30 de outubro de 2010

Sobre os contos peregrinos

     Já tive oportunidade de partilhar com alguns amigos, e também aqui no blog, a minha admiração por Gabriel García Márquez. Um dos livros que escreveu, e que li pela primeira vez há alguns anos, é um conjunto de contos - Doze Contos Peregrinos - que, definindo de forma completamente redutora, retratam episódios da vida de pessoas latino-americanas residentes em cidades europeias.
     Há mais de ano e meio, comprei um exemplar para oferecer. Mas há relativamente pouco tempo, tentei fazê-lo novamente e não consegui. O livro não se encontra aos pontapés por aí, por isso é possível que tenha de se encomendar.
     O Gabito começa com um prólogo em que explica de forma fascinante como é que os contos surgiram, foram abandonados, perdidos, reescritos, seleccionados, e, finalmente, publicados; apresenta também algumas reflexões interessantes sobre o processo criativo subjacente à escrita. Não pensem que são muitas páginas, é só meia dúzia delas. E essa é apenas uma introdução de ouro para os contos que se seguem no livro. Deixo aqui um bocadinho do prólogo, para quem quiser ir à procura ...

     « (...) Foi uma rara experiência criativa que merece ser explicada, nem que seja para as crianças que querem ser escritores quando forem grandes saberem desde agora como é insaciável e abrasivo o vício de escrever. A primeira ideia ocorreu-me no começo da década de setenta, a propósito de um sonho esclarecedor que tive depois de estar há cinco anos morando em Barcelona. Sonhei que assistia ao meu próprio enterro, a pé, caminhando entre um grupo de amigos vestidos de luto solene, mas num clima de festa. Todos parecíamos felizes por estarmos juntos. E eu mais que ninguém, por aquela grata oportunidade que a morte me dava de estar com meus amigos da América Latina, os mais antigos, os mais queridos, os que eu não via fazia tempo. Ao final da cerimónia, quando começaram a ir embora, tentei acompanhá–los, mas um deles fez-me ver com uma severidade terminante que, para mim, a festa havia acabado. "Tu és o único que não pode ir embora", disse-me. Só então compreendi que morrer é não estar nunca mais com os amigos. Não sei porquê, interpretei aquele sonho exemplar como uma tomada de consciência da minha identidade, e pensei que era um bom ponto de partida para escrever sobre as coisas estranhas que acontecem aos latino–americanos na Europa. (...) seis dos dezoito temas foram parar ao cesto de papéis, e entre eles o do meu funeral, pois nunca consegui que fosse uma farra como a do sonho.».

In Doze Contos Peregrinos, Gabriel García Márquez

15 de junho de 2010

Crónica de uma noite


Gostava de caminhar à noite pelas ruas desalmadas, deixando-se envolver pelo zumbido das luzes das montras das lojas encerradas. A noite dá descanso às pessoas normais e cria espaço para que os sentidos se concentrem nos pormenores mais ínfimos que sempre ali estiveram, embora esmagados pela vida citadina diurna; consiste, por assim dizer, numa longa inspiração profunda, como que uma purga sem a qual não pode explodir o dia seguinte. Pelo menos, era assim que ele pensava.
Sentia o cheiro a alfarroba das correntes de ar tépido que percorriam preguiçosamente as avenidas e lhe massajavam as maçãs do rosto, entrando-lhe pelas narinas e incendiando-lhe aos poucos o peito, como quem aviva um braseiro adormecido com um leve soprar.
Aquela serenidade fazia com que se sentisse mais vivo e mais consciente de si mesmo, ao mesmo tempo em que quase toda a população da cidade ensaiava a própria morte àquelas horas tardias. Era Verão e não havia vivalma.
Uma das coisas boas da madrugada é que - julgava-o ele - podia ter certeza de que ninguém estava a pensar nele, podendo assim ocupar-se disso mesmo sem receio de ocupar o lugar de alguém.
Não ficaria, contudo, sozinho por muito tempo naquela noite.
Por questões logísticas, de horário, ou por outra razão qualquer, tinha combinado encontrar-se com ela por volta daquela hora, o que, bem entendido, não era costume. Logo a achou, aguardando por ele, a fazer de sentada numa precária vedação de jardim.
Não disse nada. Abraçou-a, e percorreu com mãos de pura saudade o seu vestido azul, como que certificando-se de que eram aquelas as formas que tão bem conhecia.
Pediu-lhe que se acalmasse; que ali não era o local; e juntou, com olhar cúmplice, que era preciso tratar das "precauções".
Caminhou com a mão dela na sua, enfrentando de peito incandescente a brisa de tom doce-alfarroba, contando os passos, medindo os espaços para pisar apenas as pedras pretas da calçada.
Lá ao fundo, na avenida perpendicular, voa um taxi durante meio segundo entre os dois prédios de esquina. Um homenzinho careca e atarracado carrega caixotes de fruta de dentro de uma ferrugenta Bedford enquanto pragueja em transmontano. O vestido dela é agora azul mar, atingido pela luz verde do símbolo da farmácia.
Perguntou-lhe por moedas. Que não tinha, abanou, que só tinha podido sair de casa com o que lhe cobria o corpo.
Enquanto arranhava os bolsos, olhava para ela com aquele olhar de quem finge estar preso no infinito, a olhar para, mas a ver através de, com o pensamento noutra galáxia distante. De resto, era a melhor forma que tinha desenvolvido para poder fitá-la por longos momentos sem a intimidar, sem que lhe fugisse com os olhos. E foi nos olhos cor de mel que reparou primeiro, devagar, trespassados pelo verde-cruz-de-farmácia. Como se não estivesse já apaixonado por ela, ficá-lo-ia naquele preciso conjunto de coordenadas espaço-tempo.
E aquele vestido, tão simples e leve! sublinhava-lhe as formas até meio da coxa, como um presente que antes de recebido já se sabe o que é por fora, e mesmo assim surpreende sempre de tão bom que é quando desembrulhado.
Encontrou uma única moeda de duzentos escudos por entre a tralha de um dos bolsos das jeans gastas. Voilá!
Precipitaram-se para a caixa azul pregada ao lado da porta da farmácia, e juntos inseriram a chapita dourada e cromada na ranhura. Pressionaram o botão uma primeira vez, depois outra, várias vezes. A máquina não respondeu.
Irritada, esmurrou o botão de retorno, mas as entranhas da máquina responderam com um ganido metálico, e não devolveram a moeda.
Foda-se, foda-se, foda-se! E agora?, E agora nada, disse ela, com a simplicidade tão própria dos acontecimentos óbvios e irremediáveis.
*
O hálito doce a alfarroba era agora substituido aos poucos pelo cheiro viçoso dos jardins regados, que lhe embebia sonolentamente as cinzas no peito; os pássaros gritavam já nas copas do arvoredo onde reinavam, e não tardaria muito para que o céu clareasse; tudo isto acontecia e lhe era dado a ele que, surdo de sentidos, apressava agora o andar sem contar os passos e sem medir os espaços, calcando a eito as pedras escuras e claras da calçada daquela avenida para não perder o autocarro por causa de um capricho estúpido.
As montras calaram o zumbido das suas luzes, e os carros já sulcavam novamente o asfalto das ruas. Tinha terminado a purga num último sopro de expiração, e já explodia um outro dia qualquer.

