1 de março de 2024

Senhor, permite-me que lhe apresente uma forma melhor de se matar?

    - Boa tarde, era um maço de zlbd activate.
    
    Tinha ido à papelaria depois do almoço, e quando entrei reparei numa moça gira nas horas e bem arranjada que andava a cirandar pelo corredor das canetas. Reparei - reparo sempre - mas não deixei que notasse que o fiz - como nunca deixo. Se o fizesse era dar-lhe uma espécie de vitória grátis, imerecida.
    Com tanta discrição achei estranho sentir-lhe o olhar fixado na minha face direita enquanto pagava o tabaco. Logo para mim, que cheirava certamente a vinho tinto e parecia um desenterrado depois de ter enfrentado a chuva e o vento lá fora. Tu queres ver?

    Claro que quando me abordou percebi logo que não era o meu dia de sorte.

    - Olá, boa tarde! Este senhor fuma tabaco convencional, não é?

    - Oh, menina, acho que há muito pouco de convencional em mim...!
    Sorri levemente. Se me abordam como senhor, então tenho idade suficiente para me dirigir a ela como menina, certo?

    - Já ouviu falar em tabaco aquecido?

    - Sim, eu já experimentei tudo, menina. Mas eu não gosto de coisas mornas. Para mim é em chamas, mesmo...

    - Já experimentou o IQOS? Já teve o equipamento?

    - Sim, eu já experimentei, e tenho todo o equipamento de que preciso, obrigado.

    - É que nós advogamos que experimente e tenha o seu próprio equipamento durante pelo menos 14 dias, para que possamos ter a certeza de que poderá funcionar consigo ou não.

    - Mas menina, 14 dias é tudo o que eu preciso para deixar de fumar, em vez de me habituar a outra coisa qualquer, não acha?

    A menina estava a fazer o trabalho dela, era gira, e por momentos achei (que crédulo que sou) que estava a aproveitar para me "controlar" enquanto aguardava a vez dela para pagar. 

    Vim-me embora para a chuva e para o vento.

    "Beba esta aguarrás, é um pouco mais diluída do que a marca a que está habituado. Faz-lhe menos mal à saúde"; ou "Habitue-se antes a esta nova cena, mate-se com o nosso produto e pague-nos antes a nós por isso". Não consigo entender como é que se permite que estas pessoas façam este marketing agressivo abordando continuamente os cidadãos, apontando-lhes o dedo ou a voz perante os outros, como que reiterando, sinalizando, castigando aqueles nos locais públicos.

3 comentários:

  1. Acre, gosto tanto do teu mau feitio :)

    Este post fez-me lembrar aquela propaganda anti-tabágica: "Fumar mata lentamente".
    Que só merece a resposta óbvia: "Não faz mal, não temos pressa".

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  2. E ia lá essa malta ficar sem guito... qualquer dia será barbas de milho aquecidas com acendalhas do polo norte

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    1. Qualquer dia andamos a soprar em dias frios de inverno e dizer que fumamos!

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