30 de dezembro de 2004

A propósito da "cannabis"...

Análise dos efeitos negativos da "cannabis" por técnicos, utilizadores e políticos.
O "senso comum" gere a opinião pública.


"A decisão de condicionar ou não a venda de certos objectos tais como armas de fogo, armas brancas ou de certas substâncias como o veneno para ratos ou a cannabis é, essencialmente, política.
Quando alguns políticos pretendem tomar uma decisão, frequentemente pedem a opinião a peritos especializados que têm um saber específico sobre a utilização, as características e as consequências de determinados objectos. Umas vezes, fazem-no para avaliar qual a pertinência das medidas que propõem, dos riscos ou consequências eventuais dessas mesmas decisões, e, outras vezes, pretendem justificar as decisões que à partida já estão tomadas e que são de cariz puramente político. Deste modo, infelizmente, em certos pareceres os peritos surgem mais como álibi do que como ajuda à decisão.
A atitude perante a utilização da cannabis tem sido objecto de grande paixão e, certamente, os interessados em jogo são os motivadores da organização dos lobbies que a ela estão associados. Os argumentos que circulam na opinião pública a favor ou contra o consumo "hedonístico" ou "terapêutico" da cannabis baseiam-se contudo no "senso" comum, mas as paixões vivenciadas e o "militantismo" desencadeado são enormes.
Ao nível técnico, os inconvenientes e riscos da utilização da cannabis são plenamente conhecidos, pois a literatura científica é pródiga em demonstrá-los. Tanto do ponto de vista psiquiátrico como do ponto de vista somático parece existir, entre os peritos, um certo consenso relativamente às consequências negativas que o consumo da cannabis provoca.
Fazendo uma rápida revisão sobre alguns dos artigos publicados ultimamente, para além de muitos outros inconvenientes apontados, vamos salientar os que se inserem no âmbito psiquiátrico:

- o consumo excessivo da cannabis está associado à antecipação de uma primeira descompensação de tipo esquizofrénico, cerca de pelo menos três anos e meio, em relação aos sujeitos abstinentes;
- o consumo de cannabis parece funcionar como um risco acrescido no desencadear de um primeiro surto de esquizofrenia em pessoas sem antecedentes, com particular incidência em pessoas vulneráveis;
- o consumo de cannabis parece ter uma relação causal com a psicose;
- em determinados casos a utilização da cannabis está associada ao desencadeamento de ataques de pânico e perturbações de pânico.

Gostaríamos de sublinhar que, na nossa experiência de mais de 30 anos de prática clínica psiquiátrica, inúmeros são os casos de jovens que foram acompanhados devido a descompensações psicóticas, infelizmente graves na maior parte dos casos, ligadas ao consumo de cannabis.
Ao nível somático, também têm sido descritas perturbações variadas que vão desde o desencadeamento de pancreatites que se manifestam terapeuticamente sensíveis à abstenção da cannabis até à manifestação de arterites que se apresentam também sensíveis à abstinência.
Realçamos ainda que estão descritas a acção teratogénica da cannabis, as perturbações ocasionadas no sistema imunitário, o aumento do risco de cancro no tracto respiratório e a influência nociva sobre a condução de veículos, sobretudo se associada ao consumo de álcool, facto que é frequente.
De maneira genérica, a avaliação objectiva e subjectiva dos utilizadores excessivos sugere, a longo prazo, inúmeros elementos negativos associados ao consumo de cannabis.

Em conclusão, numa perspectiva puramente científica e técnica, consideramos que não há razão para afirmar que a utilização da cannabis é mais inócua que outros comportamentos de risco tais como a roleta russa, circular a alta velocidade em contra mão ou ter relações sexuais não protegidas com desconhecidos, desvalorizando os efeitos negativos que daí advêm, para si mesmo e para os outros.

