26 de novembro de 2004

Morning Bell

Vejo o início de julgamento do processo Casa Pia na TV. Para além da esperada multidão de jornalistas de todos os meios de comunicação, amontoando-se em volta dos principais protagonistas do processo como piranhas em volta de uma vaca que caiu a sangrar dentro do rio Amazonas, e de um número razoável de agentes da autoridade, encontram-se algumas dezenas de «populares».

Sempre gostei do termo, «populares». Populares para quem? Eu nunca os vi mais gordos, fazem todos parte da imensa massa anónima que enche as ruas de Lisboa todos os dias. Mas estes estavam lá com uma missão: insultar Carlos Cruz. Acho impressionante que haja quem tenha perdido um dia inteiro para estar ali ao frio na Rua Nova do Almada à espera que o homem saísse do tribunal para o chamar de «paneleiro», «filho-da-puta» e «devias mas era ser tu a levar no cú ó cabrão» durante uns breves segundos. Alguns tentaram chegar a vias de facto. Acho que é isto a que chamam justiça popular. Decerto estes personagens terão ido para casa mais satisfeitos com a sua façanha. Dirão aos seus cônjuges: «aquele paneleiro... já lhe disse o que ele merecia ouvir». Irão decerto ao café/taberna da sua área de residência vangloriar-se deste feito aos amigos, enquanto metem uma S. Domingos no estômago e voltam para casa bêbedos, tendo-se como «grande homem» na sua consideração.

O que é certo é que quando o Carlos Cruz se estava a encaminhar para o tribunal sem escolta policial, estes mesmos populares se mantiveram caladinhos que nem ratos. Curioso, como isto funciona. Só atacaram quando sabiam que não podiam atingir o alvo, conseguindo com isto atingir a notoriedade de uma maneira mais segura e menos trabalhosa.

Mas ainda fico na dúvida do que os levou a fazerem isto. A não serem parte da massa indiferente ao processo. A terem que extravasar a sua opinião na praça publica sem ela ser pedida. Armados em juízes, condenando imediatamente os arguidos a um corte do pescoço. Sabem qual é o tipo de pessoas, aqueles que no autocarro se insurgem contra os motoristas porque chegaram 2 milésimos de segundo atrasados e depois dizem que isto é uma vergonha e se queixam que é por isto que o país não anda para a frente. Falando sozinhos, pois ninguém os quer ouvir, causando incómodo a quem queria seguir em paz para casa.

Pessoalmente acho que a defesa do Carlos Cruz conseguiu reunir provas, recorrendo aos registos do cartão de crédito, portagens e uso de telemóvel pessoal, que não o colocam em Elvas na altura dos crimes. E sempre achei que as únicas pessoas que recebiam sexo anal por parte dele eram as assistentes do 1,2,3 (ele por acaso acabou por casar com uma delas, mas isso agora são outros 500 paus). Mas é difícil destruir um preconceito estabelecido. «O homem foi ao cu das criancinhas e pronto!!».
O pior e que as criancinhas muitas vezes são jovens com 14, 15 e 16 anos e sabem muito bem o que estão a fazer. Basta ver o aluno típico da Casa Pia que podemos encontrar nas paragens da Carris em Belém. Mas nada disso interessa.

5 comentários:

  1. Vá lá, quero ver isto chegar aos 20 comentários!!!

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  2. Este é um tema em que é complicado ter uma opinião fundamentada, porque fico com a sensação de que nunca sabemos tudo, e há sempre coisas por transpirar cá para fora. No caso do CC, ele merecia-me respeito, e uma parte de mim continua incrédula perante todas as acusações de que foi alvo. No entanto, vivemos num mundo que não pára de nos surpreender, na medida em que todos os dias há um ícone cultural ou uma referência que morre, cai em desgraça... somos todos humanos, e por vezes esquecemo-nos disso.
    Os populares... comportam-se dessa maneira porque em grupo vem sempre ao de cima o nível da pessoa que tem menos educação, formação e cultura - é um facto já muito estudado.

    Mais uma vez parabéns, Rui. Acho que falo por toda a gente quando digo que os teus posts estão cada vez mais interessantes; ainda por cima, sobre temas actuais e que supostamente estão muito batidos, mas sempre com uma perspectiva pessoal e diferente, o que só valoriza mais as tuas intervenções.

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  3. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  4. Se o Carlos Cruz é inocente, ou não, cabe ao tribunal (bem ou mal)decidir... Quanto aos crimes que ele possa ter cometido, há a distinção entre pedofilia (crimes de que é acusado) e homosexualidade com adolescentes (crimes de que também é acusado), onde se incluem esses jovens de 15,16 anos que sabem o que estão a fazer, tal como tu disseste, e há ainda também crimes de lenocínio, mas já não sei se o CC é acusado também desses... Só para terminar, queria só dizer que conheci algumas pessoas "normais" que andaram na Casa Pila de Belém, por isso cho que houve, da tua parte, um pouco de preconceito/estereótipo, para com os alunos desse colégio, pois nem todos são "chungas".

    +1 para te ajudar a chegar aos 20.... se é que os meus contam...

    Apaguei o meu último comment porque tava cheio de eNrros, e depois não paravam de gozar cómigo.

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  5. Vamos lá a ver se isto chega aos 20... dúvido (muita fraquinho!). Realmente essas pessoas que vao para a porta dum tribunal ás seis da matina... se fosse para trabalharem em prol da comunidade não podiam, e porque eram doentes e o camandro. Fazem tudo para aparecer na televisão mas, em última instância, quem tem culpa são os joranalistas: quem quer saber a opinião destes "populares"?! Muitos até foram ao barbeiro no dia anteior ajeitar as patilhas e disfarçar os brancos! Quanto ao CC: concordo com os outros comentários, não sabemos o suficiente e nem temos de saber! Se eu soubesse era juíz e , não é juíz quem quer :)! Seja como for, sabendo ou não o que se passou, duma coisa estou convencido: acho que quem vai levar com isto tudo é o Bibi e os outros vão se livrar... o caso prescreve, é arquivado, cai a um poço e continua a vida, e a barca no Tejo!

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