10 de abril de 2024

Sem pressa mas sem perder tempo

     Não gosto de fazer, no geral, as coisas à pressa. Mas também não gosto de perder tempo.
     É por isso que fico desesperado quando vejo recursos a serem usados da forma mais errada possível tendo em consideração o indivíduo e o grupo ao mesmo tempo. É quase sempre difícil influenciar indivíduo e grupo no mesmo sentido com uma determinada medida ou conjunto de acções, mas há pessoas que o conseguem fazer realmente bem. E - o que é extraordinário - sem pensarem nisso.

     Estou na fila do multibanco e vejo uma pessoa bastante mais velha à minha frente a usá-lo. Claro que sei que tenho de ter paciência, e tenho. Provavelmente usa a máquina com alguma dificuldade, vê mal os números, tem medo de se enganar, e se calhar já há muito tempo que paga as contas daquela maneira.  Pudesse ele escolher uma hora mais morta para fazer isso, já que está reformado... em vez de ir às 19h ao supermercado (e já que é o único multibanco num raio praticável a pé). Mas enfim. Deixa lá o velhote enganar-se e pôr várias vezes o mesmo cartão e carregar no botão do saldo dez vezes. Daqui a uns anos os miúdos de hoje irão achar o mesmo de mim noutras coisas quaisquer.

     O que me irrita é malta bastante mais nova que eu, com telemóveis de mil euros com tecnologia suficiente para activar mísseis nucleares da Rússia (mas que na verdade só servem para ir aos instas desta vida) mas que vão ao multibanco levantar dez euros, depois tiram o saldo, depois levantam mais dez euros, depois tiram outro saldo, depois vão pôr outro cartão e fazem a mesma coisa, e estão ali quinhentos anos a jogar ao tetris na máquina, a carregar o telemóvel, a carregar sei lá o quê, a transferir não sei quê mais... Mens! Homebanking! Até a minha escova de dentes eléctrica dá para aceder ao banco! Ou para ver os tik-toks funkeiros da filha da vizinha.
     Ai não, não! Porque me entram na conta, porque os hackers da Nova Ordem Mundial, porque os criminosos digitais! E porque vivo off the grid!

     Infelizmente estou dependente destes multibancos porque são essenciais para alimentar a economia paralela e portanto tenho que me sujeitar a estas esperas. Mas custa-me. Devo ser o gajo mais rápido do meu bairro a levantar dez euros de um multibanco. Ainda os ecrãs estão a aparecer e já eu cliquei em tudo e o cartão está fora da máquina. Ainda a máquina está a gritar "retire a porra do seu dinheiro!" e já eu estou com a chave na porta de casa. Da próxima vez vou pedir a alguém que me cronometre e depois digo. Mas aposto que são menos de trinta segundos.

     Mas melhor do que isso é o uso de uma coisa bastante mais recente nos supermercados. As caixas rápidas para "compras em cesto". Não sei muito bem o que isso das compras em cesto quer dizer. Sei que fazem filas maiores do que as caixas convencionais com operador. E vão para lá com aqueles cestos que pesam mais que uma retroescavadora. Ou pior, com aqueles sacos gigantes que trazem de casa, que fecham com cordinha; ou com aqueles trolleys de compras... Pousam o saco/trolley no chão. Abrem a cordinha ou o zipper. Retiram as compras uma a uma do saco/trolley e colocam na plataforma da direita. Mas tipo bué compras!  Saem de lá artigos de desporto, detergentes gigantes para a roupa, compras de talho para alimentar leões, sacos com trinta papos secos... Fica a plataforma atulhada que até as laranjas saem do saco e vão parar ao meio do chão. E o saco das postas cortadas, de um bacalhau inteiro, também no meio do chão. Depois ah! É preciso passar o cartão de desconto. Depois passam devagarinho as compras pelo leitor e colocam na plataforma da esquerda. Entretanto a fila já atinge a zona dos iogurtes.
     Esperemos entretanto que a máquina não avarie e tenham que aguardar que alguém lá vá desbloquear aquilo, porque senão ainda é pior. Depois pagam. Inserem lentamente o código, não vão enganar-se e transferir dinheiro para o Laos. Entretanto, claro, têm um ou dois acompanhantes que em vez de ajudarem a arrumar as compras, vão falando com a única pessoa que faz alguma coisa sobre uma merda qualquer. E depois essa pessoa retira a factura, dobra-a cuidadosamente, vértice com vértice, em acordeão, que até parece que vai sair dali um origami de flamingo, ou de orquídea, ou de uma pila, ou o caraças... e coloca-a cuidadosamente no porta-moedas. Epá mas vais meter o bacalhau no IRS? Não tinha sido mais rápido que um profissional te passasse as compras? E alguns até as arrumam no saco? Tinhas mesmo de roubar meia hora da minha vida? 

     Eu só vim buscar um fiúza e um pacote de cajus! Estas caixas são só para pessoas que vêm buscar vinho e frutos secos! Ou uma lata de atum para fazer com massa! Ou tampões! Não é para as compras do mês!

1 comentário:

  1. Do you have the time to listen to me whine
    About nothing and everything all at once?
    I am one of those
    Melodramatic fools
    Neurotic to the bone
    No doubt about it

    Am I just paranoid?
    Or am I just stoned?

    I went to a shrink
    To analyze my dreams
    She says it's lack of sex that's bringing me down

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