre com reforços negativos, e ter de assentir como um autómato, sem questionar, sem discutir, sem ousar entrar em conflito. Estava a reprimir-me e isso levou-me perto da exaustão emocional.
O tempo foi passando e não sei para onde ele foi. Sei que sempre pensei que fosse eu a quebrar e solicitar uma mudança. Aliás, isso já me tinha sido sugerido. E acabei por não ser eu.
Cheguei lá hoje de manhã e a decisão já tinha sido praticamente tomada. Bastava eu dizer que concordava, que achava bem. E portanto, fui chamado à famigerada sala do director.
Como me foi explicado, isto não é muito diferente do futebol. Porque é que com o Quique não resultava e com o Jesus resulta? Eu respondi - motivação. Pois, mas não é só isso. As pessoas têm de encaixar. E às vezes não encaixam, e não pense que é o primeiro. E isto é trabalho de equipa. E eu estou aqui para detectar quando as coisas não correm bem e quando as pessoas não encaixam. E no seu caso detectei que havia um problema sério. Temos de encontrar o melhor espremedor para tirar o sumo que falta para encher o copo. Sim, disse eu. Mal sabe ele que eu comparo tudo o que vejo na vida e tudo o que me acontece com o futebol.

Podia ter algumas boas conversas com ele. E por ter sido franco comigo, confessei-lhe que a medicina interna não era o meu prato, que não era vocacionado para a especialidade, e só não usei o verbo odiar por pudor. Mas achei que ele mereceu a minha franqueza, e quero pensar que a apreciou.

Aquilo que aparentemente é uma derrota acaba por não o ser. Aguentei, aprendi (porque aprendi e aperfeiçoei muito algumas coisas com a minha former boss), mas nunca nada parecia ser suficiente ou motivador para continuar.
Quiseram tornar-me rápido e eficaz a ver doentes, a despachar as coisas depressa e bem, a lembrar-me de tudo como se já fizesse aquilo há bastante tempo. Eu sou lento, mas sei que estou a aprender, e se fizer as coisas devagar e com uma curva de aprendizagem longa um dia serei mais rápido.
Eu não sou uma máquina. Eu gosto de pessoas. Gosto de falar com elas. E decidi que, com 99% de certeza, não vou para uma especialidade médica - com enfermaria - não por causa dos doentes, mas por causa dos médicos que lá trabalham.
Foram sinceros comigo logo nas primeiras duas semanas quando me disseram que eu tinha que me tornar mau. Mas eu não quero, mesmo que para algumas pessoas isso seja sinónimo de incompetência ou insuficiência.

Eu quero muito ser feliz, seja lá o que isso for; não sei o que é, mas sei que o que não é é ser-se um frustrado emocional, com maneiras desajustadas de me relacionar com os outros.
Ainda faltam dois meses para sair dali. Mas como disse um outro amigo meu, o tempo está sempre a passar. Estás aqui a falar comigo e o tempo está a passar. Vais à casa de banho e o tempo está a passar. Vais ter duas semanas de férias, e alguns fins de semana, e o tempo continuará a passar. Estás a dormir e o tempo vai passando. Cada vez mais perto. Não sei do quê, não sei de onde, mas fora dali.

E às vezes... muitas vezes, até acabo por ter o que quero. E não quero desistir de nada do que desejo para mim.




"Não interessa o que os outros querem. O que interessa é o que tu queres. O que tu queres está ao teu alcance. E o teu querer pode mudar o querer dos outros.".




27 de outubro de 2009

Time, it takes time/To win back your love again/I will be there/I will be there



Premissa: eu não gosto de Scorpions.

Mas tenho de admitir que a música é um clássico já um bocado antigo, e talvez seja a que cumpre melhor o objectivo a que se propõe.
Fui beber café há bocado aqui à porta - antes que fechasse - já que preciso de estar acordado esta noite toda para trabalhar. Como estou aqui a escrever no blog, dá para perceber que ainda não produzi grande coisa.

Cheguei lá, e estavam a dar na tv, repetidamente até à exaustão, a meia dúzia de golos do Benfica. Mas a tv estava sem som, e na pastelaria ouvia-se esta música, com o empregado a assobiar a melodia.
Já conhecia a música, obviamente, mas nunca tinha prestado atenção à letra. Foi hoje.
É piegas? É.
É pirosinha? É, pois.




