29 de outubro de 2011

Sobre a desmontagem de argumentos e telemóveis

Tinha prometido que aparecia para jogar à bola hoje às 8:30h, a uns 15km de casa, e tendo em conta que é um sábado, é preciso dedicação para sair da cama num dos poucos dias em que dá para dormir até mais tarde. Neste caso, é mais do que dedicação. Conta-se uns com os outros para as equipas não ficarem desfalcadas, e ninguém gosta de um cortes.
Estava cansado da semana, deitei-me bastante tarde... mas não eram desculpas suficientes para faltar. Então, fiz o que quase toda a gente faz: pus o despertador no telemóvel para tocar umas 8 vezes, de 5 em 5 minutos.
Já me tinha acontecido várias vezes acordar com o telemóvel desligado, ou sem bateria, ou ter desligado essas 8 vezes o despertador e continuar a dormir... mas hoje aconteceu uma situação inédita: acordei com o telemóvel d-e-s-m-o-n-t-a-d-o! Capa de trás para um lado, teclado+ecrã debaixo da barriga - fiquei com dois telefonezinhos e a palavra "menu" marcados na pele - e bateria debaixo da almofada. E eu lembro-me de desligar o alarme algumas vezes.

É evidente que a divisão de uma pessoa em corpo e cérebro tem pouco de científico, mas desta vez terá de bastar: não deixam de me surpreender os recursos e subterfúgios que um e outro usam para se ludibriar. Normalmente apenas me vêm palavrões à cabeça na altura de acordar, mas desta vez lembro-me de estar a dormir e a assistir ao diálogo entre as partes: Não precisam de mim, têm gente suficiente de certeza! Não faz mal se não for! (o argumento distorcedor da realidade), Mas eu ainda ontem prometi que ia e é falta de consideração faltar, a eles também custa acordar de certeza! (o argumento da honra e do diz-não-ao-egoísmo, um dos mais temidos e respeitados, pelo menos em teoria), Mas eles também faltam de certeza sem avisar, se calhar até chego lá e não há gente suficiente para jogar! (se irem jogadores demais não é argumento, então tenta-se o inverso, juntamente com o remate que as pessoas honradas têm pouca concorrência porque são poucas e o fair play é uma treta), Mas faz-me bem jogar, é divertido, e depois do jogo vou-me sentir relaxado e contente comigo mesmo por me ter forçado a ir (o argumento da saúde com o complemento da vitória sobre a preguiça e a apatia, talvez um dos mais teóricos porque promete vantagens para o depois, o que talvez seja pouco potente perante uma necessidade premente de dormir numa pessoa em sofrimento e de consciência alterada), Mas se calhar nem bola têm, ou o pavilhão afinal está fechado porque é fim de semana antes de feriado à terça-feira, e... aquilo até custa 5 euros! Diz que estás doente, o pessoal compreende! ... Mas!, Mas..., maaas... Adormeci.

E então desmontei o telemóvel.
Não consigo perceber até que ponto é que o fiz involuntariamente, mas não me lembro de o fazer. Não é um gesto de difícil execução, mas requer algum grau de consciência, perícia, e intencionalidade. Pelo menos parte do córtex de integração tem de funcionar para juntar o porquê de o fazer ao como fazê-lo.

Acordei de repente e cheguei mais de meia hora atrasado, o que pode ser, de certa forma tortuosa, considerado como um "meet me halfway", mas fui, e por acaso até valeu a pena.

Fui montando o telemóvel pelo caminho... e ele acordou mais depressa do que eu.



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