15 de agosto de 2006

Zen - Didjeridú


- Istá ele!
- Então puto? Tasse bem?
- Epá... ya. Baza ao café?
- Ya, baza.
- Que é que tens feito?
- Nada de especial. Não se faz nada de jeito, ninguém cá está. Isto parece um deserto, nem há pessoal na rua de quem possa dizer ou pensar mal. E tu?
- Epá... vim ontem de Azeitão.
- Azeitão? O que é que foste lá fazer?
- Fui ter com uma amiga.
- Amiga... atão, e quando é que foste?
- Fui anteontem de manhãzinha, voltei ontem à noitinha.
- Ah, então dormiste lá...
- Hã?
- Ficaste lá em casa dela.. ?!
- Pois, havia essa ideia, mas eu não sabia bem como ia ser. Mas aquelas praias são mesmo boas, acabei por ficar de um dia para o outro.
- As praias... pois. Não chegaste a falar muito nessa tua amiga, pois não?
- Hã?
- Quem é ela, porra!? Tás aí todo abananado! Ó caraças do miúdo, tenho que repetir sempre tudo?
- Epá, desculpa lá, mas é que tou Zen...
- Zen?!
- Epá, apanhei muito sol e tou um bocado queimado... e também tou um bocado cansado porque foi muita praia e depois também dormi pouco, tive que acordar às 6 anteontem para apanhar o autocarro e...
- Autocarro?! Tu foste de autocarro para Azeitão?
- Epá, fui... que é que tem? Ias ficar admirado. Demorei menos tempo a chegar lá do que se fosse de Queijas para a minha faculdade. Tá bem que é Agosto, mas não deixa de ser impressionante. Ainda é um esticãozinho...
- Tens razão, tou admirado. Tou admirado como é que te deu a ideia de ir de autocarro para tão longe. Ainda hás de me explicar isso como deve ser, se fosse eu a estar em Azeitão de certeza que não ias lá ter! E não me venhas dizer que foi por causa dos brancos areais da Arrábida!
- Epá... é que a minha amiga é fixe.
- Ah! Assim tá bem! É uma compincha! Aposto que passaram a noite inteira a jogar Uno!
- Não... eu sei o que queres dizer... mas estás enganado, não é nada do que pensas.
- Ó João... tás-te a esquecer que eu te conheço desde que nasceste?
- E eu conheço-te a ti! E então?
- Tás-me a dizer que vais de autocarro para Azeitão, dormiste lá, tu és um rapaz, ela é uma rapariga, conhece-la há pouco tempo porque eu acho que só ouvi falar nela umas duas vezes...
- Eu só dormi lá porque ela estava sozinha, o resto da família estava fora e então ela pôde-me convidar para aproveitar o dia a seguir de praia.
- Sozinha?! Ainda por cima sozinha? Ouve lá, tu és estúpido?
- Acredita em mim... estivemos lá a fazer companhia um ao outro, até jantámos lá umas cenas que eu fiz, foi muito porreiro. E estivemos muito tempo na praia que é fenomenal... chegámos a ir a Setúbal a um bar à noite, ver um amigo dela a tocar Didgeridú.
- Did... quê?
- Aqueles troncos escavados que se sopra por um bucal e faz um som todo marado uuuuóóóóóóiiiéééummmm Prrreeuu!, aquele daquela música dos Blasted...
- Ah ya...
- O gajo constrói aquelas cenas... fica muito bacano. Vai buscar os troncos à serra da arrábida, escava aquela cena, pinta-lhes umas cenas, uns lagartos... E o ambiente tava muito boa onda, basta sair de Lisboa que o ar fica diferente. Epá, aquilo é que é qualidade de vida.
- Não te desvies da conversa. Ainda por cima se foste a um bar... à noite... em Setúbal... calculo que tenhas levado pelo menos uma muda de roupa. Portanto ias preparado para o que pudesse acontecer.
- Pronto, tá bem... pá... eu fui lá porque estava naquela de a conhecer melhor. Conhecia pouco, mas gostei bastante do que conhecia... e como ia de férias depois disso, achei que era a melhor altura para ir.
- E então?
- E então que agora conheço um bocadinho mais, e gosto ainda mais, e esse é que é o problema.
- Problema porquê? Tá bem que ainda é um bocadinho longe...
- Hmm sim, e sabes o que eu penso dessas cenas. Mas por acaso não era a isso que me estava a referir. Neste caso eu até estava disposto... temos sempre a tendência de sobrevalorizar o que está perto, porque parece maior. Mas nem sempre é assim. Estava pronto para fazer disto uma excepção... porque...
