30 de julho de 2004

Publicidade

De há muito tempo para cá que a música tem vindo a ser utilizada para promover telemóveis, mas agora parece-me que os telemóveis estão a ser criados para promover a música. Ainda há bocado estava a jantar e a ver televisão, e pude reparar que até aquela música cujo refrão é "listen to the sound of radio" já apareceu num desses "spots". Eles até podem ser bons miúdos, mas aqueles olhinhos pintados e aqueles fatinhos e gravatinhas à mariconço não me convencem. Aliás, das três vezes que vi esse videoclip, lembrei-me que aquela música era feita da mesma massa das que se usam para esses anúncios, e que qualquer dia seria mesmo utilizada; claro que também me lembrei de um outro videoclip, do David Fonseca, em que ele dança à maluco com um fato, e em que a música também é toda jovem e dinâmica, transpirando aquela euforia que todo o jovem tem que mostrar se quiser ser visto como jovem, mas... pelo menos este rapaz soa-me mais a genuíno, goste-se ou não.
O que mete asco é perceber que, se dantes as bandas de garagem que pululavam por todos os subúrbios citadinos, mesmo tendo bastante qualidade (algumas delas) dificilmente eram catapultadas para a ribalta, agora muitas delas perceberam que se utilizarem determinada receita consagrada podem ser mostradas nos "spots" dos telemóveis. Já antes desta música fora utilizada aquela, que ainda é piorzinha, em que o refrão parece um gajo com voz de Canal Panda. Fui ver como se chamaria a música, e cá está! A surpresa! "Feeling Alive"... é preciso dizer mais alguma coisa? Como eu dizia, a euforia, o jovem dinamismo. Como diriam uns amigos meus, "em duas palavras, fantástico".
Não me interpretem mal: não é que goste apenas de músicas melancólicas, tristes, deprimentes e angustiantes. Acho até que é mais fácil de se construir uma boa melodia destas do que fazer-se uma BOA música alegre e que ponha as pessoas felizes. O que também acho é que neste caso as bandas estão a fazer estas músicas para alvejar um mercado comum aos telemóveis, e nesta medida o casamento entre bandas e telemóveis é perfeito. E como com as bandas, há sempre telemóveis novos: se esperarmos um pouco ainda poderei engomar as minhas camisas com um!
Embora não goste de desejar mal às pessoas (gosto apenas de dizer mal), o que me consola é que pelo menos neste caso o oportunismo está condenado ao insucesso. Não é esse o único motivo para que isso aconteça, mas como vivemos num mundo em que a mediocridade é selectivamente premiada, e como a união faz a força, cá vai: falta de originalidade, falta de genuinidade, letras muito fracas e deslavadas, arranjos que qualquer puto do 9º ano é capaz de inventar desde que tenha meios para isso... e já lá vão 5 motivos.

Agora que estou de férias sinto a minha acidez a diluir-se um pouco. Tomarei providências para que isso não aconteça da próxima vez que escrever aqui :) Grande bem-haja!

26 de julho de 2004

O bap(?)tiz(s)ado

Cheguei atrasado à igreja e já lá estava o pessoal todo dentro, sentado nos bancos, com o padre (que era um patusco) a dizer que estávamos ali presentes para guiar a criança nos caminhos da fé; que Deus ia estar sempre presente junto dele, desde que ele quisesse seguir aquele caminho, etc...
Fez-me alguma confusão... então Deus supostamente não nos acompanha e não gosta de nós mesmo que nós não acreditemos n'Ele? Lá está, é aquela velha história do "toma lá, dá cá", sempre presente naqueles ditados populares que as pessoas muito católicas penduram nos seus estabelecimentos: "Deus recompensar-te-á em dobro as boas acções que fizeres"... ou então "se sacrificares uma virgem ao Imhotep terás férteis aluviões. Senão...". Não sei bem, mas parece-me que é uma sugestão um bocado interesseira.
Depois da missa sairam em magotes. Parecia um encontro da máfia siciliana da américa. O Paulo Portas fez definitivamente moda com aqueles fatinhos azuis escuros com riscas; ainda por cima numa igreja, mesmo à Padrinho. Só faltava chamarem-se Vinnie ou Frankie: tinham uns nós das gravatas enormes, como se tivessem lá enfiada uma sandocha de presunto para a viagem; óculos escuros, ar austero, a falarem em voz baixa uns com os outros à laia de segredo de estado (não o segredo de estado cá de portugal, esse fala-se em voz alta); e não faltaram os carrões de grande cilindrada para compor a cena. Só faltava que fossem pretos.
Depois, lá no sítio do copo de água, pude ver que escreveram o meu nome num papelinho que indicava o meu lugar na mesa - só foi pena ter dois erros; por falar em erros, no papelinho da ementa, especificamente feito para o evento, vi que havia três maneiras de se escrever uma palavra: batizado, baptizado e baptisado. Uma vez que não deve haver uma quarta possibilidade minimamente verosímil, é favor escolher uma a gosto sem receio.
Afinal, devem ter pensado que com três palpites haviam de acertar pelo menos uma vez. Ou então quiseram agradar a gregos, troianos e fenícios. Ou então queriam testar a atenção dos convidados... ou talvez o dicionário estivesse por baixo de uma camada tal de pó que não quiseram arriscar uma alergia. Ninguém se importa... aqui há pouco tempo até se escrevia pharmácia, não é? Isto está sempre a mudar, uma pessoa não se consegue manter actualizada!

24 de julho de 2004

NaHCO3

Deixem-me cá experimentar estas tecnologias! Disseram-me que estes jovens agora têm todos um blog, então também quero escrever umas coisas!
Também me dizem que estou a ficar velho cedo demais, que só me irrito, que só digo mal das coisas, que só critico - pois então! - registei isto porque mesmo depois do tempo útil que tenho com as pessoas ao vivo para dizer mal de tudo e todos, me sobeja ácido para distribuir! Assim já sei que quando quiser dizer cobras e lagartos, posso contar com este bocado virtual.
Isto quando eu era mais novo não era assim! A gente irritava-se e era logo à pedrada! Agora dão-se umas dedadas no teclado e pronto, somos uns grandes rebeldes! Bom, mas agora tenho que me ir deitar que já é muito tarde e amanhã tenho que ir ao baptizado de um primo meu. Eu que nem ao meu próprio baptizado fui, agora tenho que ir aos dos outros, mesmo que sejam mais velhos que eu! Raios!