2 de março de 2005

Pinturas - "Borrar ou não borrar, eis a questão"


Still awake
I continue to move along
Cultivating my own nonsense
Welcome to the wasteland
Where you'll find ashes, nothing but ashes
Still awake
Bringing change, bringing movement,
Bringing life
A silent prayer thrown away,
Disappearing in the air
Rising, sinking, raining deep inside me
Nowhere to turn,
I look for a way back home.
Dream Theater - Trial of Tears - III. The Wasteland
Neste blog já vi colocarem fotos que conferem uma vitalidade estática à diversidade sentimental que vagueia pela mente. Depende tudo do momento. Circunstância. Oportunidade. Tempo. Depois, há um "click" et voilá: temos uma foto. Há dias em que a nossa mente não se fica por um belo quadro, digno das mãos e da perfeição de Rembrandt; não... na realidade os dias podem unir-se num conjunto de quadros ora pintados por Rembrandt, ora pela mão de quem os vive. Por vezes o artista não tem engenho suficiente para projectar uma obra. Não encontra inspiração. Não encontra alvo de projecção; a tela está lá, mas não conseguimos ver através/além dela. Não encontra o momento certo, a circunstância não o permite, a situação não é a mais oportuna e o tempo é escasso.
No entanto, existem outros factores que não são inerentes à própria criatividade e dinâmica artística do "pintor". A textura da tela, a qualidade do pincel, a luz... Todos estes permitem moldar para melhor ou para pior a nossa arte. Engraçado é que parecem factores de menor amplitude. Interessa a projecção, a simples acção de pegarmos num "aperto" ou num "calor" que sentimos dentro de nós e dar-lhe vida...toda a vida com que brota um bebé saído do útero da mãe, chorando por um encosto, por abrigo, por algo que seja familiar e que o acolha de forma carinhosa. É desta forma que devemos pintar a nossa vida: com amor, com carinho, com uma visão optimista e segura, com confiança em nós próprios, abrigados da tamanha corrupção mental a que a sociedade está sujeita. No entanto, a textura da tela dá-nos um desenho mais rude, cujas tintas não aderem: o desenho perde harmonia e o engenho outrora genial, audaz, fica semelhante a uma natureza morta; a qualidade do pincel está para um pintor como as cordas vocais estão para um vocalista: grita a plenos pulmões (ou articulações) aquilo que vai dentro dele mas se há rouquidão, a intensidade, o timbre e a voz e as palavras emanadas perdem-se no ar, o traço fica menos fluído e mais pesado; a luz...bem, a luz é mesmo para pintar à noite e não só: acaba por ser uma chama acesa e que nos ilumina por dentro levando-nos a pintar várias perspectivas (belas ou não) da nossa forma figurativa de arte.
Em suma, todos nós somos pintores. A nossa tela tem ou não a textura ideal de acordo com o ambiente circundante. A luz ambiente deriva da luminosidade dos que nos rodeiam, do seu calor, da sua audácia, do seu brilhantismo! A qualidade do pincel depende da fábrica, da forma como o pintor escolhe projectar o seu brilho ou o seu recanto mais obscuro e sinistro. Mas o mais importante e porque não são só os factores secundários que influenciam a imagem final, à margem da criatividade do ser humano, em última análise, somos nós que escolhemos a textura da tela, a qualidade do pincel e a luz com a qual concebemos a nossa obra. Certamente todos nós tivemos dias que desejámos que tivessem sido pintados a aguarela, passar água por cima deles e toda a pintura desaparecer... Outros dias ficam pintados e por muita natureza morta ou morbidez, beleza ou exuberância encantadora que apresentem, não se conseguem limpar com água. São autênticos murais de reflexão: não há tela que chegue para tanto sentimento e para tanta diversidade emocional.
A questão que se impõe é: esta imagem é representativa de um dos quadros vivenciados hoje; conseguem delinear alguma reflexão acerca deste quadro que não a de um dia negro? Comentem e verão muito mais do que escuridão.

10 comentários:

  1. Consigo ver que, apesar de tudo me parecer muito escuro, há sempre um espaço para umas abertas jeitosas. Resta saber se:

    #1 é para durar
    #2 saberemos aproveitar enquanto duram
    #3 o que podemos fazer para o maximizar

    Um abraço para este excelente membro do blog que andava cá a fazer falta

    ResponderEliminar
  2. Na pintura como em tudo, existe uma série de condicionantes que dependem ou não do pintor.Contudo a partir do momento em que decide conceber a sua arte quase todas as condicionantes passam por si e o pintor invariavelmente adquire aquilo a que se pode apelidar de responsabilidade artística.E essa condição cresce quando de uma forma ou outra o próprio se projecta na arte. Cresce quando projecta quem o rodeia.Quando transfigura para a sua arte uma "realidade real".Quando cada pincelada não pode ser apagada, só remediada. Quando antes ainda de estar terminado a rubrica.

    Depois disso tudo, ou mesmo antes, inevitavelmente poderá ser sujeito às mais diversas críticas muitas delas construtivas que, se forem assimiladas com humildade, Bom Senso, paciência. Pode até ser pintado com dois pincéis dois transformadores da realidade. Podia até haver interacção e respeito entre os pincéis, pelo espaço de cada um, a pincelada de cada um. O que importa mesmo é a sintonia, preserverança, o cuidado e a responsabilidade com que os pincéis fazerem aquilo que mais lhes apraz, o que apenas sabem fazer, e razão de existir: pintar.

