11 de fevereiro de 2025

Prejudice

    Estava de saída e vi que não tinha o meu telemóvel comigo.
    
     Certa vez, há muitos anos, um colega meu do primeiro curso disse-me que o objecto preferido dele era o telemóvel. Não chego a tanto; mas a verdade é que ele é demasiado importante para o perder, apesar de haver clouds e afins.
    Como tinha o meu pc, e tinha prometido a mim mesmo ter sempre a localização activa no telemóvel, decidi experimentar. E a localização foi indicada como estando ao lado do sítio onde eu estava a trabalhar, na embaixada do Bangladesh.
     Hoje, talvez por estarem a chover cães e gatos, não foi uma manhã como as outras. Quando passei às 7:50h naquela rua, não se encontrava a habitual fila de dezenas de pessoas à espera de atendimento ao portão da referida embaixada.
      Mesmo assim fui à rua e procurei  por ali a ver se o encontrava. 
      Nada.
    Voltei ao meu local de trabalho. Pedi a quem consegui que me telefonasse para tentar ouvir a vibração do toque. Aproveito para dizer que odeio toques de telemóvel e ele está sempre em modo vibratório. Até mesmo os despertadores são em modo vibratório e nunca me dei mal com isso.
       E também nada.
    Até perguntei em alguns sítios de atendimento ao público - inclusivamente aos seguranças e no posto da PSP interno que o hospital tem - se alguém tinha entregado um telemóvel.

     No meio da preocupação e da ansiedade, comecei a pensar que talvez um senhor - são quase sempre senhores, não é? - do Bangladesh teria visto o telefone e achado que finders, keepers. Que talvez os estereótipos estejam certos apesar da minha resistência intelectual de princípio, e que há partidos políticos que se formam (e ganham votos) a partir deles de forma não tão desadequada como eu defendia. Mas que raio faria esse senhor com um telemóvel de -6ª geração bloqueado?
     Accionei então o modo "perdido" através do pc, que permite deixar uma mensagem e um número no ecrã do telemóvel. "Vou estar agora neste local, para que me possa devolver o telefone" - escrevi.
    Enquanto percorria as redondezas do hospital onde trabalho tantas vezes, veria o senhor de tez morena, talvez com uma mochila da Glovo às costas, tão desesperado para me devolver o telefone como eu para o reaver.
    De facto, seria isso que eu queria contar-vos.

    Mas voltei para dentro, accionei pelo pc o alarme sonoro e acabei por descobrir o telemóvel debaixo do teclado do computador em que estive a trabalhar.
    
    Alguns finais felizes merecem ser contados, mesmo que sejam estúpidos.
    
    


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