Mas fiquei a gostar mais dela...

25 de outubro de 2009

Fake Plastic Trees



And it wears me out, it wears me out
It wears me out, it wears me out

And if I could be who you wanted
If I could be who you wanted
All the time, all the time...



Uma das minhas músicas preferidas. Em alguns dias, a melhor do mundo...

Live fast, die stupid ®

Cervejas a meio da tarde de domingo, vendo as taínhas à babugem lá em baixo na água a fazer companhia aos barcos. O céu abriu por um bocado e fez-se luz e calor. Calmaria à beira do abismo.

*

Enfermeira (simpática, comunicativa, talvez pouco mais velha que eu, mais baixinha, bolinha, com ar de gozo) - Oh rapaz, vem cá ver como é que deixaste a doente!

Eu (espantado) - Então?

Enfermeira (puxando pela minha bata pelo corredor fora, como se faz aos cães quando mijam fora do sítio certo) - Vem cá ver!

(a doente a quem tinha acabado de tirar sangue estava com uma luva, uma agulha e uma seringa, ainda embaladas, mesmo em cima da barriga, dormindo profundamente)

Eu - Mas eu colhi o sangue, não usei luvas, e deitei fora o material! Não sei quem trouxe isto para aqui! E a colega com quem vim aqui também não trouxe esse material, porque fui eu que trouxe... e eu nem trouxe luvas...

Enfermeira - Olha rapaz, eu é que não fui de certeza! E já viste que isto depois pode cair para debaixo da doente e ela ficar deitada por cima, e pode fazer feridas?

Eu - Tens toda a razão... garanto que não fui eu, mas eu arrumo! (arrumei o material no bolso da bata, e dei o braço a torcer para não prolongar a disputa). Sabes, estive aqui a ensinar uma colega do 6º ano a colher sangue, e se calhar não tive toda a atenção que devia... (faço ar malandro e pisco o olho, talvez cole).

Enfermeira - Ah, Dr., não podes perder a atenção no teu local de trabalho, os doentes estão primeiro! (ri-se, e depois fala mais baixinho) Mas vou olhar melhor para essa colega a ver se é assim tão gira...!

Eu - Por acaso até acho gira, mas estava a brincar. Ela é pequenina ...

Enfermeira - Pequenina?

Eu - Sim, é novinha ...

Enfermeira - Novinha? Deve ter uns 23! Que idade tens?

Eu - Que idade tenho!? (rio-me) Que idade tenho eu?

Enfermeira - Uns 24.

Eu - Pois... não tenho 24, estou mais perto dos 34. Tenho 30.

Enfermeira - Com essa cara de puto?! Com essa cara de puto?!

Eu - Pois... mas é verdade. Queres que prove? (tiro a carteira do bolso da bata, preparo-me para tirar o BI).

Enfermeira - Com essa cara de puto? Não, não é preciso! Com essa cara de puto?!

Enfermeira (que afinal não é pouco mais velha que eu) - Pois, vocês acham que nós somos mais velhas que vocês mas eu tenho 25.

22 de outubro de 2009

Half light


Hold me please
Stay with me
And I will sleep

Hoje de manhã fui surpreendido pelo sol. Como saio de casa muito cedo, deu para vê-lo a nascer, e não só é sempre bonito como também uma boa notícia: não vou percorrer um km a pé para o hospital debaixo de chuva.
Antes de sair de casa passei um creminho na cara barbeada e vesti a minha camisa mais gira. Pus um pouco do perfume que a let, minha eterna madrinha, diz que é irresistível. Tudo para moralizar, é sempre bom manter o bom aspecto por fora, mesmo que nos sintamos uma treta por dentro. Ninguém tem paciência para pessoal com cara triste e mal amanhado.

Entro na enfermaria, e lá vem a enfermeira-chefe, que por acaso é simpática e me ajuda bastante.
"Bom dia, doutor! Ah! Fica tão melhor com barba, doutor!".

So much for the good intentions.

21 de outubro de 2009

Meio cheio?



You have no interest in the past
Where you came from
Where you're going to

Desde que me lembro de existir que teimo em queimar etapas no modelo descrito em 5 etapas por Kluber-Ross: viajo directamente para a quarta, mas fico lá estacionado indefinidamente, e quando dou por mim já os outros viram a bandeira em xadrez, banharam-se com champagne no pódio, e já correm em outras pistas. Mas vou esforçar-me por tentar ser positivo, descrevendo as coisas boas dos últimos dois dias.