27 de maio de 2010

Figura de corpo ausente

Chego e pouso o casaco. Este tempo em que não está calor nem frio é uma complicação, ainda por cima odeio andar com coisas na mão e muitas vezes aguento o casaco, mesmo com calor. Cumprimento quem está na sala, avisando desde logo pelo silêncio do cumprimento, que não me apetece falar. O difícil é que fui chamado aqui para falar. Estou aqui para resolver esta situação. As partes parecem não se entender e depositaram uma estranha esperança em mim.
Quando me convocaram tentei perceber por um lado o porque da escolha e por outro tentar reverter esta convocatória. Sem resultado, quem toma estas decisões não aceita não como resposta.
Havia uma cadeira colocada estrategicamente entre as partes que deduzi ser para mim, pois além de estar onde estava, era a única vazia. Estava assim no centro da sala, a ser olhado de baixo meio de viés. Este contexto faz-me sentar sem tirar o casaco da cadeira, assumindo uma posição desconfortável, até cómica, em outra situação claro.
Uma das partes introduziu o problema, enquadrou a situação, pôs-me ao corrente e rematou com a ideia que nenhuma das partes concordava inteiramente que fosse eu o melhor intermediário, era assim como a escolha menos má. Pelo menos já sabia porque ali estava, devia-o à qualidade de ser o menos mau entre as duas partes, um sem terra.
A outra parte, acena, agradecendo no entanto a minha presença, apontando para uma taça com alguns bombons. Num segundo olhar lá vejo uns quantos bombons semelhantes a abafadores partidos ao meio, embrulhados na mais ordinária prata colorida. Lembraram-se de mim.
Estávamos nisto quando as partes se calam e esperam que eu faça o que estava ali para fazer. Tinha o casaco enrolado nas costas da cadeira, o que fazia com que tivesse-me sentado muito à ponta, e a posição não era a melhor. Bem, comecei, não me parece uma situação fácil. Pedi dados complementares, estava pelo menos a passar a bola para o outro lado, e enquanto o pau vai e vem, folgam as costas. O problema é que este ir e vir do pau foi curto e logo as costas encaixam outra vergastada. Carambas, isto é que estava ali um imbróglio.
O problema no fundo era de resolução simples, não fosse uma das partes de uma tirania já quase em desuso, fazendo uso da hierarquia e da experiência que não conhecimento, e a outra parte, habituada a não combater gumes com punhos, por artes e manhas, tentava que a cobra morresse com o próprio veneno.
Era fácil, cada um assume o papel, avançamos com isto, que eu tenho de me ir embora, estou mal sentado e ainda não recuperei nem o folgo nem a cor por ter subido vários andares encasacado.
Não podendo resolver a contenda sem apelar ao protocolo, a este apelei. Cada uma das partes teve o momento do admito que errei aqui mas só o fiz porque alguém errou ali. Não foi possível chegar a lado nenhum.

“Adeus tristeza até depois,
Chamo-te triste por saber que entre os dois
Não há mais nada para fazer ou conversar,
Chegou a hora de acabar”

11 de maio de 2010

O meu Deus é um gajo porreiro

Como hoje estou de mal com o mundo, e por ocasião da visita do Bento 16, não queria perder a oportunidade de falar sobre o meu Deus. Vamos por partes.

A primeira parte é que me estou a borrifar para a vinda do Papa. Ou melhor, estou contra. Estou contra terem fechado quase todos os acessos para eu sair de Lisboa depois de um banco, e nenhum dos polícias me conseguiu dar uma indicação sobre como sair. Estou contra não terem feito apenas um percurso para o papa, e deixado os restantes abertos. Nem que tivessem de pôr um polícia em cada ramal de acesso a esse percurso. Afinal de contas, não eram 88000 polícias os destacados para a segurança?
Estou também contra a quantidade de dinheiro que se gastou nesta brincadeira. De cada vez que os nossos quatro f16 levantam vôo, são córenta mil aéreos que vão ao ar. Só porque sim. Nem era necessário, mas ... como podemos! Já para não falar no gasóleo que não sei quantos carros gastaram a dar voltas a tentar sair de lisboa. E resta saber qual é o cachet do papa. É que disso é que ninguém fala.

Tenho vergonha de viver num país que é (constitucionalmente, pelo menos) laico, mas em que 88% da população se diz católica. São muito católicos são.

O que me irrita mais é certos bacaninhos que andam com crucifixos no carro, e andam na faixa da esquerda a 20. Devem pensar: Deus ajudar-me-á a não ter acidentes pois que eu tenho uma cruz de pechisbeque pendurada no espelho retrovisor, e isso faz toda a diferença. Nem que por cada acidente que não tenham, provoquem três. E se alguém faz sinais de luzes metem a manápula de fora assim a fazer um gesto "passa por cima!".

Mas também não me irrita menos aquelas ideias do "ah, se ganhar o euromilhões, prometo que vou a pé para fátima!" ou "que deus te dê no dobro aquilo que me desejas a mim".

Saramago tem toda a razão. A concepção católica de Deus é egoísta, vingativa, interesseira. Eu já pensava isto, e só tenho pena que grande parte das pessoas não o leve a sério e pare para mensar um pouco.

