Há alturas em que ficamos incompreensivelmente estupefactos perante o inevitável ciclo da vida; digo incompreensivelmente estupefactos porque é uma situação a que todas as espécies estão sujeitas, uma circunstância a que nós já deveriamos estar habituados. Mas não estamos. A ligação entre o racional e o irracional prende-se com a necessidade de sobrevivência do próprio e da espécie. O ser humano cada vez menos se preocupa com a sobrevivência da sua espécie. Será então que se tornou mais racional? Mais animal irracional? Não... O ser humano tornou-se cada vez mais estúpido, incongruente, ignóbil e fútil. Nenhuma destas definições cabe no conceito de racional, nem de irracional. Tudo isto porque um animal racional não faz, por definição, algo que o prejudique a si (ou à sua espécie); o animal irracional mesmo que faça algo que o prejudique a si (ou à sua espécie) não o faz em consciência. Em última análise, um ser humano que faça isso, está a ser auto-destrutivo.
Perguntam porque questiono coisas que provavelmente vocês já sabem. Porque a vida tem um valor incalculável e parece que é sub-aproveitada. Só dão real valor à vida quando algo de mal acontece a si ou aos seus, até mesmo quando acontece a alguém que é uma celebridade e que nos entra pelos ecrãs, dentro das nossas casas. No entanto, esquecem-se que a cada segundo que passa, morrem milhares de pessoas em todo o mundo, vítimas das mais incríveis barbáries ou vítimas das suas patologias adquiridas ou herdadas. Essas não são recordadas. O Zé Ninguém que vive debaixo da ponte, sub-nutrido, desidratado e que vai morrer com uma infecção respiratória, não é recordado. A prima do Zé Ninguém que tem problemas de hipertensão arterial, teve um enfarte e morre, ninguém se lembra dela. A avó do Zé Ninguém que sofre de Doença de Alzheimer, tem aterosclerose generalizada e que vai morrer, não tem valor. É, sem dúvida, mais importante dar valor aos problemas fúteis que nos assolam e que parecem não ter solução nenhuma. Prioridade máxima para garantir a estabilidade financeira dos grandes! O que se passa connosco? Quem realmente necessita de cuidados não os tem porque a atenção vai para outras vertentes que não a humana? O mundo anda trocado. Aconselho a todos esses senhores do poder, inquebráveis e inabaláveis, a irem ao antro do degredo humano que é um hospital. Se tivessem uma réstia de humanidade naquelas cabeças de pedra-pomes, ocas, chorariam a ver a miséria que anda pelo nosso país fora, miséria que caminha como um exército de mortos-vivos apenhados nas suas ruas onde jazem cadáveres, seus companheiros de vida amargurada. Talvez deixem de pensar na saúde como um negócio que tem que dar lucro. Mentalizem-se, oligofrénicos sedentos de poder e dinheiro, a saúde não é um negócio e, como tal, não está feita para dar lucro! Vejo esses senhores, dignos de um lugar no reino de Lúcifer, como capazes de privatizar até a própria mãe. Mas isso são assuntos que não dizem respeito à saúde, até porque não me lembro da existência de um hospital dentro do Parque Eduardo VII.
Episódios de dias passados levam-me a passar esta mensagem. É impressionante como o ver partir de uma vida é idêntico ao apagar de uma vela. Os olhos que brilham intensamente, mesmo que magoados e assustados pela doença, reluzem ao mínimo raiar de luz. Quando vemos que aquele foi o último batimento cardíaco, o brilho desaparece. A tão aclamada alma tinha saido. A pessoa que não conhecia de lado algum, com quem tinha dialogado, estava ali: impávida, serena, calma. O encontro com a morte fora inevitável. Algum dia a morte tinha que ganhar. Quando fazemos da nossa vida uma luta constante para evitarmos a morte, todos os problemas parecem ser pequenos ao lado desta rivalidade natural e primordial.
