7 de maio de 2009

Saúde Pública


Hoje visitei um lar de terceira idade. Foi a primeira vez que o fiz, e fi-lo numa perspectiva muito diferente daquela que a maior parte das pessoas tem.
Durante um mês, estou a "trabalhar" com uma equipa de Saúde Pública, num Centro de Saúde na área de Vila Franca de Xira. Infelizmente é longe, obriga-me a conduzir todos os dias mais do que estou habituado (que mal habituadinho que estou!), e ainda por cima tem estado muito calor.

Para além disso, até agora ainda não fiz grande coisa. Até aqui, podia fazer o trabalho todo que havia para fazer, e depois disso havia alguma flexibilidade de horário. Ou seja, tanto podia sair cedinho e aproveitar o tempo livre, como podia sair mais tarde. Dependia.
Aqui não é bem assim, pelo menos até agora. Apesar de as tarefas serem escassas ou inexistentes, tenho de estar presente. Custa um bocado.

Mas hoje, como disse, na companhia das técnicas de saúde ambiental, fomos fazer uma vistoria ao lar da terceira idade, da Santa Casa. Senti-me um bocado inspector da PIDE, ou da ASAE. "Esta lâmpada não tem protecção", "Estas caixas com alimentos não podem ser de cartão, e têm que ser rotuladas com informação do conteúdo", etc, etc ...

Não tenho termo de comparação, mas acho que apesar dos vários pormenores apontados na vistoria, pareceu-me um lar bastante bom, e fiquei com a ideia que os funcionários dali estavam bem empenhados em fazer as coisas o melhor possível para os velhotes que ali se encontravam.

Uma das coisas que mais me custa é ver como são tratadas as pessoas que caminham para o fim da vida. Tenho tido a sorte de, na minha família, as pessoas mais velhas serem relativamente saudáveis e rijas, e é claro que a ideia dos lares mexe um bocado comigo, embora não seja bem sob a perspectiva do ser contra ou a favor. Acho que isso nem se põe dessa maneira.

Mas fiquei satisfeito por ver que as pessoas parecem ser bem tratadas, pelo menos neste sítio que fui ver. E fiquei a pensar em quantos outros sítios será assim, e em quantos tudo será muito pior ?

Não é que me tenha sentido útil (apesar de toda a gente ali me tratar com reverência, como Dr., e eu ali de t-shirt da adidas e óculos escuros na mão), mas acho que foi útil para mim ter visitado este sítio, e perceber que mesmo aqui onde tudo parecia limpinho e agradável, foram apontadas inúmeras pequenas deficiências a corrigir... e depois penso em como será uma vistoria noutros lares com condições escandalosas!

De resto, a casa era um palacete (antigo, é certo) fantástico, com um jardim interior ainda mais fantástico. Adorava ter uma casa assim para mim, mas mesmo que só lá vivesse eu, precisaria de uns 5 ou 6 empregados.

Em resumo, neste caso a Santa Casa está de parabéns, e portanto eu esta semana vou jogar no Euromilhões. Não porque o prémio seja jackpot, mas apenas para ajudar...!

6 comentários:

  1. e pena que existam lares tao bons ou melhores q este nque n tem o apoio da santa casa...
    sao excepçoes q confirmam a regra...

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  2. Eu penso mais na quantidade de lares que deve haver por aí clandestinos (ou não!) sem condições nenhumas, desumanos mesmo... tenho cá para mim que devem ser bastante mais do que aqueles iguais ou melhores.

    Quanto ao apoio da Santa Casa... quem me conhece sabe que eu não estou propriamente na folha de pagamentos deles para fazer boa publicidade, nem tão pouco sou religioso :)

    Neste caso em particular, que foi o que eu vi, fiquei satisfeito... e quando as técnicas me disseram que sim, que este lar "está muito bem" e que já viram coisas do outro mundo... eu acredito.

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  3. Meu amigo, a Santa Casa ACIMA DE TUDO deveria; atenção eu disse DEVERIA colocar a religião a leguas de distância quando se fala de SOLIDARIEDADE! Não acredito em religiões, nenhuma delas salva! Acho indecente que uma instituição necessite do rótulo religioso para estender a mão.
    Infelizmente, existem umas criaturas na direcção da Igreja Católica e na SCM (vai dar quase ao mesmo, mas enfim...) que só ajudam os católicos... O resto bem que pode apodrecer que não querem saber... Pura e simplemente esquecem da parabola do bom samaritano...
    Relativamente aos lares que possuem condições abaixo de zero; creio que existe uam solução:colocar na rua os senhores (e senhoras) que ficam nos gabinetes com as sua fatiotas a fingir que trabalham, olhando para os papeis, e que comem graças aos descontos que todos os meses somos obrigados a fazer.