O meu Deus é um gajo porreiro. Não precisa que cortem avenidas, ou que se mandem levantar aviões com o último fuel disponível para o resto do ano. Não precisa de representantes na terra, porque o melhor representante sou eu (e mais quem acreditar nele). E portanto não precisa de 80000 polícias a protegerem não se sabe bem de que ameaças. É verdade que também não precisa que se criem tolerâncias de ponto, mas por outro lado talvez me ensine a usar melhor o tempo livre em vez de fingir que rezo em voz alta para me mostrar o mais temente possível, ou de ir a fátima e obrigar não sei quantos enfermeiros a lavarem-me os pés porque como sou muito temente decidi ir descalço ou de galochas. Mas ei! Levei um ramo que parti ali de uma figueira ao pé de casa a fazer de cajado a imitar o Moisés!

Epá, respeito as peregrinações mas causam-me reboliço nos intestinos.

E depois aquela moda de lhe chamarem santo padre... é outra coisa que me deixa mareado. Santo padre porquê? Por ser o sumo pontífice dos chulos ?

Se as minhas avós vissem este texto ficariam profundamente desapontadas comigo. A verdade é que elas rezam muito por mim para que tudo me corra bem, e uma delas provavelmente até comprou flores e um poster do papa para meter na janela. E eu gosto que rezem por mim.

Vou-vos contar um segredo: estou com estas merdas, mas a verdade é que também eu por duas vezes na vida estive tão desesperado que já rezei. Uma delas, foi numa catedral em Milão, e a verdade é que as minhas preces foram ouvidas. Não sei por quem, mas foram.
E às vezes oro para dentro para o meu Deus, falo com ele, e faz-me sentir melhor.
Quanto mais vivo, vivencio, ouço, vejo, sinto, estudo... mais me convenço de que as coisas são tão complexas que é difícil imaginar que tudo se originou a partir de simples regras da física e da química que tanto amo e com as quais trabalho. Mas da maneira como as religiões contam a história é que tenho para mim que NÃO FOI! Não me venham com tangas.
O meu Deus ouve-me mesmo estando eu calado. Não preciso de dizer améns e comer óstias e andar de joelhos e rezar bxx bxx bxx bxx só para as outras pessoas perceberem que estou a rezar. E se ele tem alguma influência no meu destino, provavelmente é para me mostrar que não devia ter seguido determinado caminho e para aprender com o erro. Não é para me castigar.

Se Deus existe, então escolho que seja um gajo porreiro. Ou uma gaja. Mas isso também duvido. Muito. Mas isso são outros Carnavais.

Quanto ao papa, que se vá embora o mais depressa possível. O bafio do vaticano precisa dele como de pão para a boca.


PS - não quero ofender ninguém. Se o fiz... estão autorizados a não rezar por mim.

12 de abril de 2010

Mas... e então?



Que me desculpe se houver alguém que costume ler o Valdispert e fica desapontado com tanto tempo de ausência.

Queria dizer-vos que ... às vezes está tudo bem, ando embrenhado nas coisas que me tiram energia, nos braços dos amigos, no trabalho,

nas coisas que gosto de fazer...
nas coisas que descubro que gosto de fazer...
nas coisas que aprendo a gostar de fazer ...

E esqueço-me de que se calhar ser feliz é isto. É estar sereno como um sol de fim de tarde a afastar as folhas das copas das árvores e a bater em campos pejados de tremocilhas.

Estive a pensar nisto hoje e realmente é verdade. Já sabia há muito tempo que quando ando mais em baixo escrevo muito mais. Talvez o que nunca me tivesse atingido de forma tão forte fosse a consciência de que ando bem disposto e não me importava nada de continuar exactamente como estou agora. Um montezinho ali e um valezinho acolá, mas sem grandes tsunamis.

Talvez fuja de potenciais problemas com a mesma perícia com que fujo de potenciais emoções fortes, mas... e então?

Já alguém o disse mas eu vou roubar à descarada a frase: gosto muito de escrever - mesmo que só saia trampa, às vezes especialmente quando sai trampa - mas gosto muito mais de ser feliz.

E se ser feliz for isto... pois que o seja.


25 de março de 2010

Flower Power

E pronto, a minha querida amiga Juanna volveu de Madrid, e eu devolvi-lhe o carro que me havia graciosamente emprestado. Mesmo tendo o meu carrinho novo, vou ter muitas saudades dele, porque acabei por me afeiçoar...
O Flower Power tem um belo arranque que me permitiu dar altos bigodes no centro de Lisboa quando abriam os semáforos. E mesmo com os autocolantes com joaninhas e malmequeres e "bebé a bordo" e cadeirinha de bebé no banco de trás... por mais que gozassem comigo, gosto de pensar que elas imaginavam "ai, o pai de família, nem se importa de andar com o carro efeminado, e a mostrar que tem rebentos, que charmoso"...

Muito obrigado, Juanna. Salvaste-me a pele.

14 de março de 2010

Photosynthesis, at last!

Finalmente um dia de sol como deve ser. Já estava a ficar com o sistema nervoso alterado com tanta chuva...

Não tenho dado grandes novidades nem tenho publicado nada, mas devem ver isso como um bom sinal: sinal de que ando bem disposto, ocupado... No news is good news ;)

Ah... e o STPmobile v3.0 já chegou há algum tempo! Tenho andado ocupado a brincar com ele! A maioria que me desculpe, mas... esta cor não é muito mais gira do que o azul?


Abraços ...


26 de fevereiro de 2010

Nunca nunca deixarei ... de ser miúdo!

Tenho muitas saudades de os ver ao vivo ...

(sim, se provas fossem precisas... sou um miúdo!).

25 de fevereiro de 2010

Happy happy joy joy!

Baby Baby

Try to find - hey hey hey! - a little time

And I'll make you - hey hey hey! - happy

I'll be home

I'll be waiting beside the phone

Waiting for you!

uuu-huuu! ... uuu-huuu!

É verdade... hoje estou contente! Pareço um miúdo!