João Hipólito
Director do Departamento de Psicologia e Sociologia da Universidade Autónoma de Lisboa"

Caros leitores: num destes dias passei os olhos por uma estante em que se encontravam diversos panfletos e revistas, numa biblioteca do Hospital de Santa Maria (tinha ido para lá estudar). Li este artigo, gostei, ri-me, e achei que talvez vocês também gostassem de ler. Bem sei que o blog tem primado pelos posts originais (no sentido de serem pessoais), mas considerem isto uma excepção.
Queria ainda deixar claro que, contrariamente aos meus posts anteriores, o facto de este artigo ter uma tendência argumentativa, tal não significa que eu concorde ou discorde dessa tendência. Deixo essa parte para vós!
Um grande bem haja, e votos de um melhor 2005.

15 comentários:

  1. Antes de começar, queria desejar a todos um excelente 2005, apesar de o mundo não ter entrado da melhor forma.

    Já dizia um sábio cientista, de há uns poucos séculos passados, que "a diferença entre um veneno e um medicamento está na sua quantidade" (Paracelso). Uma droga como o diazepam (vulgo, de nome comercial, Valium) também dá a famosa síndrome de privação. O problema não está na síndrome de privação. A utilização da cannabis para efeitos terapêuticos não traz vantagens em relação a outros fármacos. É muito simples. Não tem critérios, não entra no mercado como fármaco.
    A problemática da utilização da cannabis como analgésico, em indivíduos com tumores, é bastante questionável. A morfina, em doses baixas, tem um efeito bem melhor que o delta-9-tetrahidrocanabinol. Quanto ao que o Jeff (ou Júlio Pink) disse acerca de colocar o tabaco, o álcool e a cannabis no mesmo saco, tenho que concordar. Todas elas, na sua devida dose, têm um efeito terapêutico. Por outro lado, todas elas dão sindrome de privação e a tendência risco/benefício cai mais para o "risco" do que propriamente para o "benefício". Existem estudos que nos dizem que os fumadores têm menor probabilidade de vir a sofrer de Doença de Alzheimer; o álcool, um a dois copos por semana (dose mínima terapêutica apontada em estudos), diminui o risco de surgirem patologias do foro cardiovascular, diminuindo o fenómeno de aterosclerose; a cannabis altera o estado de consciência, podendo (até certo ponto) alterar a percepção da dor. No entanto não vemos cápsulas de vinho, de nicotina ou até mesmo de cannabis, autenticadas pelo INFARMED. Por alguma razão isso se passa.

    No que toca ao que está escrito no artigo, não se essa pessoa é médica (se a pessoa em questão não é médica, esta afirmação está errada: "Gostaríamos de sublinhar que, na nossa experiência de mais de 30 anos de prática clínica psiquiátrica"), mas há aí uma série de coisas que ainda não estão bem provadas. É certo que o uso de cocaína, está relacionado com certas arterites, mas daí até a cannabis as provocar vai um passo de gigante. Há que VER bem se foi a cannabis a responsável por uma arterite, ou se essa pessoa, ALÉM de cannabis, não fazia outras drogas (como a cocaína). A nível das pancreatites, não vi nada que evidenciasse uma relação forte entre esta patologia e a cannabis, pelo que não posso inferir expressões como as que o autor desse artigo professou.
    Resumindo, têm um certo sentido algumas das coisas que ele diz, mas nem tudo o que está colocado tem um fundo de verdade.

    Bom tema que colocaste aqui, STP. Potencial gerador de discussão salutar. :)

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  2. Só alguns reparos, cybercool:
    O que está provado que pode diminuir o risco de doenças do foro cardiovascular é o vinho, e não o álcool. A cerveja também foi ligada à diminuição da osteoporose, mas não é por causa do álcool que contém.
    Para além disso, não querendo defender ou atacar quem escreveu este texto, a verdade é que não sei se nós, estudantes de medicina, temos conhecimentos a ponto de ir contra o que lá se diz sobre pancreatites, etc...

    Por fim, acho um piadão... que ninguém tenha tocado na dimensão humana e hedonística da coisa, bem como o direito ou não de consumir, e a dialética entre o uso da droga e o bom senso (ou não) a ele associado. Toda a gente usou a palavra terapêutica, alguns focaram aspectos legais... pergunto-me se os milhões de pessoas que fumam um charro de vez em quando se estão a preocupar para a vertente legal, terapêutica...
    Comentarei mais profundamente este texto quando estiver sintonizado :)
    Abraços...