- Porque ela é excepcional.
- Parece-me que sim.
- Então... qual é o atrofio?
- Epá... não correu como eu idealizei. Eu achei que a gente se estava a dar muito bem, e resolvi ver até que ponto era verdade e fui lá passar dois dias com a miúda. Só que depois cheguei lá e bloqueei,não consegui falar quase nada, era só a miúda que se desunhava, e eu ali, quietinho e calado, a admirar.
- Ehehehe granda grização... nem parece teu! Costumas ser todo bazófias e gozar com tudo...
- Pois... a cena é que fiquei caladinho e quanto mais conhecia dela, menos me conseguia dar a conhecer. E não sei até que ponto é que isso terá sido ou não determinante...
- Determinante para quê?
- Epá... eu acho que não lhe agradei.
- Mas tu és parvo? Ouve uma coisa: tu não agradas só pelo que pareces ou pelo que grunhes ou pelo que fazes. É questão de química. Ou sim ou sopas. Infelizmente não há muito que possas fazer para mudar essa realidade binária, por isso acho que não deves estar a tentar arranjar responsabilidades tuas.
- Tá bem, mas mesmo assim ... é que tu não estás bem a ver. Para quem esteve só umas poucas vezes junto, até ficámos bem próximos. Eu não cozinho para todas as raparigas que conheço! Pode até sair uma grande merda, mas... é a minha merda. Acho que é especial fazê-lo. E muitos abracinhos e festinhas... um gajo fica abananado. E depois é este cheiro a protector solar misturado com perfume que não me sai do nariz... é tão bom que é quase intoxicante!
- Bem me pareceu que não tinhas só ido lá só porque te deu um grande vaipe. Tavas-te a meter todo na casca porquê? Já não tás em Azeitão!
- Pá... ainda não pensei bem sobre isto tudo. E por isso custa-me estar a falar sobre uma coisa que ainda nem racionalizei... limito-me a senti-la, estás a perceber? E é uma cena que começou por ser interessante, depois agradável... depois Zen... e depois começou a ser um bocado inquietante e menos agradável, um bocado angustiante!
- Ehehe tu e o Zen...
- Pois! Para mim Zen é um cheiro maravilhoso a perfume e protector solar misturado com o cheiro natural de uma moça fixe, estar deitado na areia ao sol, abraçado a ela e virado para ela, enquanto me mexe no cabelo e fala baixinho comigo, com uma voz que provoca diabetes, e com o nariz dela a meio centímetro do meu. Mas, claro, não lho disse. Só disse que estava Zen. Mas perguntei o que é que ela achava que era Zen.
- Moça fixe... humm... tu e o fixe. Acho que não é bem fixe a palavra que define essa situação. Mas isso aconteceu? E que é que ela disse que era Zen?
- Aconteceu. Até por mais do que uma vez e por longos de tempo. Foi muito, muito bom... Ela disse que para ela Zen era estar numa banheira com água quentinha e sais ou espuma, já não me lembro bem... eu até disse que ela podia pôr umas pétalas de rosa, mas ela disse que nem era preciso. Enfim...
- Se calhar estava a pensar no banho, mas com companhia...!
- Ahmm... não, não estava. E fiquei naquela: perdi uma boa oportunidade de tar caladinho, visto que ela não achava aquela situação presente como originadora de um estado Zen. O meu Zen não era o Zen dela.
- Ela não te disse isso. Tu é que achaste.
- E o que eu acho não tem tanta ou mais importância do que aquilo que é dito?
- Não tinhas dito que tinha sido muito, muito bom? Qual é o problema?
- O problema é que o que aconteceu, de facto, foi muito bom. E eu até nem me importava que continuasse assim. Não fiques com ideia que eu tou com pressa de alguma coisa, não é isso. Mas tenho que ter uma boa dose de certeza que estamos mais ou menos na mesma onda. E eu acho que eu estou no pico da serra da arrábida e ela está cá em baixo na praia, percebes?
- Não.
- Alguma coisa me diz, o meu instinto é...
- Ela esteve abraçada a ti, não esteve?
- Ya.
- Esteve mais próxima de ti do que o socialmente aceitável, não foi o que disseste?
- Sim, muito mais do que o socialmente aceitável.