22 de fevereiro de 2010

Duas curtas

Faith No More - This Guy's In Love With You

Imaginem uma rua onde passam dois carros um ao lado do outro, de sentido único, ladeada por estacionamento perpendicular. Estava um carro à minha frente, parado, à espera que outro saísse do lado esquerdo, presumivelmente para ocupar o lugar. O carro lá saiu e foi em frente, e o carro que estava à minha frente fez pisca para a esquerda, andou para a frente (passando um pouco o tal lugar), mas subindo a divisória de estacionamento, de tal maneira que ficou a um palmo dos carros que estavam estacionados perpendicularmente mais à frente do tal lugar (quem é que se encosta aos carros da frente para estacionar depois ao lado deles?). Continuou com o pisca. Pensei: ok, não quer estacionar, apenas parou ali por um momento. Engatei a primeira lentamente... e vi que o tal carro fez menção de fazer marcha-atrás. Então guinei para a direita e passei, ainda com um bom espaço que me separava do tal carro que estava a fazer a manobra para, afinal, estacionar. Quando passo, ouço alto buzinão. Resolvo parar uns metros à frente, abrir a janela e perguntar: what? que é que foi? Sem resposta.
Estaciono mais à frente... e sai uma mulher do tal carro, e passa por mim e pergunta-me: olhe, pode só dizer-me uma coisa? Não me viu a fazer pisca? E eu: vi, qual é o problema? E ela: o problema é que eu estou sujeita a bater-lhe! E eu: mas eu vi que tinha espaço e que não me ia bater nem que quisesse.
Ela continua a andar com cara de prisão de ventre e vira-me as costas. E eu digo, mais alto: é que eu sou tipo o Flash Gordon a desviar-me de obstáculos perigosos! Nada tema!
Depois vi-a dentro do ginásio a dar aulas de natação a miúdos. Ela não me viu, senão tinha-lhe piscado o olho.

*

Uma PT, ao olhar para as minhas pernas, disse-me: vem sempre com nódoas negras e crostas nas pernas, o que é que anda a fazer para isso acontecer? E eu: ah... é que em casa batem-me...
(acho que tenho de começar a mudar de punch lines...).

Apaga e rebobina

Lembro-me que esta música passava muito na rádio quando eu ia de manhãzinha bem cedo para a FCUL à boleia de um amigo meu e do pai dele. Naquelas manhãs estava frio, mas sol, e eu ia a dormitar atrás no jipe ...

Ai Nina, Nina... esses caninos à Kirsten Dunst... e eu que nem costumo gostar de loiras!

19 de fevereiro de 2010

No surprises - Endorfinizado

Acordei assarapantado e a primeira coisa que fiz foi enviar uma mensagem a uma colega minha a dizer que estava atrasado. Saí de casa em menos de 10 minutos, e até tive alguma sorte com o trânsito, porque consegui chegar antes do resto da equipa. Vinha a conduzir e deu na rádio comercial uma música que já não ouvia há muito tempo, mas que me dá sempre um conforto especial.
No intervalo das cirurgias, estava eu a relaxar numa cadeira, com dores nos joelhos por ter estado não sei quanto tempo em hiper-extensão, e gerou-se uma conversa interessante sobre casamentos e relações homem-mulher, tida entre quatro pessoas pertencentes a três gerações.
Reconheço que não disse quase nada, contribuindo esporadicamente com perguntas e apontamentos mínimos. Estava demasiado cansado para pensar.Então, deixei-me ficar a ouvir na maior parte do tempo.
Já quando vinha para casa a conduzir o Flower-Power (tenho que lhe tirar uma foto) pus-me a pensar na conversa. As ideias preliminares que tive foram essencialmente que as coisas mudaram muito depressa nas últimas décadas e gerações. E talvez a contribuição com que mais concordei - não porque tivesse discordado das outras - foi pela pessoa de quem talvez menos esperasse. Diz ela que as relações agora não funcionam e são mais complicadas porque as pessoas não têm tempo nenhum, e quando têm, querem-no para si porque não têm energia.
Não quero com isto dizer que noutros tempos as pessoas eram desocupadas. Na verdade, no tempo dos meus avós acredito que não haviam tantas facilitações nos trabalhos árduos, e hoje em dia não é tão frequente apertar uma mão calejada como seria antes. Mas mesmo com todas as benesses, a verdade é que as pessoas passam mais tempo fora de casa, gastam mais tempo a deslocar-se de uns sítios para outros - muitas vezes a correr contra o tempo - sempre preocupadas com algum documento para ser entregue, alguma conta para pagar, algum telefonema inadiável, algum percalço que as obriga a ser criativas ou a redefinir prioridades a todo o momento. No fundo as variáveis são mais, as solicitações são mais, e a pressão para o êxito e para a so called felicidade é maior. E no entanto, tenho a certeza que hoje em dia, mesmo com um conhecimento mais profundo do mundo exterior e com muito mais caminhos possíveis para percorrer do que há 30 ou 40 anos, a verdade é que estou convencido de que somos muito menos felizes e muito mais insatisfeitos do que os nossos ascendentes. Talvez este seja outro dos tais casos em que mais é menos.Não me posso queixar. Há dias em que estou de banco, outros em que as cirurgias demoram mais tempo do que o previsto (ou o tempo previsto, quando é muito, e sempre em pé), mas por enquanto na maioria dos dias tenho-me conseguido escapar mais cedo do que a maioria das pessoas consegue nos seus empregos. E assim venho para casa sem ser em hora de ponta, o que é uma situação win-win. Mas mesmo assim não é preciso beber um copo de gasolina para saber que mata. Já me retira suficiente energia para perceber que transportes ou carro, hora de ponta, um horário 9-17, nova hora de ponta, contas para pagar, família própria e alheia, amigos, uma casa que não é nossa apesar de o ser... sobra pouco para dar a alguém. Aqui já não sei o que pensam as outras pessoas, embora imagine. O que sei é que o que sobra agora, e o ainda menos que sobrar daqui a uns tempos, só me permitirei dá-lo se não conseguir evitá-lo - por outras palavras, se não resistir a fazê-lo. Já aconteceu antes (embora com problemas e lacunas derivadas do status quo que descrevi atrás), poderá acontecer novamente? Talvez.

Voltando a essa pessoa, mais próxima da minha geração do que as outras duas, não disse nada disto. Resumiu muito mais a opinião dela. Escutei-a e ganhou-me bastante mais consideração.
Tenho pensado em tudo isto, mas ao contrário. Ou seja: quando uma pessoa se encontra insatisfeita com alguma vertente da sua vida, por exemplo - e quiçá mais frequentemente - a vertente amorosa, muitas vezes encontra outros objectivos ou escapes para canalizar a vontade e a pulsão. Há quem escreva, há quem coma demais, há quem beba mais copos que a conta, há quem passe o maior tempo possível a dormir, e há quem se ocupe com um tão sem número de coisas de tal forma que nem lhe dê tempo para pensar nele mesmo ou tropeçar em avenidas sombrias nas personagens-fantasmas que o assombram - ou na falta delas, consoante o caso.