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  3. Vocês já esmioçaram o assunto até ao osso mas, como ainda há tutano... vou meter a colher! Tenho como minha opinião pessoal que se a cannabis fosse realmente eficaz a nivel terapeutico já tinha sido utilizada e ponto final. Imaginem os tubarões da industria farmacêutica: "Ok, isso dá resultado, baixo custo de produção... mas como também pode ter efeitos nocivos quando em excesso...não!". Acho que a conversa não seria bem esta. Toda a gente sabe que a dose faz o veneno. O que me quer parecer, é que pessoas que tentam que haja uma legalização deste tipo de drogas, especialmente a cannabis, tentam arranjar um argumento forte para que tal aconteça. Que melhor que tornar a cannabis em medicamento? Dois coelhos seriam então mortos com uma bela cajadada: não só a legalização seria inevitável como também a imagem da cannabis seria limpa! Agora, outra coisa é andarem a prender, julgar e apreender pessoas que tenham uns pésitos para consumo próprio. será que não têm mais nada útil para fazer? Comecem talvez na fraude fiscal... digo eu não sei!

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  4. De facto a legalização da cannabis é um tema mais que batido entre os consumidores da mesma.Alguns dos participantes deste blog estão a tirar um curso na área da saude, e melhor do que ninguem sabem que o que administram nos doente não são mais do que drogas.
    Quando se pensa em utilizar uma droga, geralmente é sempre com a finalidade de aliviar uma dor, suportar uma carência, enfim, depende do que foi diagnosticado.No caso da cannabis esta administração é feito sem quaquer controlo e, em Portugal, de forma ilegal, e, só o facto de assim o ser faz com que seja uma das drogas mais comsumidas entre os jovens, não só porque é proibido, como é de facil acesso e extremamente barato.
    Não vos parece que legalizando esta droga como acontece noutros paises e restringindo o consumo ás ditas coffe shop's e casas particulares se conseguia um muito menor numero de consumidores? Eu acho que sim, mas mesmo que não a legalizem acho que cada um deve ser responsavel e saber qual é o limite e onde tem de parar. Eu já consumi, já parei. Sei de casos que não param, se é porque não conseguem?, não sei...sei é que não é por isso, e fazendo ligação com outro post, que não devemos julgar as pessoas que a consomem como DROGADOS, não é que não o sejam, porque visto que consomem drogas,logo são drogados, mas então, e as terapeuticas, fazem de nós drogados?....

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  5. Ora bem, deixa cá colocar isto por partes:

    1. STP, bem visto. Não tinha reparado nisso, mas acho que me fiz entender no que toca ao assunto. As próprias "cápsulas de vinho" que referi, deram para passar a ideia. No entanto, não deixa de ser um erro o que cometi.
    Acho que, como estudantes de medicina, temos todo o direito de nos questionarmos sobre o que é dito. Temos o direito de pesquisar, fundamentar e consolidar factos. Não há nenhum artigo ou nada descrito de que a cannabis provoque pancreatites ou arterites, durante a síndroma de privação (ou até mesmo antes). Não quero com isto dizer que não se venha a provar o contrário. Até aos dias de hoje não se encontraram efeitos graves produzidos pela cannabis.


