3 de setembro de 2004

Cama, por onde pairas...?

Provavelmente, ao lerem este post, acham que entrou aqui um indivíduo com ideias perversas e devassas, que arrasam qualquer beata mais moralista que um apóstolo dos tempos de Cristo. Ou talvez não tivessem pensado em nada disto, mas sim naqueles dias em que estamos completamente exaustos e procuramos por algo que seja esponjoso, com/sem molas, que tenha mais do que 50cm de altura. Não...também não é sobre isso que pretendo expôr esta bela "posta" de pescada. Falo sim daqueles dias em que nem deviamos ter saido da nossa cama!

Aquela sensação da mescalina (como no tão famoso Matrix), fazendo-nos pairar sobre o céu (inerte, mas tão agitado). A primeira visão que temos, após a chegada das primeiras sinapses ao nosso córtex visual, é imediatamente interpretada no córtex frontal, como um dia cinzento, pouco feliz, soturno. A chamada de um amigo, ao telemóvel, interrompe-me a apreciação de tenebroso espectáculo (sim, tenebroso porque - ainda - estamos na época balnear). A insistência dessa mesma pessoa, desencadeia uma perturbante panóplia de sinapses que me deixa algo irritadiço. Era um almoço. Era. Continuei a navegar no meu paralelepípedo durante mais algum tempo. Nessa altura, parece que andamos por todo o lado, podemos sentir tudo aquilo que imaginamos, desenhar os cenários que pretendemos! Não ligamos às futilidades da vida que tantas pessoas ignóbeis insistem em remexer. Soçobramos a mente num rebulíço agradável de sensações várias! Tudo é ouro sobre azul! Nunca desiludimos quem amamos! Um passeio. Uma viagem. Um beijo. Tudo num momento rápido e veloz, dizem, em milésimos de segundo...quem diria que os sonhos duram isso. Talvez não! Alguns sonhos, duram mais! O estado de vigília é que difere - é muito melhor quando sonhamos acordados. Todos aqueles em torno de nós, todos aqueles a quem damos a nossa confiança e dedicação, esboçam um sorriso tão belo quanto o de uma faminta criança da Etiópia quando recebe a sua fatia de pão. Já dizia alguém (perdoe-me o esquecido) que "estimulos diferentes podem provocar reacções idênticas". O mundo parece diferente visto de um paralelepipedo...qual Fernão Magalhães! É algo mais vasto, com uma beleza imensa! Parece ainda mais redondo, menos quadrado do que o habitual. Quase que o nosso cérebro simula o bonito chilrear dos pássaros, o insistente bater da água que esquarteja a rocha submissa.

Acordo, sobressaltado pelo novo tocar do telemóvel. Irritado, só me apetecia lançar este objecto pela janela. Quando deixei cair a cabeça novamente na almofada, o sono já tinha escapado, ido embora como um suspiro. Cama, por onde pairas tu...? Há dias em que, definitivamente, não devemos sair dela. A beleza do mundo que projectamos em sonhos deixa-nos demasiadamente expostos às inevitáveis vicissitudes da vida. Mas o mundo em que vivemos tem as suas coisas belas. Temos é que saber tirar proveito disso!

5 comentários:

  1. navegar no meu paralelepípedo -> só mesmo para contrariar o cúbico dos sóices...:P
    Nina

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  2. É interessante que tenhas focado brevemente a problemática da vigília e dos sonhos. Acho fascinante a conceptualização de que podemos estar inconscientes mas em estado de vigília, e isso acontece quando sonhamos; de facto, até podemos muitas vezes mudar o rumo dos nossos sonhos, o que constitui, se não uma prova, um indício disso.
    Bem pior cenário sucede quando invertemos a situação: estarmos conscientes, mas não vigilantes, como acontece com algumas doenças do foro neurológico.
    Bom texto, neurótico q.b. ;)

    P.S - Não o consegui analisar com os copos; ler um texto teu é como correr os 110 metros barreiras, dado o variado vocabulário que utilizas ;)

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  3. Epá, e vão ser estes os futuros médicos que me vão tratar do herpes genital? Isto está bonito está... Tou a ponderar emigrar para um sítio onde as pessoas não são esquisitas como aqui... como San Francisco, California...

    Rui (Ministry)

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  4. Então, mas tens herpes genital? Não te preocupes, pode ser que te calhe uma urologista e trate do herpes à moda antiga! :P

    California é um bom local para se ir. Dizem lá que o Verão é muito bom (e não só).

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  5. (Olá eu sou um desconhecido de vós, mas apresentando-me rapidamente sou um caloiro da fcul e ex-explicando do João)
    Este texto está, definitivamente, muito bom!
    Gostava só de salientar um pequeno estado de espirito, se assim se chama, que eu adoro e que me faz sentir optimamente:
    Quando nós sonhamos acordados, ou simplesmente pensamos em qualquer coisa fixamente, e sabemos que estamos com os olhos esbugalhados a olhar para o infinito como se fosse a coisa mais interessante do mundo. Sabem do que estou a falar nao sabem ? Pois bem, o que gostava mesmo de relatar é um breve momento que me acontece várias vezes depois dessa "prática" que é aquela em que "acordamos", e reparamos que estamos a olhar afincadamente para o infinito mas, o nosso sonho chegou ao fim e pensamos para nós próprios: " Volta, Volta ! És bom demais para acabares já aqui e me trazeres de volta para o entediante quotidiano, por favor volta..". Mas já não há nada a fazer e acabamos por nos resignar e fazer um esforço psicológico para nos reintegrarmo-nos no ambiente.

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