12 de maio de 2006

A minha pedra preciosa

Quando acordei naquela manhã com umas dores abdominais difusas insuportáveis, percebi logo que aquele ia ser um dia especial, daqueles marcantes, que mudam o rumo da vida de uma pessoa. No hospital deram-me injecções para aguentar a dor, e disseram-me para beber muita água em casa. Disseram-me também que o problema era num uretero, e que provavelmente ia dar à luz num dos próximos dias. Aconselharam-me a ter cuidado quando fosse à casa de banho, não fosse o rebento cair também na sanita, juntamente com as águas.

Satisfeito, fui para casa. Sim, satisfeito, porque apesar de não ter útero, tenho uretero (e logo dois!) e se o nome não é muito diferente, a função também não deverá variar muito. E eu sempre quis ter um filho. Mal cheguei a casa, fui logo pesquisar na internet. Como se teria formado o meu menino? Que nome lhe daria? Naquela altura tive a certeza de que carinho não lhe faltaria. Disseram-me no hospital que aquele era o primeiro de vários que um dia poderiam nascer também, visto que se viam em formação na ecografia. Ou seja, o meu filhote irá ter maninhos!

Poucos dias depois, enquanto mijava para um alguidar (não fosse eu perder o menino juntamente com a água do banho), finalmente pari. Eureka! Mas não flutuava, o que dizia muito do seu peso. Três quilos e setecentas! That's my boy! A avaliar pelo seu aspecto verde escuro, homogéneo, parecia uma safira pronta a polir.Decidi chamar-lhe Pedro. Pedro Rocha. Sempre achei que deveriamos olhar para a cara do recém-nascido antes de lhe darmos o nome, porque muitos nomes influenciam o carácter da pessoa. E este tinha mesmo cara de Rocha. Parecia aquele do Duarte e Companhia.

Claro que comecei logo a fazer planos para o futuro do Pedro. Ele tinha necessidades especiais; não poderia andar na escola como os outros meninos. Ele não é violento, mas como é muito rijo e com arestas poderia magoá-los nas correrias próprias da infância. E sabemos como as crianças podem ser cruéis umas com as outras quando detectam alguma diferença. Não que ele seja muito diferente dos outros, mas é preciso uma pessoa como eu, madura, adulta e equilibrada, para perceber que no fundo vão todos dar ao mesmo. Só que eu gosto mesmo muito do Pedro e quero o melhor para ele.

Ainda me lembro de como foi concebido com amor! Com muito chocolatinho, muito sal na comidinha, pouca águinha (afinal, não queria que ele se constipasse enquanto crescia devagarinho na minha barriga), muita carninha da melhor, vermelhinha e tudo! Pois claro que o Pedro tinha de sair especial. Os meus pais não acharam muita piada por ter um filho tão novo, e por ter engravidado sem mãe. Afinal, uma criança precisa da influência dos dois pais! Mas eu convenci-os quando disse que apesar de ter nascido com muita dor, era muito desejado com certeza. É o produto do meu amor pela boa vida.

Um dia, quando for mais velho, vou levá-lo a passear a sítios bonitos, para que possa ver os tios da Peneda Gerês, os sobrinhos das Penhas Douradas, um primo afastado que nasceu numa pedreira mas teve muita sorte e até está bem na vida - deu origem ao CCB - e as fragas da serra da estrela podem ser suas amigas quando despertar para o sexo oposto.
Quando souber ler, vou poder mostrar-lhe um novo amiguinho imaginário, que o Obelix traz sempre às costas. "Vês, Pedrinho? É o Menir!". Os miúdos precisam destas referências culturais para poderem crescer em harmonia.
Também passarei com ele pela coluna de pedra em que bati com o carro há poucos dias, para que aprenda os perigos de permanecer à beira da estrada.

Depois, quando for adulto, auguro-lhe um futuro excelente. Se o Cutileiro for vivo, e se entretanto tiver havido outra revolução, talvez possa meter uma cunha para que transforme o meu filho numa bela estátua, assim numa estação de metro ou no topo de um grande jardim lisboeta, para que toda a gente o possa ver! Ou então talvez os Duques de Bragança possam encomendar um conjunto de jóias da coroa inteirinho. Três quilos e setecentas devem dar para fazer um brilharete.

8 comentários:

  1. Opa, fartei-me de rir! Isto tá lindo! Tnh a dizer que talvez desses um bom pai :) LOL
    Beijo :p

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  2. Pedro Rocha? Isso é o nome do meu irmão! hahahahaha ele vai adorar ler exte texto, cromo

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  3. NESTE MUNDO SÓ PODE HAVER UM PEDRO ROCHA, E EU JÁ CÁ ESTAVA ANTES!

    Parece-me que o teu rebento vai dar um longo passeio falésia abaixo...

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  4. Lolol!!! Brutal. Essa criativiade não pára. E eu penso: De alguma coisa valeu essas dores fortes no rim ;) Muito bom john. Que bela história de embalar o menino de pedra que causou dores a nascer mas foi bastante acarinhado pelo pai extremoso. 1 abraço.

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  5. Sentido de humor acima de tudo!
    Costumam dizer que o que custa é ter o primeiro..que depois os outros já saiem com mais facilidade...espero que seja verdade! ;-)
    Os meus sinceros desejos de melhoras! Beijinhos!

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  6. Essa do teres de te abanar para as pedras se desprenderem...

    Realmente é quase como ter um filho a contar pela quantidade de calhaus que habitam este planeta :P

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  7. LOL!!

    Lindo, lindo!!

    Rita R.

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