Uma vida muito preenchida dá muito menos espaço para frustrações emocionais. Tenho ido muitas vezes ao ginásio ultimamente - lá está, tenho tido tempo para o fazer, embora não saiba até quando; nunca fui muito de ginásios, tenho de admitir, e até há amigos admirados com a minha opção. Mas a energia dispendida, o cansaço físico e o libertar de endorfinas compensam muito. Uma pessoa deixa de se preocupar tanto com coisas que pareciam intransponíveis antes. Quase que desaparece a frustração decorrente dessas coisas. É uma droga natural, de obtenção fácil, e com benefícios para a saúde.A pessoa recupera ou reforça a sua autoestima, e dessa maneira fica mais protegida: olha os outros ao mesmo nível e não deixa que a pisem ou que lhe roubem o amor-próprio; ganha força para tomar decisões difíceis; ganha coragem para perder (?) coisas, sofrendo um pouco, é certo, mas por bens maiores, e o bem maior é ela mesma.
Em compensação, talvez fique menos predisposta a abdicar desse bem estar - que é certo e seguro - e arriscar uma relação com alguém. Eu sei que esta relação que estou a tentar explicar é um tanto obscura, mas a verdade é que me sinto muito menos disponível para isso do que antes - simplesmente tenho pensado muito pouco nisso, o que não era hábito em mim. Talvez também por isso eu não tenha contribuído muito para a conversa de hoje.
Já ao fim da noite, começou a dar o Dr. House na televisão e eu fui ver. Às vezes há coincidências, e esta é uma delas: o episódio começou precisamente com a primeira música que ouvi de manhã, e que vos deixo aqui.

A heart that's full up like a landfill,

a job that slowly kills you,

bruises that won't heal.

You look so tired-unhappy,

bring down the government,

they don't, they don't speak for us.

I'll take a quiet life,

a handshake of carbon monoxide,

with no alarms and no surprises,

no alarms and no surprises,

no alarms and no surprises,

Silence, silence.

This is my final fit,

my final bellyache

with no alarms and no surprises,

no alarms and no surprises,

no alarms and no surprises please.

Such a pretty house and such a pretty garden.

No alarms and no surprises (get me outta here),

no alarms and no surprises (get me outta here),

no alarms and no surprises, please.

17 de fevereiro de 2010

Hey boy! Hey girl!

Hey girl

Hey Boy

Superstar DJ's

Here we go!

Até agora, a minha música preferida para meter em repeat enquanto me rebento todo a correr!

*

Amanhã vai ser uma grande manhã. Pela primeira vez vão-me deixar ser cirurgião principal numa cirurgia. Até vou levar um bolo para a enfermaria para festejar; como quem diz, de certeza que vai correr bem e vai haver razões para festejar. E está tão bom o sacana do bolo ... com puré de maçã por dentro... hmmm yummy!

Torçam por mim!

16 de fevereiro de 2010

Must... come... back... !

And I tried to sleep alone

But I couldn't do it

You could be sitting next to me

And I wouldn't know it

If I told you you were wrong

I don't remember saying ...

Eu até queria escrever umas coisas, mas de cada vez que vou correr e ginasticar parto-me tanto que chego aqui ao blog e falta-me aquela energia negativa para o fazer. Soon ... Very soon, I hope.

15 de fevereiro de 2010

Privilegiado

Vinha eu a maldizer-me por ter adormecido e ir chegar tarde ao hospital, e por estar um frio cortante, e não parar de chover. Vinha enregelado e mal conseguia encostar as mãos ao volante que estava gelado.
Depois, vá lá, parece que toda a gente tinha ficado em casa hoje por causa do Carnaval - nem me tinha lembrado destas variações de fluxo no trânsito - e portanto consegui pôr-me em lisboa em 20 minutos. Nem no dobro conseguiria, num dia normal. E depois, como não arranjei lugar no hospital, vinha-me maldizendo novamente por ter de estacionar no parque pago e deixar lá mais uma vez uma batelada de dinheiro. Acabei por chegar mais cedo que quase toda a gente.
À saída do estacionamento, vinha a mandar uma mensagem ao meu amigo Freitas, directamente para o Funchal, que dizia "Triste vida". Imensas vezes lhe mando mensagens semelhantes quando vou entrar ao trabalho, mas hoje era mesmo sentido. É cedo, está muito frio... não estou a brincar, estava mesmo muito frio, e eu com dois pares de calças, duas t-shirts, uma camisola, um casaco bom e um cachecol. E a maldizer-me por ter cortado a barba.
E depois reparo em dois homens dentro de caixotes de cartão, a tremer de frio, debaixo das arcadas do centro comercial do Martim Moniz, só com um cobertor.
Voltei a olhar para o telemóvel e vi "mensagem enviada". Envergonhado, acelerei o passo para não chegar atrasado.

14 de fevereiro de 2010

To and Fro





We can't be to and fro like this



All our lives



You're the only way to me



The path is clear



What do I have to say to you



For Gods sake, dear





Gosto desta musiquinha. É docinha, própria para o dia de hoje ;)





*






Ai ... nunca mais chega o tempo quente ...

11 de fevereiro de 2010

Lembra-me um sonho lindo ...

Canta rouxinol canta, não me dês penas,

cresce girassol cresce, entre açucenas ...

Ai como eu te amo,

ai tão sossegada,

ai beijo-te o corpo,

ai seara, tão desejada...

Ai, Fausto, Fausto... sabe-la toda!

Ajuda-me!

Uma das coisas que mais gosto de fazer é

10 de fevereiro de 2010

Her morning elegance

And she fights for her life as she puts on her coat

And she fights for her life on the train

Acordo aos poucos enquanto sinto o cheiro de banho acabado de tomar e ouço o barulho que ela faz com os cabides uns contra os outros no armário, a escolher o que vai levar vestido. Espreguiço-me um pouco sem abrir os olhos e enrodilho mais um pouco o edredão entre as pernas. Nesta altura não penso por palavras. Apenas dou atenção aos estímulos que os três sentidos me oferecem, e pairo num limbo de semi-sonho. Está atrasada para o trabalho, e repete os gestos mecanicamente, quase naquele piloto automático só possível nesta altura. Cada vez mais depressa e com mais barulho, vai-se despachando, e eu vou saindo aos poucos do torpor. Espreguiço-me mais meia dúzia de vezes, ainda sem abrir os olhos. Sinto agora o cheiro do perfume acabado de pôr, e talvez consiga distinguir muito ao longe o cheiro do lápis dos olhos. Pelo som dos passos rápidos de vai-e-vem, não escolheu saltos desta vez. Agora fechou a porta. Foi tomar meio pequeno-almoço e lavar os dentes. Devo ter mais cinco minutos até que volte.