- Convidou-te para lá dormires, não convidou?
- Sim, mas foi porque dava jeito!
- Oh pá, então eu acho que há qualquer coisa, pá... tás aí mas é a engonhar, e cá para mim acho que foste foi um granda menino que andou para lá a anhar e a dizer tou zen, tou zen... e depois não se orientou! Sabes o que tu és? És um granda anhado! Não deste andamento à cena!
- Epá... eu só gostava era que tu sentisses o que eu senti e não estavas aí a dizer isso. Sabes que o que é mais difícil para mim de lidar... é quando eu vejo que não há nada que eu faça que seja capaz de marcar a pessoa; e ao mesmo tempo, vejo que há montes de coisas nessa mesma pessoa que me agradam, e que ela nem precisa de se esforçar para me marcar a mim.
- Epá, eu já tou um bocado farto dessa conversa do "fico desinteressante quando tou interessado". Para mim continuas a ser um menino porque não tentaste, não te desbroncaste. Pregavas-lhe era um beijo!
- Não senti que fosse isso que ela estava à espera. Apesar de toda a situação, de todo o contexto, da proximidade... não sei explicar. Até posso estar enganado, mas não me arrependo de não ter tentado. O que me faz confusão e me deixa triste é mesmo pensar como é possível estar tão próximo de uma pessoa, próximo demais, segundo os meus padrões, e ter uma impressão doida que a outra pessoa acha aquilo perfeitamente normal, que é só coisa de pura amizade.
- Tu já não és um miúdo pequeno, e devias saber que as mulheres às vezes são assim. Querem atenção, gostam do carinho, até fazem coisas para chamar a atenção, inconscientemente, do rapaz, mesmo que não queiram nada mais com ele.
- Ouve lá, e eu também gosto de atenção e carinho... mas só me meto em algumas situações se for bastante mais do que isso!
- Mas as pessoas são diferentes...
- Houve uma altura, quando me deitei de sábado para domingo, depois de irmos ao tal bar, que estava um bocado irritado e susceptível, e ela até notou isso, mas eu fingi que não, que era para não estar ali a ter que desbroncar-me todo. Ia lá o tal bacano do didgeridú a casa. Se eu dissesse alguma coisa, é como os fios dos collants, se tu puxas nunca mais acaba, e naquela situação ainda dormia era na rua ehehehe!
- Ou então acabavas aos beijos com ela, não sabes!
- Epá cala-te lá, parece que não ouviste nada do que eu disse.
- Sim, continua... estavas irritado?
- Epá, estava, porque me estava a sentir um bocado torturado com aquela situação. Por um lado, imensos carinhos, bons, óptimos, e eu todo derretido com aquilo tudo. Por outro, via-a quase imperturbável, não havia um único sinal de hesitação, de nervosismo, enfim, até às vezes parecia que eu não estava lá!
- Não te esqueças que ela estava a jogar em casa.
- Epá... não jogou em casa porque não jogou, nem defendeu, nem atacou, nem nada! Nada que eu percebesse como inequívoco de uma posição. Não foi carne nem peixe.
- Foi marisco! Mas pelos vistos tava verde, não é?
- Eheheheh!!...
- Mas continua!
- E então, fui-me deitar. E pensei comigo: "se neste momento fosse de manhã, acho que me ia embora a pé e depois falava com ela, já não aguento mais, isto é de pôr um gajo com a cabeça a andar à roda!... mas vou agora descansar... durmo bem, amanhã de manhã logo vejo se ainda penso assim...".
- E acordaste...
- Acordei, bué cedo, até nem parece meu! Acho que foi de começar a regularizar o sono, porque também tinha acordado mesmo cedo no dia anterior por causa do autocarro. Dormi no quarto dos pais dela, eu só queria um canto da sala para dormir, sabes como é, gajos rijos dormem até no chão... mas ela quis meter lençóis todos bonitos e que eu dormisse ali, enfim...
- Granda menino, ias era ao quarto dela durante a noite!