    2. Júlio Punk, a única razão pela qual a cannabis não é utilizada para efeitos terapêuticos é porque existem fármacos com uma maior eficácia para QUALQUER tipo de patologia em que se aconselhe o uso de medicamentos psicotrópicos. No que toca à variedade, não sei se sabes mas a cada dia (em todo o mundo) são sintetizados milhares de novos compostos; apenas um deles será viável como medicamento. Logo, acho que o argumento da variabilidade cai por terra.
    Em relação aos comprimidos de vinho, não existem porque há uma forma de consumir, com efeitos benéficos. O INFARMED não tem a responsabilidade de dizer (em termos alimentares) o que é que faz bem e o que é que faz mal. Assim como também não viabiliza comprimidos de alface ou de outros "verdes". Porquê? Simples: porque não aparecem compostos desses no mercado. Estão disponíveis na comida.
    No que toca à síndrome de privação de cannabis, é igual quer para o álcool, quer para o tabaco. Está mais que estudado que a cannabis provoca síndrome de privação e que pode acontecer (não quer dizer necessariamente que aconteça SEMPRE) a partir do momento em que se consome 2-3 charros por dia, durante duas semanas (salvo erro). A síndrome de privação não é só caracterizada por tremores. Ansiedade e anorexia são sinais de privação de um determinado composto com acção sobre o sistema nervoso central.
    Quanto ao facto de a cannabis interagir sobre a anorexia, acredito que até tenha algum efeito. Uma das acções dos canabinóides é estimular uns receptores específicos que, por sua vez, dão a sensação de fome.

    3. Pedro, bom ponto de vista. Concordo com tudo o que foi dito.

    4. Pita, não percebi a relação entre a frase do Paracelso e a Grécia Antiga. O Paracelso não tem relação alguma com a Grécia Antiga. É uma bonita frase, mas é verdade. A gasolina e o diluente certamente que aos nossos olhos não têm efeito terapêutico benéfico. Os vapores de gasolina e de diluente interagem no nosso sistema nervoso. Mas, não existirão determinados compostos (provavelmente ainda por descobrir) que tenham uma acção benéfica e que estejam no que constitui aquilo que vemos como "gasolina" e "diluente"? Fazendo-me entender de outra forma: todos nós já ouvimos falar na dinamite, certo? Nitroglicerina. Se vos disser que a nitroglicerina (ou trinitrato de gliceril) é um potente vasodilatador, no mínimo riem-se. No entanto, é verdade. É um vasodilatador. Querem mais exemplos? Este está mais relacionado com a frase do Paracelso. Há muito tempo, devido à falta de higiene nos produtos conservados, as pessoas morriam devido à toxina do Clostridium botulinum, responsável pelo botulismo. Esta toxina mata por paragem respiratória, uma vez que há paralisia do diafragma. Os cirurgiões plásticos adoram isto. A Corporación Dermostética (ou lá como se escreve) ainda mais. Este famoso composto, conhecido por matar com uma eficácia brutal, abafa qualquer ruga de qualquer tia que exija uma testa exuberante e um pescoço mais plano que as dunas do Sara depois de uma tempestade de areia! Como esta toxina paralisa os músculos que provocam as rugas (músculos subcutâneos), sobretudo as rugas de expressão, as tias adoram e até (imagine-se) fazem festas, devidamente controladas, em que se injectam umas às outras. Enfim, futilidades da nossa sociedade.
    No que toca à questão final que colocas: se os sprays foram criados para serem aplicados de forma tópica, porquê inalá-los? É a mesma coisa que me estares a perguntar: "Qual o efeito terapêutico do Primperan quando desfazemos o comprimido e o inalamos?". Duvido que a pessoa em causa consiga tratar a sua gastroenterite depois de o inalar. O que quero dizer é que os fármacos têm determinadas aplicações para as quais estão indicados. Nada mais que isso. Os opiáceos que são utilizados na medicina, servem como analgésico. Os toxicodependentes utilizam-nos pelo seu efeito psicotrópico, em doses cavalares e totalmente discordantes com o efeito terapêutico benéfico (que é o desejável). A frase desse prelector tem um erro: todo o medicamento é uma droga; toda a droga é um fármaco. O problema está no significado que as pessoas atribuem a essa palavra. Acham sempre que a droga é a heroina, cocaína, cannabis, etc., quando é muito mais que isso.
    Em suma, não substimem a utilidade das substâncias que existem. Nem todas podem ser benéficas da forma que se apresentam, mas em determinadas concentrações, mediante determinados tratamentos químicos, podem ser excelentes fármacos.