    TENHO DITO

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  4. Oh anónimo, tem calma, não te enerves!

    É claro que ofende e revolta o facto de a igreja ajudar, desde que obtenha benefícios próprios. Todos os quartos têm lá o cruficixozinho, e muitas das heranças dos velhotes que morrem são doadas à santa casa. Aliás, este lar que eu visitei tinha sido ampliado porque uma das utentes faleceu, e a sua casa tinha sido deixada à instituição.

    No entanto há duas coisas que eu gostava de te dizer. A primeira prende-se com o facto de, no país em que vivemos, em que os recursos são poucos, as ajudas são exíguas, e os velhos são abandonados constantemente pelos familiares em enfermarias de hospital ou em lares clandestinos (independentemente das suas possibilidades financeiras para optarem de outra forma), se calhar por vezes temos de engolir um pouco as nossas fúrias e as nossas reservas. Sim, é verdade que a igreja nada tem a ver com fé, e sustenta nas suas fileiras - desde o cume até ao sopé - uma série de charlatões, de vigaristas, de chupistas, de pedófilos, de doentes mentais, de mentirosos, etc...
    Mas a verdade é que no nosso país, em alguns sítios, os velhos não teriam outro sítio onde estar. A santa casa ocupa um vazio que talvez devesse ser ocupado pelo Estado; é claro que espero divergências ideológicas em relação a muita gente, já que esta é, obviamente, uma visão socialista de uma sociedade (e por favor, não confundam, e não comecem já a esfregar as mãos por acharem que me apanharam em relação ao quadradinho onde porei a minha cruz).
    De uma forma ou de outra, permite-me ajustar ao nosso caso a máxima do Gandhi: uma sociedade pode ser avaliada pela forma com que os seus velhos são tratados. Eu acredito nisto.

    A segunda coisa que te queria dizer, e que talvez não saibas, é que no lar onde eu estive havia enfermeiras, fisioterapeutas, cozinheiras, mulheres da limpeza, uma espécie de governanta ... e eu não acredito que as pessoas que vi, no seu íntimo, ali estivessem a trabalhar por serem católicas.
    Não sei como se processa a escolha dos RH por parte da instituição (ou seja, não sei se os empregados têm de declarar que são beatos nas fichas de inscrição e nos currículos) mas a verdade é que me pareceram pessoas muito dedicadas, felizes e realizadas com o trabalho que estavam a desenvolver, muitas vezes tendo que esticar muito a manta...
    Nas 3 horas que lá estive, durante a vistoria, nunca vi ninguém falar em religião, e só por um vislumbre é que vi uma freita, que ao que me parece era a única.

    Para mim, uma sociedade ideal é uma sociedade laica, sendo que alguns dos valores cristãos poderiam ser absorvidos. Mas esta não é uma sociedade ideal... e eu, como profissional consciente, tenho muitas vezes que reflectir sobre os benefícios e os prejudícios de determinado factor. Aliás, considero mesmo que 90% da minha profissão se prende com a realização desse balanço, e neste caso eu não me importo de engolir um crucifixo para que 200 idosos tenham um resto de vida minimamente confortável e digno.

    Só mais um apontamento:
    É verdade que descontamos balúrdios (quem desconta, efectivamente) no fim de cada mês, e que isso nos confere, ou deveria conferir, alguns direitos. No entanto, o verdadeiro problema que aqui se debate não ficaria resolvido se de repente expulsasses esses senhores e senhoras dos gabinetes e os pusesses a vistoriar e fiscalizar todos os lares clandestinos. As pessoas procuram-nos, pelo menos numa grande parte dos casos, porque não têm outra opção. Acho que era mais lógico - e dispendioso, reconheço - que o estado chamasse a si a responsabilidade de tratar dos idosos, e, porque não, punir os familiares que, tendo frequentemente hípótese de cuidar deles ou de arranjar quem cuide, não o fazem por desamor, falta de compaixão, ingratidão, falta de paciência, etc.
    Haveria ainda que falar na falta de vagas nos lares licenciados, mas decerto que compreenderás tão bem como eu a quantidade de variáveis que este assunto encerra, e que a complexidade do problema faria parecer arrogante aquele que dissesse que tem a solução.

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  5. Eu acho que o facto de pagarmos impostos confere-nos direitos, mas talvez não seja essa a única obrigação dos pontos de vista social, cívico e moral que temos. Essa é, aliás, uma sensação comum à maioria dos nossos compatriotas: a ideia de que tudo deve vir a mim e nada mais deverei fazer, pois que já paguei o dízimo.

    Deixo-te um conselho: não escrevas "tenho dito" em letras maiúsculas no fim da tua intervenção, pois por muita razão que tenhas - e tens - vai-te dar um piquinho de soberba.

    Cumprimentos

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