4 de fevereiro de 2005
Recordar e sobreviver
Envolvidos num banco de jardim,
Contraímos músculos, sufocamos gritos,
Lá ao fundo há gente! - diz um de nós;
Apertam-se as roupas, fazemos que não,
Passam os desconfiados, retorna-se ao mesmo.
Desaparece o jardim...
Caminhamos de mãos dadas
Restolhando por entre ramos de árvores que ladeiam a estrada;
Acertamos os pés e os passos rápidos,
Sorrimos, respiramos fundo e não dizemos nada
Percorremos o chão de areia quente, fina
Adivinhando os pulos um do outro;
Entrelaçamos dedos e pele e carne,
Deitamo-nos numa toalha de folhas e flores,
Conjuga-se o cheiro a mar dos corpos.
Desaparece a clareira...
Acordamos escondidos pelas rochas
Com o mar a beijar as pontas dos pés
E um lençol de nevoeiro salgado
E cobertor de negro estrelado
É tarde... é tempo de voltar para casa
Mas gritos calados,
E sempre a mesma nota de piano
Aumentam a distância...
Soltam-se as amarras
Corre o tempo! Fogem as pessoas!
Tudo muda
Aparecem os locais e as memórias
Recordar é (sobre)viver.
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É a primeira coisa que escrevo na vida sem ser em prosa. Quem ler isto deve considerá-lo um ensaio...
ResponderEliminarAbraços ;)
Não te conhecia esta faceta. Sobrevive-se recordando. Vamos (vais) procurando nas recordações a força para o amanhã, sempre com as lições mal apreendidas e aquele desejo de voltar atrás. Se voltarmos atrás, já sabemos (sabes?) que está lá aquele buraco, toscamente tapado com sacas de sarapelheira e folhas secas. É por ai que vamos? Claro!
ResponderEliminarAcho que a ginja afinal não acabou...
Um bem haja e uma nota de incentivo à produção poética
Álvaro de Campos não faria melhor. Resta ter esperança que melhores dias virão...
ResponderEliminarMuito bonito... Só é pena que as coisas mais bonitas sejam escritas pela tristeza...
ResponderEliminarAgora é que reparei que a última frase foi altamente fanada do grande sucesso de Vitor Espadinha, «recordar é viver».
ResponderEliminarVou avisar a Policia Municipal para fiscalizar o alambique que tens em casa como acto de retaliação.
Caro Rui:
ResponderEliminarA frase não foi gamada; eu sei muito bem o que estava a escrever... e a referência foi propositada. Quanto ao alambique, ele será preciso nos próximos tempos. Por favor não faças queixa dele às autoridades :)
*queixa ref. 77/SPM/05*
ResponderEliminarOs únicos comentários que poderia fazer já se expressaram pelas palavras ditas;) Continua!
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