Perguntam porque questiono coisas que provavelmente vocês já sabem. Porque a vida tem um valor incalculável e parece que é sub-aproveitada. Só dão real valor à vida quando algo de mal acontece a si ou aos seus, até mesmo quando acontece a alguém que é uma celebridade e que nos entra pelos ecrãs, dentro das nossas casas. No entanto, esquecem-se que a cada segundo que passa, morrem milhares de pessoas em todo o mundo, vítimas das mais incríveis barbáries ou vítimas das suas patologias adquiridas ou herdadas. Essas não são recordadas. O Zé Ninguém que vive debaixo da ponte, sub-nutrido, desidratado e que vai morrer com uma infecção respiratória, não é recordado. A prima do Zé Ninguém que tem problemas de hipertensão arterial, teve um enfarte e morre, ninguém se lembra dela. A avó do Zé Ninguém que sofre de Doença de Alzheimer, tem aterosclerose generalizada e que vai morrer, não tem valor. É, sem dúvida, mais importante dar valor aos problemas fúteis que nos assolam e que parecem não ter solução nenhuma. Prioridade máxima para garantir a estabilidade financeira dos grandes! O que se passa connosco? Quem realmente necessita de cuidados não os tem porque a atenção vai para outras vertentes que não a humana? O mundo anda trocado. Aconselho a todos esses senhores do poder, inquebráveis e inabaláveis, a irem ao antro do degredo humano que é um hospital. Se tivessem uma réstia de humanidade naquelas cabeças de pedra-pomes, ocas, chorariam a ver a miséria que anda pelo nosso país fora, miséria que caminha como um exército de mortos-vivos apenhados nas suas ruas onde jazem cadáveres, seus companheiros de vida amargurada. Talvez deixem de pensar na saúde como um negócio que tem que dar lucro. Mentalizem-se, oligofrénicos sedentos de poder e dinheiro, a saúde não é um negócio e, como tal, não está feita para dar lucro! Vejo esses senhores, dignos de um lugar no reino de Lúcifer, como capazes de privatizar até a própria mãe. Mas isso são assuntos que não dizem respeito à saúde, até porque não me lembro da existência de um hospital dentro do Parque Eduardo VII.
Episódios de dias passados levam-me a passar esta mensagem. É impressionante como o ver partir de uma vida é idêntico ao apagar de uma vela. Os olhos que brilham intensamente, mesmo que magoados e assustados pela doença, reluzem ao mínimo raiar de luz. Quando vemos que aquele foi o último batimento cardíaco, o brilho desaparece. A tão aclamada alma tinha saido. A pessoa que não conhecia de lado algum, com quem tinha dialogado, estava ali: impávida, serena, calma. O encontro com a morte fora inevitável. Algum dia a morte tinha que ganhar. Quando fazemos da nossa vida uma luta constante para evitarmos a morte, todos os problemas parecem ser pequenos ao lado desta rivalidade natural e primordial.
Excelente em termos de profundidade e de análise do que é mais importante: o que se faz com uma vida, que é única e irrepetível.
ResponderEliminarGostei muito de ler
Um abraço
Rui
Quanto à racionalidade/irracionalidade penso que é o contrário, isto é, o animal irracional não faz nada que o prejudique a ele ou à espécie, isso faz parte dos contras, do estigma da racionalidade. Quanto à morte, a nossa sociedade dá demasiada importância a ela, mas a morte é algo natural, e deve ser encarada com naturalidade, afinal de contas a taxa de mortalidade tem de compensar a de natalidade, e o medo da morte está a inverter este ciclo, algo que pode ser muito grave. O envelhecimento global da nossa espécie tá a criar uma situação de natalidade muito baixa, que a médio prazo vai culminar, inevitavelmente com o inverso, uma taxa de mortalidade demasiadamente alto, por isso devem-se criar medidas para aumentar a taxa da natalidade, e não o contrário. No meio é que está virtude, o equilíbrio é fundamental, mas penso que a prioridade, neste momento, deva ir para a natalidade... It's my opinion humm, humm......