Ponho-me a pensar no que vou fazer hoje... estou de férias. Vaguearei sozinho por ruas que me são estranhas. Verei caras não familiares, algumas delas cruzarão olhares comigo, mas não a maioria. Estará muito frio? Pergunta idiota, estará com certeza. Sair da cama será como nascer outra vez. Respiro fundo e espreguiço-me. Os músculos todos tremem enquanto são esticados e torcidos em todas as direcções, quase no limite de provocar cãibras. Bocejo. Devo ter mais três minutos.

Antes do tempo que julgava razoável, a porta abre-se depressa. Passos rápidos. Agora veste o casaco e pendura a mala ao ombro. Agora uns segundos de silêncio. Volta a pôr a mala na cadeira.

O colchão abana um pouco, e logo sinto um peso leve e quente por cima de mim. Perfume mais intenso. Abro com dificuldade os olhos por entre as pestanas coladas e vejo-a fitar-me bem quieta como se pudesse matar um cabrão só com o olhar. Mais um sentido que desperta. E logo a seguir demora-se ligeiramente num beijo mentolado rápido. Agora sim, estou totalmente acordado. Xau, diz-me baixinho. Torna a fixar-me uns segundos, talvez para se certificar de que estou bem morto e não estarei ali quando regressar do trabalho da próxima vez. O colchão abana outra vez - nova lufada de perfume - a porta fecha-se devagar, e o trinco desliza quase sem ruído. Passos lentos. A porta da rua fecha e a onda de choque bate-me no peito.

Xau... respondo, com as cordas vocais ainda coladas, apenas com o ar que tenho na boca.

8 de fevereiro de 2010

3 curtinhas

Andei novamente a limpar gavetas. E encontrei mais tesourinhos antigos.


Bilhete de autocarro para Góis, pago ainda em escudos, em 99. Fui com os meus colegas da altura, e infelizmente já não contacto com quase nenhum deles. Foi um fim de semana palco de histórias que não me vou esquecer. Quis andar à porrada com um deles, bêbado, porque me queria partir um ovo na cabeça. A frase "Vou-te aos cornos a ti e ao teu amigo freak!" ainda é recordada por algumas pessoas.



Recibo de pagamento - já em euros - do exame de condução para a carta. Não sei porque o guardei. Provavelmente ficou esquecido juntamente com o cartão jovem que fiz de propósito para ser mais barata.



Então era aqui que vocês estavam!

Dois preservativos da mítica marca ZigZag que expiraram em Maio de 2006. Sem dúvida, indícios de uma "vida social" activa ...

Ídolos

Epá, o que eu me ri. O gajo a cair parece uma foca, tipo sem braços, bonk! Também não admira que não veja nada, com aqueles oculinhos. Dêem um bobi e uma bengala ao homem ... Ah e tal que é por causa dos holofotes, a luz é tão brilhante que cega. E depois agarrado à cabeça... e depois a ajeitar os óculos do tipo "não foi nada, ahá, fantástico, estou de volta!" e dizer... "Com isto... já vendi mais 10 mil discos!" como se estivesse com uma granda piela... Epá... impagável do princípio ao fim.

Quanto ao resto... a selecção musical lá do rapaz não é nada má. Pearl Jam, Nirvana, Goo Goo Dolls, Ornatos Violeta... o problema é que não gosto de o ver cantar. E aquele ar de coitadinho irrita-me.

Odeio os ídolos, desde os concorrentes aos juris. Mas aos domingos temos sempre a tv ligada nesse canal, por isso vou-me sempre deitar com dores de cabeça.

7 de fevereiro de 2010

Anónimo

Neste grande filme de há quase 20 anos, um gang de assaltantes usa máscaras de ex-presidentes dos EUA para se camuflarem. Lembrei-me do filme outra vez nos últimos vários meses, porque parece que adoram pôr-me desvairado a tentar perceber quem é que me manda mensagens para o telemóvel com números que não conheço. É verdade que eu estraguei o meu telemóvel e agora ando com um bastante mais antigo, e como tal perdi imensos números e não tenho memória suficiente para registar todos, nem tenho memória de cabeça para saber tantos números de cor. Mas quando tento saber quem é (sim, porque eu respondo) metem-se em jogos de gato e rato e não me dizem quem são.
Ok, reconheço: fico louco com a curiosidade, e ela ainda não me matou mas já me moeu muito.
Não entendo por que razão fazem isso.
O mesmo se aplica às pessoas que comentam os posts aqui no blog como anónimas.
Se tento saber quem são é porque à partida se têm o meu número, sabem o meu nome e o meu blog, eu as respeito e as considero. Mas descurto mesmo que acabem por não dizer quem são...

Xiça, parece que têm medo de alguma coisa ... Ou será que o prazer de me ver de cabeça trocada é assim tão grande? Raios!

5 de fevereiro de 2010

Quatro curtinhas e uma mais comprida

Li algures que uma das maneiras de alguém limpar a cabeça e se tornar mais leve é ir deitando coisas fora. Por outras palavras, não deixar acumular coisas ao longo do tempo em gavetas, armários, prateleiras... coisas que de certeza que não vão ser usadas novamente, ou que não são recordações assim tão importantes.
É claro que para quem como eu guardou imensa coisa desde há bastantes anos a esta parte, o processo se torna lento e trabalhoso, porque envolve uma triagem das coisas que quero guardar. Desta vez decidi não ser tão picuinhas e tentar deitar fora o máximo de coisas possível. Para variar, ter espaço disponível para guardar coisas novas é uma boa sensação.
Então, neste processo, fui encontrando algumas coisas engraçadas...


Desenho da minha amiga Let de há tempos atrás, referindo a minha alergia a gatos... ela só tem três! Acho que foi feito em Aljezur, mas não tenho a certeza... eu estava sempre a beber coca-colas.