    ResponderEliminar
  3. Bem, rapaz... sem dúvida é um texto reflexivo. Vou opinar sobre a imagem com uma frase que é um lugar comum que todos os miúdos escrevem naqueles caderninhos de dedicatórias da preparatória ... "mesmo que não vejas o sol, não te esqueças que ele está lá sempre".
    No teu caso, deves esperar pacientemente que as nuvens desapareçam, e agarrares-te ao teu sol com todas as tuas forças, sem ressentimentos por ele ter desaparecido por breves instantes...
    Um abraço, Pedro.

    ResponderEliminar
  4. Ladies and Gentlemen of the class of 97...

    Wear Sunscreen

    If I could offer you only one tip for the future, sunscreen would be it.
    The long term benefits of sunscreen have been proved by scientists whereas the rest of my advice has no basis more reliable than my own meandering experience.

    I will dispense this advice now.

    Enjoy the power and beauty of your youth...
    oh nevermind...
    you will not understand the power and beauty of your youth until they have faded.
    But trust me, in 20 years you'll look back at photos of yourself and recall in a way you can't grasp now how much possibility lay'd before you and how fabulous you really looked.

    You are not as fat as you imagine.

    Don't worry about the future...or worry, but know that worrying is as effective as trying to solve an algebra equation by chewing bubblegum.
    The real troubles in your life are apt to be things that never crossed your worried mind; the kind that blindside you at 4pm on some idle Tuesday.

    Do one thing everyday that scares you.

    Sing.

    Don't be reckless with other people's hearts, don't put up with people who are reckless with yours.

    Floss.

    Don't waste your time on jealousy; sometimes you're ahead, sometimes you're behind. The race is long, and in the end, it's only with yourself.

    Remember the compliments you receive, forget the insults.
    If you succeed in doing this, tell me how.

    Keep your old love letters, throw away your old bank statements.

    Stretch.

    Don´t feel guilty if you don't know what you want to do with your life.
    The most interesting people I know didn't know at 22 what they wanted to do with their lives, some of the most interesting 40 year olds I know still don't.

    Get plenty of calcium.

    Be kind to your knees, you'll miss them when they're gone.

    Maybe you'll marry, maybe you won't, maybe you'll have children, maybe you won't, maybe you'll divorce at 40, maybe you'll dance the funky chicken on your 75th wedding anniversary.

    What ever you do, don't congratulate yourself too much or berate yourself either. Your choices are half chance, so are everybody else's.

    Enjoy your body, use it every way you can. Don't be afraid of it, or what other people think of it. It's the greatest instrument you'll ever own.

    Dance. Even if you have nowhere to do it but in your own living room.

    Read the directions. Even if you don't follow them.

    Do NOT read beauty magazines. They will only make you feel ugly.

    Get to know your parents. You never know when they'll be gone for good.
    Be nice to your siblings. They are the best link to your past and the people most likely to stick with you in the future.

    Understand that friends come and go, but for the precious few you should hold on.
    Work hard to bridge the gaps in geography and lifestyle because the older you get, the more you need the people you knew when you were young.

    Live in New York City once, but leave before it makes you hard.
    Live in Northern California once, but leave before it makes you soft.

    Travel.

    Accept certain inalienable truths. Prices will rise, politicians will philander, you too will get old, and when you do you'll fantasize that when you were young prices were reasonable, politicians were noble and children respected their elders.

    Respect your elders.

    Don't expect anyone else to support you. Maybe you have a trust fund, maybe you'll have a wealthy spouse; but you never know when either one might run out.
    Don´t mess too much with your hair, or by the time you're 40, it will look 85.

    Be careful whose advice you buy, but, be patient with those who supply it. Advice is a form of nostalgia. Dispensing it is a way of fishing the past from the disposal, wiping it off, painting over the ugly parts and recycling it for more than it's worth.

    But trust me on the sunscreen...

    Um abraço.

    ResponderEliminar
  5. Tenho de comentar mais uma vez, mas desta feita para enaltecer o comentário do joão (trovante) - está indiscutivelmente (digo eu) o melhor comentário que aqui apareceu. Só acho que está tão interessante que devia estar num post... :)
    Muito bom mesmo, um abraço ...

    ResponderEliminar
  6. Baz Luhrmann?
    A letra é excelente. Eu próprio ando num dilema ocupacional.
    Mas confio em ti no que se refere ao protector solar...

    ResponderEliminar
  7. A César o que é de César.
    Embora a musica seja de Baz Lurhmann, a letra em si foi escrita por Mary Schmidt, e destinava-se a ser lida na cerimónia de "graduation" da turma de 97 do MIT, (daí o "Ladies and Gentleman of the class of 97").
    Este texto foi depois publicado no Chicago Tribune de 1 de Junho de 1997 sob o titulo: "Advice, Like Youth, Probably Just Wasted On The Young".
    Por último, só referir que este texto foi durante algum tempo atribuido a Kurt Vonnegut (também ele um professor do MIT). O equivoco foi esclarecido quando Kurt Vonnegut veio a publico negar a autoria do texto e declarou que tinha sido Mary Schmidt a escrevê-lo.

    Abraços.

    ResponderEliminar
  8. Ainda assim, excelente tema. Merece um post of its own.
    *ingere mais cálcio*

    ResponderEliminar
  9. Já tem um post of it's own. Está é no meu blog.

    Um abraço

    ResponderEliminar
  10. Agradeço a todos pelos comentários aqui postados. Tenho a dizer que este texto que escrevi, foi apenas um dia de pintura menos inspirada, como qualquer pessoa tem mas levou-me a refletir sobre o que, de facto, pesa no que leva à concretização de um bom dia! Todos os ingredientes têm a sua importância no prato final. Os dias ficam com um sabor exótico, com múltiplas especiarias. Há dias bons, há dias maus. Calhou-me reflectir sobre um dia menos bom. No entanto, por cima daquelas nuvens há sempre um Sol. E que Sol! :)

    Um abraço a todos

    Pedro

    ResponderEliminar