- ... continuando: liguei a tv, meti-me a ver os Simpsons na Fox, depois fui à cozinha comer qualquer coisa, vim fora de casa, dei uma volta, voltei à cama e vi mais dois episódios dos Simpsons, até que finalmente ela acorda. Achei por bem não me ir embora sem me despedir... de manhã eu ainda estava um bocado chateado comigo mesmo por não conseguir ser imune a estas cenas. Mas estava menos. Se estivesse igual tinha mesmo ido embora a pé até à paragem das camionetas... e eu nem sabia o horário, mas não interessava. Havia de passar uma casal boss e um velhote, e dava-me boleia ou assim.
- Mas ela acordou...
- Pois, aí é que está! Acordou e veio com umas bermudazinhas (aqueles calçõezinhos mesmo à rapariga, bué curtinhos, acho que são bermudas, n sei) com o snoopy e um topzinho (era o pijama dela) e toda bronzeada e tal, deitou-se encostada ao meu lado, deu-me um beijo enorme na cara e disse que tinha estado a sonhar comigo.
- AHAHAHAHAHAH! Que grização!- Acredita... eu ali todo rijo, vou a pééé! e vou bazar daquiiii!!! E sou buéda mauuu! Em dez segundos, o meu sangue todo circulou 50 vezes pelo corpo e mudei de ideias. Claro que acabei por ir à praia e mais não sei quê e só bazei à noite de lá.
- Então... mas ficou tudo bem. Se ficaste lá, onde é que está a crise?
- A crise está, que continuei com a mesma sensação, apesar de isso ter acontecido de manhã. Por um lado mudei de ideias, mas por outro fiquei com aquela ideia que aquele momento serviu só para baralhar o meu raciocínio, chegou naquele momento em que eu estava a preparar-me para tomar uma atitude, mas desestabilizou-me... e no entanto a minha atitude se calhar teria mesmo sido a mais sensata.
- Epá, foi tormenta para mais um dia, mas também serviu para fortaleceres as tuas opiniões e para ficares com mais dados...
- E para ficar mais confuso. Confuso não, um bocado triste. O que eu queria era ser especial para ela, não queria mimos ou massagens ou...
- Massagens? Mas ela fez-te massagens?
- Fez, ela tem jeitinho... mete uns cremezinhos... e sabes que eu sou maluco por cheiros... fez-me umas depois daquilo dos Simpsons, tava eu estendido de barriga para baixo lá no tal quarto.
- E não te achas especial?
- Ao que parece, ela faz isso aos amigos de quem gosta. Também fez ao bacano do Didgeridú, que veio connosco à praia várias vezes.
- Como é esse gajo?
- Epá... é um gajo à maneira. Engraçado, simples, deixa o pessoal à vontade... não há nada a apontar! E tu sabes como eu só digo mal do pessoal. Se fosse um tótó ou um gajo com a mania que é cromo eu dizia-te logo.
- Pois, eu sei. Custa a crer. Gajas demasiado giras e demasiado queridas, normalmente atraem gajos demasiado cromos. Aliás, dá para ver por ti.
- Ah que fixe!! Que piada de merda... epá, só queria que visses como é que ela me apareceu à frente quando foi para me ir buscar, quando eu cheguei de lisboa... ah e tal, tive pouco tempo, saí à pressa de casa, desculpa tar atrasada e quê... mas: toda penteadinha, ganchinhos todos giros, altos brincos, perfume bué bom, toda top com decote giro, toda minissaia a arrebentar com o pessoal todo das redondezas que parecia que tinha caído ali uma granada, e umas sandálias que a faziam mais alta que eu. Se de cada vez que eu saio de casa assarapantado mandasse uma pausa assim...
- Pois, puto... não sei que te dizer... já sabes que cenas de gajas são sempre uma granda merda.
- Como eu tava a dizer há bocado, o que eu queria era ser especial para ela. Os mimos são muito bons, mas não significam o mesmo se tu te convences que ela não está a sentir o que tu sentes quando lhe fazes os mesmos mimos.
- Isso tu não sabes, há pessoas mais explícitas que outras. Mas não é isso que me faz confusão nessa história toda. As pessoas vivenciam essas situações de maneiras diferentes, ela se calhar é fechada como uma ostra, enquanto tu dás mais nas vistas do que um fogo de artifício. E eu sei como tu és e tou mesmo a imaginar tu todo derretido com cara de "se morresse agora morria feliz". O que me faz confusão é que ela devia-te ter topado essa onda e agido um bocado mais em conformidade, para o bem ou para o mal. A cena é que elas muitas vezes não agem para não perder a atenção e o carinho, mas... até isso tem limites. Normalmente nenhuma gaja gosta de ter um gajo agarrado a ela tipo lapa se estiver farta de saber que ele gosta dela. Eu também não gosto cá de muitos abraços e muitas mãos dadas com gajas se souber que o que elas vêem em mim não é bem um amigo.