    5. Anónimo, quanto à última parte do discurso, tens razão. Não são drogados, são toxicodependentes. É uma falha tão grande como dizer "raça" em vez de "etnia". Está mais que provado que não existem diferenças genéticas suficientes para considerarmos a existência de raças na nossa espécie.

    Um abraço a todos.

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  6. Caros leitores:

    Desde já quero congratular-me pelo efeito que o post suscitou nas vossas consciências. Naturalmente que é fácil alimentar discussões com este tipo de material, uma vez que oferece sempre várias perspectivas.
    Creio que já tinha oportunidade de o dizer, mas fiquei surpreendido com o rumo da troca de ideias acerca da cannabis; não tinha ideia que iriam focar tanto os aspectos farmacêuticos, digamos assim.
    Sobre o facto de não estarem descritos efeitos graves relacionados com o uso da cannabis, sinceramente eu nao fiz uma pesquisa sobre o assunto. No entanto, há vários indícios conhecidos sobre o uso de determinadas drogas, quer da cannabis, quer do álcool; não quero referir-me a alterações somáticas, (isto é, usando uma terminologia pouco precisa, alterações físicas), mas sim a alterações emocionais e ao nível comportamental e da personalidade. Julgo que ninguém me vai bater por dizer que acho que existem várias alterações a este nível, relacionadas com o consumo regular (não digo exagerado, porque é mais um termo que carece de objectividade) de álcool ou cannabis. Os estudos podem surgir ou não, pode haver conclusões científicas ou não sobre o assunto, mas a verdade é que todos nós temos capacidade de observar o que acontece à nossa volta. Não são necessariamente alterações negativas, mas a verdade é que (mais numas pessoas do que noutras) este consumo regular provoca modificações na pessoa. Resumindo: para o bem ou para o mal, não ficamos iguais ao que éramos, e quem assim o pretender arrisca-se a viver iludido.

    Sobre o binómio droga/fármaco, chamar drogas a todos os fármacos está já desajustado do ponto de vista da terminologia. O conceito de droga transporta em si uma componente simultaneamente pejorativa e hedonística, e o conceito de fármaco remete mais para uma substância capaz de provocar um dado efeito. A língua inglesa usa a palavra "drug" para ambos os sentidos; na minha opinião e na da maioria dos especialistas em farmacologia, os conceitos têm um certo grau de sobreposição dos seus significados (já que a componente hedonística de uma droga depende do seu comportamento farmacológico) mas são distintos entre si.

    Por fim, dando uma dimensão diferente à discussão, e correndo o risco de ser visto como um seguidor acérrimo da doutrina Carpe Diem (que não sou), a verdade é que não vamos viver para sempre. Todos temos o direito de fazer opções em relação a consumir ou não consumir determinadas coisas. A minha perspectiva é que é benéfico para mim seguir um rumo que não me desvie demasiado de um certo equilíbrio saudável. A vida é um equilibrio instável, mas não podemos ter a pretensão de que se permanecermos quietinhos no nosso sítio, comendo hortaliças, fazendo exames médicos uma vez por ano e correndo aos domingos no estádio nacional, usando uma máscara quando andamos nas cidades, etc... isso nos vai fazer de certeza ter melhor qualidade de vida e viver mais tempo. Acho que mais importante do que viver até aos 120 (altura em que provavelmente terei vivido os meus últimos 30 preso a uma bengala, muletas, cadeira de rodas, esclerosado, demente...), é tornar os meus anos de vida o mais ricos possível em termos de experiências, conhecimento, interacção com o mundo, e, porque não dizê-lo, sublinhá-lo, GRITÁ-LO, ter prazer?
    Há inúmeros instrumentos para o prazer, e não vou falar muito sobre isto... mas acho que deveremos usá-los sendo possuidores de uma estrutura intelectual e de consciência, munidos de informação sobre esses instrumentos. O caso da cannabis é apenas mais um. Temos o direito de não o usar, mas eu acho que tenho o direito de o usar (legal ou não) em alturas indicadas, com gente de quem gosto e em quem confio, sabendo que não estou a prejudicar ninguém, e tendo algum bom senso para não me prejudicar a mim próprio. "Now and then" ...