Novo desenho da Let, sobre uma queda que dei, de bicicleta, enquanto tentava carregar com dois sacos de pinhas e caruma de pinheiro (para acender a fogueira para o jantar), uma em cada mão. Feri uma mão toda. Na altura ainda nem andava em medicina, mas fiz um desbridamento da palma da mão com um canivete ferrugento. Estava traçado o meu destino...

Sem comentários, excepto um: só o usei para tirar a carta.


Já publiquei esta tira aqui no blog há bastante tempo atrás. Mas resulta sempre, pelo menos para mim. Quanto mais "crescido" fico, mais me apetece às vezes responder assim a determinadas pessoas ... Aliás, uma das coisas em que tenho orgulho - e vem certamente com a idade - é o facto de não papar grupos.
*
Tenho notado, desde que comecei a trabalhar, que há uma coisa que está diferente. Quando estava nos estágios ou nas aulas na faculdade, as pessoas, em especial as raparigas, não opinavam tanto sobre o aspecto umas das outras, pelo menos abertamente e à frente da pessoa. É claro que sempre houve muito corte e costura, mas habitualmente os comentários eram refundidos, e embora toda a gente falasse sobre toda a gente, poupava-se o visado.
Agora não é assim. Raro é o dia em que meto os pés no local de trabalho e não há uma colega, uma enfermeira, uma administrativa, ou uma auxiliar de acção médica, que não comente sobre qualquer coisa. Ou é o meu casaco que é giro, ou é o meu casaco que tem pêlos do meu cão. Ou são os meus ténis que são coloridos e alegres, ou são os meus ténis que são tão amarelos na parte de trás que até ofuscam e de certeza que os comprei para que ninguém me atropele a atravessar a rua. Ou é porque não corto a barba ou é porque a cortei - normalmente dizem "ficavas tão mais giro se ...", mas já aconteceu o contrário, reconheço (há que fazer justiça para não parecer convencido nem falso modesto, o que é um equilíbrio difícil de gerir). A última foi sobre o cabelo. Uma das minhas colegas, quando viu o corte de cabelo que fiz (e ela até tinha sido avisada por mim que tinha cortado...) fez uma cara como se estivesse a ver o Cavaco pela primeira vez a comer bolo rei. Mais tarde lá disse que me dava um ar mais respeitável. Ou seja, parecia um mendigo antes.
Gosto de ver que as pessoas têm opiniões e gostam de socializar umas com as outras. Mas... e aqui tenho que sublinhar isto, dada a frequência relativa dos comentários por parte de elementos do género feminino atingir os 100%, a verdade é que desde que comecei a trabalhar que ELAS não conseguem estar caladas. Não percebo. Mas para que é tanto comentário? Não podemos falar do sporting que levou 5 batatinhas? Ou de como foi o fim de semana passado, ou quais os planos para o próximo? Há tantas coisas para comentar que não passam pela maneira de vestir ou pelas opções estéticas de apresentação do outro. É claro que às vezes elogio uma rapariga, se achar que realmente é merecido, não será mal interpretado, e que é sincero. Ora... é raríssimo que estas três premissas coexistam quando alguém se dirige a mim com uma observação.
Ainda por cima, quando são rapazes, nunca comentam. Sabem, nós conseguimos estar calados em várias situações em que isso é vantajoso. Às vezes menos é mais, e elas não conseguem perceber o conceito.
Quanto a mim... bem, já não respondo. Encolho os ombros e falo sobre outra coisa qualquer.

4 de fevereiro de 2010

Playground love

I'm a high school lover, and you're my favorite flavor.

Love is all, all my soul.

You're my Playground Love.

Yet my hands are shaking

I feel my body remains, time's no matter, I'm on fire.

On the playground, love.

You're the piece of gold the flashes on my soul.

Extra time, on the ground.

You're my Playground Love.

Anytime, anywhere,

You're my Playground Love.

Sem mais, para já ... 3 (reloaded)

Aqui vos deixo a versão não manuscrita do que escrevi. Não tinha imaginado que a minha letra seria tão difícil de perceber, mas são capazes de ter razão. Foi tudo escrito freneticamente... normalmente tenho mais cuidado. As minhas desculpas!

"... e cada vez mais as pessoas se vêem umas às outras como troféus outrora conquistados, que revisitam em dias cinzentos em busca de ânimo, conforto, querendo um pouco de alento para os egos danificados por gotas de chuva perdidas. Sem pensar um pouco em como ficam os outros em causa, aproximam-se com pés de lã e sorriso pacífico, e como quem não quer a coisa já estão a estimular em busca de bajulação... declarações de amor perdido... lamentos de uma coisa que já foi ... ou simplesmente um pouco de atenção. O tom magoado das vítimas é música para os seus ouvidos, pois só prova que os troféus se mantêm na mesma prateleira onde foram colocados, à espera que se lhes retire o pó.

Volta não volta chove, e lá vão sofregamente à vitrine procurar uma teta que já tenha recuperado um pouco das feridas da mamada anterior. E lá a deixarão depois, não sei antes deixar nas feridas abertas um pouco de flor de sal, à laia de troco pelo bem estar cobardemente arrancado.
É uma estupidez que se repete todos os dias em algum ponto da Civilização, em que as pessoas compensam os golpes sofridos num mundo supercompetitivo e superpovoado desferindo outros golpes em outras pessoas e assim sucessivamente, numa tentativa de se sentirem bem... não bem com elas mesmas, pois que não há tempo para pensar nelas; nem bem com os outros, pois que sofrem de uns e magoam outros, num comboio interminável que morde a própria cauda. Apenas... BEM.

Já estive dos dois lados e conheço-os melhor, muito melhor, do que queria e alguma vez supus nos meus dias maus chuvosos. E nos dos outros, já agora.

Minha dor, minha culpa, minha dor, minha culpa.
Quid pro quo pro quid ...
Não quero. E por isso não brinco mais.

Até que algo me convença de que há excepções à regra.".

3 de fevereiro de 2010

It's raining again




Oh, it's raining again
Oh no, my love's at an end.
Oh no, it's raining again
and you know it's hard to pretend.
Oh no, it's raining again
Too bad I'm losing a friend.
Oh no, it's raining again
Oh, will my heart never mend.

You're old enough some people say
To read the signs and walk away.
It's only time that heals the pain
And makes the sun come out again.
It's raining again
Oh no, my love's at an end.
Oh no, it's raining again
Too bad I'm losing a friend.

La, la, la, ...