- Pois... sabes que ela já se queixou de alguns rapazes, que eram muito amiguinhos... e que depois se puseram com coisas porque gostavam dela, e depois afastaram-se e não sei quê, numa atitude muito trágica... eu percebo bem como é que passaram a gostar dela, e também percebo que deva ser um bocado mau para ela. Por isso disse-lhe que não ia ter problemas comigo.
- Mas...?
- Não há mas! Uma pessoa habitua-se à ideia, que remédio! Tenciono honrar o prometido. Quando lhe disse isso já estava a tentar ser especial para ela, mas o facto de estar a tentar seduzi-la não significa que tenha mentido.
- Essa merda do "eu quero ser especial"... tu és é um creep, um weirdo! E não pertences aqui! ehehehe!
- Tás com umas graçolas... que deus ma pardoe... por acaso fui a ouvir isso no autocarro durante o regresso!
- Eixx que lindo! Que melodramático! Tou a ver o filme! Tu, no autocarro, no escurinho, a passar a ponte, com as luzes de lisboa do outro lado, sem ninguém no autocarro, a ouvir essas músicas. Ahahahaha! E a Black, dos Pearl Jam? Ahahaha!"I know someday you'll have a beautiful life, in know you'll be a star / In somebody else's sky, but why, why why can't it be mine?" tururu tu tururuuuu... ai, que grização...
- Por acaso ouvi!
- Bem me tinha parecido... então e como foi a despedida?
- Epá, foram fixes... ficaram comigo na paragem à espera do autocarro, ela e o gajo do didjeridú. Ainda foram uns 20 minutos... mas eu estive sentado no banco ao lado dela, a receber umas festinhas na nuca!Depois o autocarro veio de repente, não deu para grandes despedidas, foi tudo muito atabalhoado, dei-lhe um beijo ao mesmo tempo que ela a mim, uma coisa assim muito esquisita que quase não era na cara... se calhar a culpa foi minha por causa do desespero, ou então foi dela... ou então isto sou eu a querer que a realidade se adeque ao que eu idealizo. Só sei que foi mais uma cena para aumentar a confusão!
- Foste menino! Arriscavas! Depois bazavas, de qualquer maneira! O que é que podia correr mal? O que ainda podia acontecer era teres que mandar o homem do autocarro embora!
- Só me lembrei disso depois... mas não sei se teria tido lata para o fazer.
- Lá está! És um granda tótó! Olha puto, mas a sério, tu é que sabes, tu é que estiveste na situação, e se achas que alguma coisa não encaixava... é porque se calhar era verdade. As coisas são como são, as pessoas são como são, e só acontece o que tem de acontecer. Se não aconteceu... é porque um de vocês ou os dois não queriam assim tanto. E se ela estivesse a sentir o mesmo que tu, haveria de arranjar maneira de o mostrar sem margem para dúvidas. Mesmo as pessoas tímidas e que se reprimem ao máximo, chega uma altura em que se descaem... nem que seja só por um momento, uma coisa que se diz, ou se faz, sem querer... e parece-me que não foi esse o caso, pois não? Senão tu tinhas notado. Mesmo estando caidinho como estás, e nota-se a léguas... tu até és um gajo observador, e não ias deixar isso em claro.
- Mais uma vez te digo: não é que tivesse de acontecer alguma coisa. Não era preciso nada... mas gostava de ter ficado com a sensação que não era só eu a sentir-me esquisito e nervoso no bom sentido.
- Bem... então vê isso como se fosse uma virose. Não eras tu que estavas com uma amigdalite? É a mesma cena... se tudo correr bem daqui a uns dias passa! E aí vais poder honrar a tua "promessa".
- Ya, é capaz de ser melhor assim.
- Puto! Vou pa casa. Tá a ficar fresco.
- Ok jovem, até logo! E não te esqueças que não tenho net, se não me vires no msn não te admires!
*
In "Excertos de Conversa do STP com o Acre" :)