ResponderEliminarNão concordo muito com esse teu primeiro ponto de vista, Juiz. A nível dos animais irracionais, se eles fizerem algo que os prejudique apenas se estão a submeter ou a acelerar (inconscientemente) o processo de selecção natural. Acho que fui explicito nesse ponto. Por isso é que eles não são racionais. Não conseguem ver que aquilo que fizeram os pode prejudicar; ao singular da espécie ou à totalidade da espécie.
ResponderEliminarQuanto ao problema da natalidade, esse reside numa questão bem mais social, do que propriamente relacionada com a saúde. Onde pretendo chegar? Bom, devido ao crescente número de mulheres com uma actividade laboral intensa, dificuldade económicas por parte de um casal para estabilizar financeiramente, redução do número de horas em casa, é natural que a natalidade esteja diminuida. A média no nosso país (penso eu) é de 1,5 filhos por casal. A nossa espécie caminhará sempre para um aumento da esperança média de vida. Os avanços na área da Medicina tratam disso. Não se trata de evitar apenas a mortalidade(afinal, todos queremos viver). Trata-se de dar qualidade de vida às pessoas que realmente precisam. Óbvio que isso tudo tem uma consequência: aumento da esperança média de vida.
Continuando o raciocínio, o problema da natalidade está na disponibilidade dos pais para com os filhos. Suportar economicamente um filho, até ter 18 anos, é algo de complicado quando não há estabilidade financeira. Quantas são as famílias no nosso país com estabilidade financeira, que se possam dar ao luxo de ter mais do que um filho? Não serão muitas, certamente.
Em suma, a espécie caminhará para uma maior esperança média de vida e a natalidade só aumentará quando a sociedade disponibilizar recursos para isso. Concordo contigo quando dizes que o equilíbrio é fundamental. Porque o é.
Abraço
Rui, continuo a contar contigo para colocares aqui mais das tuas excelentes críticas! Aprecio bastante, apesar de não comentar todos! ;)
Um abraço, jovem consumidor de Valdispert!
Continuando na temática, sugiro que quem ainda não viu que veja o excelente filme de Alejandro González Iñarritú, «21 Gramas». No final fica-se com a sensação que a puta da vida não vale nada, mesmo.
ResponderEliminar[comentário sexista] e também podemos ver a Naomi Watts quase toda nua, o que só por si já valia a pena [/comentário sexista]
Cyber, os animais, irracionais nada fazem que prejudique a espécie, ponto final... Podem se prejudicar a eles, mas isso também nada tem a ver com a selecção natural. O aumento da esperança média de vida é uma merda, ponto. É anti natura, e além disso de que vale viver mais uns anos, muitas vezes em sofrimento, nesta merda de mundo? Viver é dormir(ou sonhar, conforme preferirem) e morrer é acordar.
ResponderEliminarBem.. cheguei da faculdade ah meia hora, mas quis vir ler o Speechless, que era o ultimo post que me faltava ver. Gostei particularmente, tenho de dar os meus mais sinceros parabéns ao Cybercool, porque se escrevesse um livro assim, muito poucos compravam.. e desses quantos, muito poucos perceberiam a ideia! Isso faz-me sentir priveligiado de pertencer aos valdespertianos :)
ResponderEliminarGostava só de acrescentar existem casos de sociedades de animais irracionais, que, quando o número de individuos é excessivo, alguns suicidam-se, o que nos faz pensar sobre a responsabilidade destes seres. Por mais que me custe aceitar, acho que a nossa sociedade tem gente em excesso, o que é derivado da crescente capacidade das tecnologias em substituirem os humanos profissionalmente. Para a nossa sociedade um aumento da esperança média de vida nao é benéfico. Isto é só teoria, e nenhum ser racional aceita e encara isto como real, nem eu.. acho que basta de babuseiras, ja despejei toda a minha raiva de nao ter tempo para mim, vou dormir. Beijos e queijos.