1. Não sei o que se passou, mas esta noite eu só via era macas e cadeiras de rodas com doentes a entrar naquela sala. Custa-me manter-me enérgico, activo, e fazer as coisas em tempo útil. Isso custa-me. Mas dou graças por não me custar absolutamente nada falar com os doentes, perder algum tempo a ouvir o que eles acham que é importante contar... alguns deles agradeceram-me a atenção, perguntaram-me o nome, tornaram a agradecer, e ... talvez até se tenham ido embora mais depressa e mais satisfeitos. Pelo menos gosto de pensar que sim.
Nem sempre é possível aplicar esse tempo com tanto doente a entrar e a precisar de ser visto. Mas quando é... e quando se consegue falar de igual para igual com eles, com calma, com educação e com atenção, e às vezes até com boa disposição (...) garanto-vos que eles (e "eles" podem ser eu, tu, nós, vós) vão perceber se estamos a lidar com eles com sinceridade de sentimentos, ou numa tentativa forçada de criar empatia. Se for tudo treta o resultado não é o mesmo. Falarei nisto um dia em mais detalhe ...
Quando entrei naquela sala estava lá uma senhora já entradota deitada numa maca, com o filho. Análises, Rx, sinais vitais, tudo bastante mauzinho (como avaliei mais tarde). Mas a senhora estava bem disposta. Perguntou-me logo se era eu que a ia picar outra vez. Eu fiquei a olhar para ela surpreendido e disse logo que não sabia! Tinha acabado de chegar! E até me consegui rir...
Quase no fim do banco (eu disse que só ia falar de coisas boas) disse que tinha que a internar, e portanto ela ia ficar ali connosco. Não gostou muito, obviamente.
Depois disse que tinha que a picar, porque já tinham tentado diversas vezes colher um bocadinho de sangue e não tinham conseguido, Vê? Bem disse que me vinha picar e não acreditou!, Pois, eu não sabia, mas realmente tem razão, eu também preferia não a picar, mas isto é importante... piquei. E tive sorte que não lhe doeu, e apesar do punho inchado como tudo e um pulso fininho que só se sentia lá no fundo... consegui à primeira. Foi mesmo sorte.
Doeu muito, X? (trato por você, mas não uso senhora ou senhor; dei-me conta que a maior parte das pessoas acaba por preferir, e eu também prefiro...). "Não. Doeu muito mais aquilo que me disse...".

Mais um bocado, dispo a bata, vou-me embora, acabou o banco. Então Dr., onde é que vai? Oh X, agora vou dormir, já estou um bocadinho cansado, também precisava de uma maca! Dr., queria-lhe agradecer a atenção - pegou-me na mão com a mão do acesso venoso - é um rapaz muito educado, atencioso, e tem bom coração. E vai ser muito feliz, tenho a certeza!


2. Voltei a casa, eram 9 da manhã. Mas mesmo antes de chegar, estavam os carros todos parados na saída da A5 para Queijas, no fim da subida, na curva. E eu ia meio distraído a pensar na vida, e o piso estava molhado, não ia nada depressa (quando vou cansado apetece-me sempre conduzir devagar) mas devia ter travado mais cedo. Travei, o carro derrapou, deus ajudou, tirei o pé do travão, uma abaixo, desviei do carro à frente, travei, derrapou, fiquei entre o carro e o rail do lado direito. Não sei como fiz, ou porque é que correu bem. Queixo-me, queixo-me, mas até tenho sorte às vezes. Já é a segunda vez que falo de sorte.


3. Eu durmo num daqueles gavetões que se puxam de debaixo de outra cama, e antes de ir para o banco às 20h consegui dormir um bocadinho em casa. E deixei a cama puxada para fora. Claro que quando voltei às 9 e picos da manhã, estava lá a minha cadela a dormir. É como apostar que o sol vai nascer de manhã.
Vinha cheio de frio e muito cansado, ela percebeu e cedeu-me o lugar do qual se tinha apoderado sem eu dizer nada, e eu enfiei-me debaixo do edredon... estava tão quentinha, mas tão quentinha a cama... há muito tempo que não tinha uma sensação física tão boa.