C'mon you little fighter
No need to get uptighter
C'mon you little fighter
And get back up again.

It's raining again
Oh no, my love's at an end.
Oh no, it's raining again
Too bad I'm losing a friend.
Oh!Oh!

La, la, la, ...

C'mon you little fighter
No need to get uptighter
C'mon you little fighter
And get back up again
Oh, get back up again
Oh, fill your heart again ...

(It's raining, it's pouring)
(The old man is snoring)
(He went to bed and bumped his head)
(And he couldn't get up in the
morning)

Sem mais, para já ... 3

27 de janeiro de 2010

Just breathe


Did I say that I need you?


Oh, Did I say that I want you?


Oh, if I didn’t now I’m a fool you see...


No one know this more than me.



Música que me acompanha no rádio do carro todas as manhãs. Lá estarei no Alive para os ver.


*


Nunca mais falei da votação sobre a cor do STPmobile v3.0, mas foi por demais óbvio que as escolhas recairam preferencialmente sobre o Azul Barents. Lamento, mas não foi essa a cor escolhida por mim. Já deviam saber que nunca vou pela maioria e sou teimoso como tudo! Tenho de comprar uma camisa para fazer pandam. Agora é esperar por Março, já que me afiançaram que estão a fazer o carro com alumínio retirado das minas lunares, e o vidro é feito com areia das praias da Costa Rica, daí terem estendido a data de entrega...


*


STP, a Diva. Noite de diversão @ BA

22 de janeiro de 2010

Carta aberta para ti


Gostava de poder dividir com uma faca esse sofrimento e ajudar a sentir metade dele, porque estou mais habituado do que tu. Queria transformar os teus dias em meio horríveis ao dizer-te que sei o que estás a passar. Também eu já vagueei por essas horas fora com um nó na garganta e por esses locais de todos os dias como um cão envenenado pelo dono, como se o ar não entrasse no peito por mais que a boca o sugue com suspiros, e uma facada invadisse a barriga por cada vez que o pensamento teimasse em invadir aquele quarto escuro de recordações.
Sim, também já me aconteceu e por isso tudo o que eu queria era que não te acontecesse a ti também. Esgatanhei durante muito tempo as paredes do poço em que caí em busca de uma saída rápida que não existe.Depois, percebi que era mergulhando mais fundo na água salobra que descobriria um caminho. Não é fácil, está frio e escuro, e vários perigos se escondem. Nesse caminho nem sempre se tomam as opções mais acertadas - e não será essa a essência desse caminho? - porque no desespero de nos sentirmos bem vamos a correr chocar contra qualquer coisa que brilhe um pouco mais do que um basalto. E quase nada do que brilha é ouro, muito menos no mundo agitado de memórias.Se eu pudesse, descrevia-te o processo e desenhava-te um mapa do percurso que fiz. Poupava-te tempo e podias arrepiar caminho. Mas não posso, porque também ando à procura dele outra vez, e porque... bem, porque seria sempre o meu caminho, e não o teu.Certo é que vais andar durante muito tempo. Durante tanto tempo que até te vais esquecer e lembrar e tornar a esquecer para recordar outra vez onde estavas antes de caires no buraco, e a respectiva queda.E irás entretanto comparar cada coisa e pessoa que encontrares as que viste nos nos dias luminosos que viveste outrora, e perderás oportunidades que nunca perderias se fosses a pessoa que eras antes.

Vais odiar-te por isso.
Mas um dia, de um momento para o outro, sem que nada o faça esperar, vais sentir uma calma estranha. Virás à superfície, e não te garanto que o sol brilhe como antes, mas estará uma temperatura agradável, não choverá, e sentir-te-ás em paz contigo.Gostava de te transportar para esse dia com um abraço. E queria mesmo alertar-te para os perigos do tempo que passa e se confirma como o melhor photoshop que existe. Transforma o menos mau do passado no melhor que poderia acontecer-te no futuro, e nunca é assim que as coisas funcionam. É preciso tirar esses fotofilmes da cabeça e gravar novos, com outros temas, outras pessoas, outros locais, com o coração que tens agora e não com aquele que tinhas antes, porque ninguém te vai devolver o que ofereceste por muito que ambos queiram. Por isso, não desejes ter a tua vida toda de volta de repente. Mas, peço-te, não te convenças de que estás perante um nó górdio - impossível de desatar.
Como disseste um dia - e quase todas as pessoas no mundo desenvolvido devem ter dito isso um dia, perdoa-me a sinceridade - estas coisas fazem morrer dentro de nós alguma coisa. Fazem perder a esperança na natureza humana, no amor puro, nos contos de fadas, no para sempre e no nunca, na inexistência de impossíveis. Em troca, recebes medo, desventura, incapacidade de acreditar, desconfiança por mais que queiras confiar, desapego por mais que te queiras dedicar.
Lembras-te? A pior coisa que pode acontecer é a tua felicidade depender de outra pessoa. Talvez seja verdade, não o sei. Já acreditei e desacreditei e tornei a acreditar e tornei a desacreditar nisso. Não te posso ajudar com a resposta, talvez por ter escolhido ser agnóstico em relação ao amor. Na verdade, talvez tudo mude, talvez nada seja para sempre e só nos reste aproveitar enquanto a chama vive, e não nos arrependermos de cada vez que ela se apague mesmo que a protejamos com as mãos das brisas que sopram. O preço a pagar é o risco de morrer mais um bocado de cada vez que decidires fazê-lo.
Utiliza agora toda a coragem e força que mostraste antes, e usa-as todas para ti, não apenas metade. Fá-lo por ti. É a tua melhor opção, ainda que tivesses outras.
Sim, virás à superficie. Respirarás de alívio novamente, e nem será de alívio porque quando o fizeres em paz não será uma coisa brusca, como no acordar de um sonho mau. Viverás confortável na maior parte do tempo, e cada vez mais de quando em quando, em dias de chuva, lembrar-te-ás do que agora te destruiu por breves momentos, com uma tristeza bonita e controlada, sim, mas sem angústia.
E aí saberás que tens a tua vida de volta.
Já me aconteceu. Já lá cheguei uma vez, com batota ou sem ela, com tudo o que me custou e todo o tempo que demorei. E chegarei novamente, e sempre contigo por perto, portanto tu também. E isso to escrevo, to digo, to prometo e garanto.
E eu, como agora, estarei contigo para ficar também feliz com a tua reconquista.