8 comentários:

  1. Gosto da versatilidade com que escreves (como escreves e sobre o que escreves). Não sei quão reais são as tuas histórias e também não é isso que interessa para o caso, o que interessa é o produto final, é o conseguires ou não manter o leitor preso ao texto. Consegues. Normalmente diz-se que um bom escritor tem um cunho pessoal, reconhecível em qualquer texto que escreve, eu não concordo inteiramente com isso, acho que é na versatilidade, na capacidade de surpreender, é que está a genialidade. Quase não te reconheço em alguns dos teus textos e acho isso muito positivo. A capacidade de surpreender, não só ao longo do texto, como com a assinatura, que revela o autor, é um mérito que já ninguém te tira.

    Já agora, não estou a tentar desculpar-me pelos comentários pouco cordiais em relação ao teu texto anterior. Quando gosto, gosto, quando não gosto, não gosto, e na generalidade gosto do que escreves.

    Um comentário directo ao texto: cinco estrelas para a forma como o “João” tratou a “amiga”, mas às vezes aquilo que disseste, que ela não estava a jogar, nem sempre é o caso, o jogo é exactamente fingir que não se está a jogar e ficar à espera da jogada do adversário, para contra-atacar. Mas não devo estar a dar-te novidade nenhuma. :)

    Sofia

    PS: Gostas mesmo de escrever ou é só um passatempo?

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  2. ...e depois o tampão transformou-se em abóbora e foi um sarilho para deixar o chão limpo outra vez.

    Agora a sério, óptimo texto, meus caros amigos João e João. Os meus parabéns a ambos.

    Rui.

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  3. Adoro o q escreves chavalo! fdx
    passo-me com a tua versatilidade (como a Sofia bem observa)

    Mas não esqueças que a insegurança nunca levou ninguém a bom porto :|

    beijas *

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  4. e não posso deixar de fazer a piadinha... DESCULPA :p

    "nem a bom porto quanto mais ao portinho da arrábida!!"

    :x *

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  5. Escreves bem..... mas não deixas de ser tótó!

    hi hi hi

    Abraço

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  6. Caros amigos leitores:

    Cá estou eu de volta dos meus diazinhos de férias, com algum sol e alguma chuva, e uma pitada de emoções fortes, tal como umas férias devem ser.
    Gostei de chegar aqui e ver vários comentários, mas ainda gostei mais de constatar que o pessoal gostou de ler o que eu escrevi.
    Desta vez, não me apeteceu ser eufemístico nem alinhavar por metáforas ou recursos estilísticos que pudessem de algum modo turvar a pureza de uma situação claramente autobiográfica e verídica. Não a conversa: essa tive-a comigo mesmo, na minha cabeça, e o emissor, receptor, canal, ruído, mensagem e resposta foram apenas um emaranhado de sinapses que não consegui evitar passar para o "papel". Dessa forma, nasceu o texto.

    Eu acho que há escritores que escrevem basicamente sempre na mesma linha: há o exemplo do Paulo Coelho, que não é de forma alguma dos meus preferidos, mas cujos livros que li tinham um ambiente muito semelhante; como contraponto temos o Gabriel Garcia Marquez, que esse sim é um dos meus preferidos, e que escreve sempre na mesma onda. Ou seja, o que quero dizer é que a versatilidade pode não ser essencial, mas com certeza que ajudará muito...
    Eu escrevo porque não consigo deixar de o fazer. E utilizo esta minha faceta como escape das ideias que fervilham na minha cabeça; como massa viva de acumulação das minhas frustrações; como canalização da minha maneira de ligar situações de vida.

    Neste caso, o texto surgiu como decalque cru de um dilema com que me deparei, e que não sabia bem pelo que optar: ser mais comedido, mais introspectivo e optar pela parcimónia e pela partilha de papel activo com a pessoa-sujeito que é, no fundo, o tópico do texto; ou ser mais activo, tomar as rédeas da situação e conduzi-la à meta ou ao iceberg.
    Mais uma vez, Sofia, o meu muito obrigao por "me" leres. Vou tentar continuar a surpreender, porque mesmo que eu escreva primariamente sem que haja um público-alvo (à excepção de casos particulares de textos, e este nem era bem um deles), a verdade é que também é muito bom saber que gostam de ler o que se escreve.
    Sobre a tua pergunta, acho que já respondi mais ou menos. Um passatempo não é, porque isso por definição é uma coisa que se faz quando se tem tempo e nada para fazer, e eu, se for preciso, escrevo na véspera de um exame, quando supostamente devia era estar a marrar. E porquê? Porque tem que ser - a ideia até pode ter surgido há algum tempo atrás, mas se chega ao ponto de amadurecimento em que está pronta para ser escrita, tem que ser naquela altura, senão não vai ser escrita. É por isso que tenho imensas coisas escritas no pc que nunca irei pôr no blog: tive que as interromper por qualquer razão, e depois perdeu-se o fio à meada, ou o "balanço". Se calhar isto é um método de selecção natural, quem sabe?