4. Agora às 21h não me apetecia nada jogar à bola, mas eu prometo e não gosto de deixar ficar mal o pessoal. Já me tinha esquecido de como é bom jogar à chuva. Choveu-me o oceano pacífico em cima. Não lava lá muito o corpo, mas lava um bocadinho a alma...




19 de outubro de 2009

O mundo está perdido

Tenho andado triste e vulnerável nos últimos dias. Não interessa esmiuçar - esta palavra está na moda - o porquê, até porque acho que é uma mistura de status quo com acontecimentos agudos.
E quando estou assim às vezes faço coisas muito diferentes e estranhas. Ontem deu-me na cabeça de visitar um site que provavelmente foi o primeiro que alguma vez visitei quando comecei a ir à net. É um site português, dos poucos que havia na altura, e dava para construir lá páginas pessoais, ler notícias, servia como motor de busca... sei lá, imensas coisas.

Mas agora é um site de encontros.

Podem inscrever-se para amizade, para relações sérias, para sair à noite, para sexo, o que quiserem, e depois vasculham perfis, um bocado tipo hi5, mas muito mais directo à questão.
Andei lá a ver perfis de miúdas giras, e aquilo tem lá uma opção só para enviar um beijo, sem dizer mais nada.
Apeteceu-me atrofiar com aquilo, e mandei essa cena a umas quantas.
Agora cheguei a casa, e vi com surpresa que uma delas tinha respondido. Curtam a resposta:

"u meti-me nuns problemas com um cartao de credito nao me renovaram contracta do trabalho e eu nao tive como pagar mais e ja me estao a ameaçar podes me emprestar 1000 ou mesmo so 500 euros eu prometo pagar te t".

Já no outro dia, numa pausa, estava a comer um croquete numa ruela do hospital. Aparecem-me duas raparigas que deviam ter a mesma idade que eu, mas bastante mais estragadas. Uma delas vira-se para mim e diz:

"Olha, tu és muito giro, a sério, tens mesmo bom ar, achas que me podes dar um euro ou 50 cêntimos, tipo para eu beber uma cocacola?".

Fiquei tão estúpido com aquela abordagem que joguei a mão ao bolso (sabia que tinha umas moedecas poucas) e dei-lhas, somavam ao todo uns 40 cêntimos. E ela:

"Ah, obrigado, mas olha, a sério, estava a falar verdade, és bem giro, obrigado, adeus.".

18 de outubro de 2009

Remember me lover



It's so hard to get along, I always know what you're going to say


Grande música do novo álbum The Incident, dos Porcupine Tree. Os senhores vêm cá, ao Incrível Almadense, no dia 20 de Novembro, e eu vou lá estar de certeza...

Remember me lover... este título faz-me pensar ainda mais em coisas que tenho pensado nos últimos tempos. Há coisas que parecem ser tão intensas para as pessoas que estão connosco em determinado momento que parece que vão durar para sempre, e depois estas parecem esquecer-se daquelas como que por magia. Muitas vezes sinto-me amaldiçoado por ter memória. Provavelmente sou eu que estou mal...
Já perdi a esperança de ser lembrado.

17 de outubro de 2009

Ganido



Banco às 8h da manhã de sábado. Só me apetece ganir. Eu é que devia estar internado a soro.
Quando eu tinha para aí 10 anos acordava às 7 da manhã para ver os desenhos animados - o turbo teen, o adolescente que se transformava num carro desportivo vermelho (aquilo é que era imaginação!). Mais crescidinho, passei a acordar a essa hora para jogar à bola. Na verdade ainda não ganhei muito juízo nesse pormenor dos jogos da bola de manhã cedo ao fim de semana, mas já vou cedendo à preguiça, por muito que goste de futebol.
Mas acordar às 7 e pegar no carro para ir trabalhar, e ser o único na autoestrada, e ainda nem há sol... faz sentir que sou a única pessoa no planeta que não está no quentinho. Eu sei que não é verdade, mas bolas, às vezes tenho que dar uma de castigador :P

"STP, o monge copista"

Curto o pormenor da t-shirt. Se fosse de propósito não conseguia (foto tirada de surpresa pelo freitas, meu colega de enfermaria).