    Quando usamos uma substância como a cannabis estamos a perturbar (no sentido assertivo da palavra) o organismo, e é isso que esperamos quando o fazemos. Lá porque não está cientificamente descrito o que é que me pode acontecer se o fizer, isso não significa que eu não tenha uma ideia - candeia que vai à frente alumia duas vezes, e neste caso parece-me que tenho muitas!

    Queria fazer duas referências: a primeira, sobre o consumo de substâncias psicotrópicas com objectivo hedonístico por parte de crianças e adolescentes (usando o conceito de adolescente como transição entre infância e estado adulto, não sendo necessariamente o seu fim aos 18 anos...); a segunda, sobre o uso da cannabis relacionado com os costumes sociais e outras implicações.
    Quando nascemos e crescemos, temos dentro de nós um potencial físico e intelectual ditado pelos nossos genes, construido pelo meio envolvente e tranformado pelo nosso estilo de vida (dito de modo grosseiro). A criança e o adolescente, em pleno processo de crescimento e desenvolvimento das suas aptidões intelectuais, criativas, de raciocínio e de construção de personalidade, devem ser protegidos pelos adultos, resguardados de tudo o que possa pôr em causa o atingir do patamar que lhes permitem os seus genes. As drogas, quando utilizadas (regular ou irregularmente, com "bom senso" ou exageradamente) contribuem para baixar o nível máximo potencial dos jovens; isso está descrito na literatura e é por demais evidente - basta lembrarmo-nos do que acontecia às crianças e jovens quando lhes eram dadas as conhecidas sopas de cavalo cansado. Assim, acho que este tipo de substâncias deveria ser vedado até determinada idade (até aos 21, na minha opinião pessoal) em termos de legislação, e com um máximo de fiscalização. Bem sei que todo este processo é complicado, mas, que diabo, estou a falar no domínio do ideal!
    A segunda referência, esta mais breve (espero eu), à cannabis e aos costumes: como exemplo meramente comparativo, considero que o uso do tabaco em termos sociais, económicos e de saúde pública é muito mais perverso do que o uso da cannabis tal como é feito habitualmente: custa-me ter de sair de um bar (como aconteceu há poucos dias no bairro alto) porque estavam duas pessoas a fumar despudoradamente para cima de mim como se tivessem mais direito a estar ali a fumar do que eu a não fumar; ainda me custa mais quando penso que em termos de saúde pública não estou a ser eu o veículo causador de perturbação, e que em termos económicos o estado gastará muito mais dinheiro com um fumador internado com problemas respiratórios (e sabemos que esses problemas respiratórios variam de um mínimo a um máximo...) do que comigo no que considero que mereço por os meus pais terem andado uma vida inteira a pagar impostos. Tudo isto é muito mais perverso (na minha opinião pessoal) do que a utilização esporádica de cannabis por parte de uma pessoa que se esconde para "torrar uma" de vez em quando com os amigos. Infelizmente, com a legalização, parece-me que este comportamento do "refundir" desapareceria. Seria o fim de um ritual consagrado ... :)

    Por fim, respondendo ao ilustre anónimo: não me parece que a legalização da cannabis faça descer o número de consumidores, por razões intrínsecas à própria cannabis. Se for acessível em locais de comércio legalizados, se aquilo faz com que as pessoas se sintam bem (ou, pelo menos, diferentes, porque as opiniões divergem), se uma das vantagens da legalização é a possibilidade de aumentar a qualidade do produto... não te parece que o argumento do fruto proibido começa a não ter assim tanta força? Não sou só eu que o digo. Existem estudos, nomeadamente sobre o álcool noutros países, em que a tendência foi precisamente o contrário: um aumento do número de consumidores concomitante com uma abertura liberal ao mercado. O argumento do fruto proibido é muito mais apelativo para as camadas mais jovens; se deixasse de ser proibido e ao mesmo tempo se se conseguisse restringir a venda a essas camadas... provavelmente conseguir-se-iam bons resultados. Com os anos, tendo em conta esta restrição aos mais jovens e uma política educativa mais consistente que fomentasse o uso consciente da cannabis, o uso decairia assimptoticamente, mas não tenhas dúvidas de que existiria um boom de consumidores (sejam eles de que ordem forem) com a legalização. Já aconteceram fenómenos semelhantes em outras partes do globo!

