Depois de ter lido o “Diário de um caloiro”, senti que devia expor uma outra visão. É engraçado que passados alguns anos, as impressões dum caloiro da FCUL não sejam diferentes das que experimentei, eu e os meus companheiros de armas. O que é ainda mais engraçado é reparar que os embustes que se nos deram a reparar continuam, e é isso em última instância o que os perpetua! Ao ler o testemunho do Vaskithu, senti-me como um narrador omnipresente e omnipotente. Senti-me um pouco como aquele ancião de barbas no cimo daquela torre no “fort Boyard”, que podia dar-te a chave ou, como invariavelmente acontecia, fazer-te nadar no mar para a ires buscar. É inevitável ficar um pouco intimidado, sendo recém chegado. Muita gente, muitos pavilhões, muita confusão. Passados uns tempos começamos a reparar que a multidão é sempre a mesma, os pavilhões não são assim tão grandes e mesmo a confusão vai-se tornando aquele ruído de fundo do frigorífico, que só quando se desliga é que nos damos por ele. A pouco e pouco vamo-nos apercebendo dos embustes. Do que realmente são. Muito semelhantes a cavacas, que logo à primeira dentada descobrimos que são ocas. Depois descobrimos os habitués da palheta – a conversa de chacha. Aqueles que dizem que fazem isto ou aquilo. Aqueles que dizem que não estudam e que se desunham, aqueles que dizem que não precisam de estudar (pois é tudo muito fácil). Estes são de longe os meus preferidos, aqueles que ainda nem chegaram à fase de negação! No outro dia estava na esplanada a beber um café (sitiozinho execrável onde nem te consegues ouvir a pensar!) e dei comigo a ter uma ideia perfeitamente lúcida sobre a FCUL. Este espaço assemelha-se a um ponto de encontro de nómadas. Pessoas com pouca ligação entre elas encontram-se com um propósito semelhante. Vêem de sítios diferentes, criam laços pouco sólidos, e relações de abrupta intensidade. Mas depois... Depois é a selva! Talvez fosse esta a faceta que mais me custou a ultrapassar. A aparente mão amiga, a ilusória ajuda, o amigo D. Sebastião... É engraçado que no meio de tanta gente estejamos sozinhos! Pois é, contamos connosco e pouco mais. É claro que fiz amigos, não muitos mas bons. Mas de toda a gente que conheci, a quantidade que se aproveita e atenção, estou a dizer “aproveita” é ridícula. Depois há a praxe. Eu acho que este assunto já foi por demais debatido, havendo tantas opiniões como opinadores. Não entrando na discussão da lã caprina dos a favor e contra, direi a propósito que este é o terreno dos embustes. Eu acho que já nem os caloiro têm medo das praxes. Eu estava a fitá-los no relvado, ordens eram gritadas e o pessoal a ser praxado estava na boa... nem ai nem ui! Achei aquilo um pouco ridículo do ponto de vista do praxador. Na maior parte das vezes está ali para apreciar a colheita do ano e aí a probabilidade de figuras ridículas é enorme! Mas a FCUL também tem coisas boas, há que as procurar! Já agora, se alguém as encontrar avisem!
29 de setembro de 2004
O outro lado
Depois de ter lido o “Diário de um caloiro”, senti que devia expor uma outra visão. É engraçado que passados alguns anos, as impressões dum caloiro da FCUL não sejam diferentes das que experimentei, eu e os meus companheiros de armas. O que é ainda mais engraçado é reparar que os embustes que se nos deram a reparar continuam, e é isso em última instância o que os perpetua! Ao ler o testemunho do Vaskithu, senti-me como um narrador omnipresente e omnipotente. Senti-me um pouco como aquele ancião de barbas no cimo daquela torre no “fort Boyard”, que podia dar-te a chave ou, como invariavelmente acontecia, fazer-te nadar no mar para a ires buscar. É inevitável ficar um pouco intimidado, sendo recém chegado. Muita gente, muitos pavilhões, muita confusão. Passados uns tempos começamos a reparar que a multidão é sempre a mesma, os pavilhões não são assim tão grandes e mesmo a confusão vai-se tornando aquele ruído de fundo do frigorífico, que só quando se desliga é que nos damos por ele. A pouco e pouco vamo-nos apercebendo dos embustes. Do que realmente são. Muito semelhantes a cavacas, que logo à primeira dentada descobrimos que são ocas. Depois descobrimos os habitués da palheta – a conversa de chacha. Aqueles que dizem que fazem isto ou aquilo. Aqueles que dizem que não estudam e que se desunham, aqueles que dizem que não precisam de estudar (pois é tudo muito fácil). Estes são de longe os meus preferidos, aqueles que ainda nem chegaram à fase de negação! No outro dia estava na esplanada a beber um café (sitiozinho execrável onde nem te consegues ouvir a pensar!) e dei comigo a ter uma ideia perfeitamente lúcida sobre a FCUL. Este espaço assemelha-se a um ponto de encontro de nómadas. Pessoas com pouca ligação entre elas encontram-se com um propósito semelhante. Vêem de sítios diferentes, criam laços pouco sólidos, e relações de abrupta intensidade. Mas depois... Depois é a selva! Talvez fosse esta a faceta que mais me custou a ultrapassar. A aparente mão amiga, a ilusória ajuda, o amigo D. Sebastião... É engraçado que no meio de tanta gente estejamos sozinhos! Pois é, contamos connosco e pouco mais. É claro que fiz amigos, não muitos mas bons. Mas de toda a gente que conheci, a quantidade que se aproveita e atenção, estou a dizer “aproveita” é ridícula. Depois há a praxe. Eu acho que este assunto já foi por demais debatido, havendo tantas opiniões como opinadores. Não entrando na discussão da lã caprina dos a favor e contra, direi a propósito que este é o terreno dos embustes. Eu acho que já nem os caloiro têm medo das praxes. Eu estava a fitá-los no relvado, ordens eram gritadas e o pessoal a ser praxado estava na boa... nem ai nem ui! Achei aquilo um pouco ridículo do ponto de vista do praxador. Na maior parte das vezes está ali para apreciar a colheita do ano e aí a probabilidade de figuras ridículas é enorme! Mas a FCUL também tem coisas boas, há que as procurar! Já agora, se alguém as encontrar avisem!
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Mais um brilhante texto, a demonstrar a excelência dos colaboradores deste pequeno blog à beira-mar plantado. Pertinente a observação da mão ilusória e da selva.
ResponderEliminarNão tenho muito a comentar. É claro que algumas das vivências que tive na FCUL coalescem com as vossas qual hibridações SP3 ... se conseguir, produzirei também uma pequena crónica sobre esses tempos, sem tentar repetir o que já foi dito. Felizmente, considero que é um tema inesgotável :)
ResponderEliminar