14 de outubro de 2009

News


Gostava que me fosse mais fácil escrever, tal como era até há um ano e tal atrás. Agora chego a casa e apetece-me é ouvir música, ver séries sacadas da net, e dormir. Dormir muito. Acho que nunca gostei tanto da minha cama como agora!

Têm acontecido imensas coisas, e eu tinha a mania de escrever aqui tudo. Agora falta-me o fio de jogo. Parece que não acerto dois passes seguidos, faltam as palavras para contar as minhas histórias e os acontecimentos. Tenho muita pena que assim seja. Acho que faz parte do processo de "becoming a man" como diz um amigo meu. Um tipo agora trabalha, preocupa-se com outras coisas, e já não tem paciência para vir ao msn nem para contar o que acontece com ele.

Bem, mas vou tentar contar alguma coisa.
Agora estou numa enfermaria de medicina interna - de volta ao hospital - com um banquinho por semana. A parte dos bancos até se tem feito mais ou menos bem. Só tem aquela parte chata de ficar às vezes noites sem dormir, e depois fica-se desregulado de sonos. Há anos atrás não me custava fazer directas, mas agora custa muito ficar sem essas horas de sono.
Mas o trabalho propriamente dito nos bancos até é engraçado. O problema é a enfermaria.
Não que tenha havido imenso para fazer. Há dias que são piores que outros. O problema é que eu não sou feito para medicina interna. Odeio a enfermaria, odeio os internistas, odeio o ambiente de trabalho... odeio com todas as forças do meu ser.
Isto já vem de 3 anos a esta parte, porque no 4º, 5º e 6º ano os estágios de medicina foram os únicos que correram desta maneira.
Não gosto da forma como as pessoas se dão profissionalmente, não gosto da forma como se chateiam e se lixam umas às outras e se esfaqueiam nos costados à grande e depois vão almoçar umas com as outras (quando almoçam!) ou combinam jantares de serviço como se nada fosse.
Em suma: não estou nada motivado para estar ali, não tenho nada a ver com os internistas nem com a medicina interna, coisa que já sabia, mas que tem sido reforçada nos últimos tempos.
Não é que não lhes reconheça grande importância, valor, qualidades, etc. A verdade é que reconheço, e se calhar por isso mesmo acho que não pertenço ao meio.
Eu gosto imenso de estar com os doentes, falar com eles, cuidar deles - embora ainda não saiba nem metade do que é "suficiente", e a minha tutora relembra-me isso todos os dias - mas se antes já tinha, agora reafirmo a minha certeza de que nunca me apanhariam na especialidade de medicina interna para o resto da vida.
Eu adoro medicina, mas também gosto de muitas outras coisas que não têm directa e nem sequer indirectamente a ver com medicina. E nesta especialidade uma pessoa tem de se comprometer demasiado com o trabalho, o local de trabalho, os colegas de trabalho, o ambiente de trabalho...

Uma das coisas que me disseram ali é que eu tinha de passar a ser mau. Não vou explicar o contexto em que foi, mas era sobre o modo como me relaciono com os colegas. Fez-me pensar... e pelo contrário, fiquei convencido que gosto mais de mim da maneira como sou do que a maneira como vejo que as outras pessoas são/estão/se tornaram.
Bem sei que já vão dizer que as regras são diferentes no trabalho e que eu sou um menino, e que as coisas são sempre assim e não só onde eu estou agora. São capazes de ter razão. Mas eu vejo uma diferença entre estas pessoas e as das outras especialidades. Devem saber mais de medicina do que ninguém, mas não é só isso que conta para mim.

Acho que é preciso ser-se especial para se ser internista, ou então é preciso tornarmo-nos especiais. E eu não sou esse especial, nem me quero tornar. Só tenho uma vida. Se tivesse duas, talvez visse a coisa de maneira diferente.


Aquele ambiente tira-me energia e vontade de fazer outras coisas. Estou há imenso tempo para comentar o texto do meu amigo pedro que tem estado aqui no blog abandonado há imenso tempo, sei o que lhe quero dizer, mas as palavras não saem!

Também quero lamentar o facto de ultimamente não andar a dizer nada aos amigos nem a passar muito tempo com eles, nem dar-lhes notícias. Eles sabem que eu não costumo ser assim.
Espero que seja só uma fase e que passe bem depressa!