    Sobre o texto em si (que é o que menos interessa neste post - não sei se já notaram!) - acho que está mal conseguido, e o IDT devia ter mais cuidado com este tipo de panfletos: se querem de facto baixar o consumo de cannabis em Portugal, não é com esta política que o conseguirão; antes pelo contrário. O texto (não questiono o seu conteúdo em termos de informação médica porque não estou suficientemente documentado) tem um cariz fundamentalista, e acho que é importante partir de diversas perspectivas, consertá-las de forma sinergística e produzir uma estratégia tolerante e que abranja o maior número de pessoas possível, se queremos de facto sensibilizá-las para alguma coisa.

    Lamento imenso pela extensão da dissertação. Tinha de dar a conhecer a minha opinião sobre o assunto, que é multifactorial...
    Um abraço!

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  7. ó meu amigo até o "fernando" consumia drogas e não foi por isso que as pessoas deixaram de gostar dele!

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  8. Não percebi esse comentário! Qual fernando? Algumas das pessoas mais queridas e valorizadas que o mundo conheceu drogavam-se como gente grande. E não sei porque é que insistes em comentar sem sequer sabermos o teu nome. Ao menos assina os comentários, homem!

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  9. Já dizia o grande sábio Português, Manuel João Vieira:

    Drogado

    (u u u)

    Cuidado

    (u u u)

    Drogado

    (u u u)

    Cuidado!!!




    Seguir-se-á um post inteligente quando o meu cérebro voltar da oficina.

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  10. Introdução: Eu sou muito mais à frente que vocês.

    Desenvolvimento: Ultimamente tenho tocado na ganza pela simples razão de que me dá fome! Coisa que anda escassa por esta zona. Ando a pagar um balúrdio no ginásio para aumentar a massa muscular, mas de que é que isso serve sem comida? Eu nao gosto muito de doces, nem de carne, nem de pão, portanto acho que a ganza até me ajuda.

    Conclusão: Não sofro de anoréxia, tento sofrer de gula, mas uma tentativa sem sucesso. A ganza até me faz bem.


    Ok esqueçam..

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  11. Vaskituh, existem comprimidos nas farmácias para te dar apetite, e nem é preciso receita médica. Garanto-te que resultam! :) E por outro lado se vais ao ginásio e não tens fome, é porque não estás a fazer exercício correctamente. Mania dos ginásios! Metia-te a correr no estádio como eu em outros tempos, ou atrás de uma bola,a ver se não comias logo mais! Vinha-te logo a larica!
    A ganza dá fome. O vinho faz bem à aterosclerose... a cerveja faz bem à osteoporose! Epá, tá bem, mas há outras coisas que fazem bem, não precisam de ser estas ;)

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  12. Ai está mais uma função completamente ao lado das drogas... lol. Mas nós somos uns desenrascas! De certo que todo o bom português usa uma faquinha para desaparafusar, mesmo tendo disponivel um imenso rol de chaves... Olha que da última vez que jogámos à bola saimos de lá com uma traça... junta-te a nós!

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  13. lolol tava a gozar, eu mt raramente toco nisso..

    Isto já não tem muito haver com o post, mas eu não gosto muito de comer, nao me dá prazer nenhum, por mim passo noites inteiras sem comer, eu sei que é estranho. Depois de fazer exercicio dá-me fome, mas é mais naquela de comer uma coisa ou outra, nada de grande.

    Mas eu só sei é que nunca me convidam para jogar futebol! Fico à espera ;)

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  14. eai todo mundo eu falo aq d BH MG...
    ninguem sabe como eu posso arruma uma maconha de qualidade!!!
    c alguem ver esse comentario d uma forcinha ai!!!!

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  15. Não compre, plante :d !!

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