    E já agora: eu sei que a tratei muito bem, nem esperaria outra coisa de mim mesmo. Mas um dos dilemas do texto era mesmo esse: até onde é que acaba o "tratar bem" e começa a "totozice"? :)

    O jogo é exactamente fingir que não se está a jogar? Bolas... uma pessoa entra equipada para o relvado, faz a vénia ao público, faz o aquecimento, das bancadas gritam o seu nome, começa a partida, e quando um gajo chuta a bola e ela vai em direcção à baliza e a multidão vai gritar golo, chega-se ela e leva a bola para casa e acaba-se a festa? Bah...
    Eu gosto muito de brincar e de jogar, mas é preciso ver se há regras, e as regras são: não fazer determinadas coisas se de facto não se está a jogar. E se se está a jogar, que se dê a entender se é só o jogo pelo jogo (porque desde o início se soube que assim era) ou se poderá ser algo mais. Não há jogo nenhum no mundo em que não haja uma regra ou outra :\
    Contra-atacar? Sim, concordo. Não é meter o autocarro em frente à baliza mal começa o jogo. Mas... sobre conchas falarei em breve no próximo post :)

    "nem a bom porto quanto mais ao portinho da arrábida!!" - what can i say? É uma comediante portuguesa lol... e eu sou inseguro? Aonde, minha amiga? Eu sei sempre o que quero! Não sei se é o melhor, mas sei o que quero e faço por tê-lo! Olha questa... ninguém me pode culpar de não ter criado a situação: reguei os fardos de palha com água-rás, meti umas ventoínhas a funcionar por perto, a temperatura estava ao rubro... até lhe dei para a mão a caixa de fósforos, se não riscou um foi porque não lhe apeteceu :P

    Chico, eu sei que sou tótó. Mas a minha totozice até me tem levado por bons caminhos: confesso que a situação foi um bocado frustrante, mas agora que vim de férias e consigo perspectivar as coisas de outra forma mais madura, a verdade é que deus é capaz de ter escrito qualquer coisa certa por linhas um bocado desagradáveis, mas que até eram paralelas, se formos a ver bem ;)

    Headache, finalmente tu! Ainda bem que gostaste ... :)
    Sobre a foto: naturalmente, foi tirada na arrábida. Quando a tirei, ainda não tinha percebido bem porque é que a minha retina tinha sido tão estimulada por aquele conjunto de formas, mas a verdade é que soube imediatamente que ela iria ilustrar este texto.
    Embora ele só tivesse sido escrito depois de alguns acontecimentos descritos no texto, a verdade é que eu já sabia mais ou menos o que ia acontecer :)
    Repara que a estaca é daqueles toldos de praia, e na foto, devido à perspectiva, parece muito maior do que o monte que aparece mais ao fundo. Mas nós sabemos que é só ilusão, não é?

    Um abraço a todos, e até muito breve...

    stp

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  7. Coisas que me ocorreram entretanto:

    1 - Anteontem deu um episódio do inspector max... e acho que aquela treta era em Azeitão, lá numas caves e adegas... em que eles faziam um vinho moscatel todo importante e muito bom. E o max andou a beber das torneiras das pipas e ficou doente, com uma granda bebedeira.
    Caro max, as melhoras: acho que sei o que é ser-se um cãozinho bêbado. Mas deixa lá, que isso passa. É preciso é ter-se paciência com a ressaca. Bebe aguinha fresca.

    2 - Reparei por acaso que a estaca do toldo da fotografia que ilustra este post... com um bocadinho de imaginação parece um Didgeridú! Claro que eu quando tirei a foto já estava a imaginar os planetas a alinharem-se e as coisas a fazerem todas sentido umas nas outras. Claro, estava tudo calculado...
    ...
    ou não.

    Abraços e peço desculpa por mais esta interrupção! Bem hajam!

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