31 de dezembro de 2023

Falou e disse - 43

(Entra-me na casa de banho com a máquina fotográfica enquanto estou a sair do duche e a pegar na toalha)

    A minha filha - Quero tirar uma foto à tua pilinha! ihihihihihi

    STP - Oh filha, claro que não! (Click! czzzzzzzzz..... sai o papel)

    A minha filha - ihihihihih era mesmo isto que eu queria!

    STP - Amor, não se tiram fotografias às pessoas nuas! [quer dizer, tiram; mas não tiram; mas tiram]. (Click! czzzzzzzz.....)

    A minha filha - Claro que tiram! ihihihihi não tiram porquê?

    STP - Pronto, filha, mas essas fotos são para ficar com o pai.

    A minha filha - Não, eu quero levar!

    STP - Mas queres levar para quê?

    A minha filha - Quero mostrar à mãe!

    STP - Não, filha, vou pô-las aqui no frigorífico com os imans.


    [Já me disseram que é ironia e castigo do destino eu ter tido uma filha... que agora é que eu vou ver como elas mordem].

Falou e disse - 42


(Ainda no carro)

     A minha filha - Sabes… ontem doeu-me a barriga…

     STP - Aí foi filha? Então?

    A minha filha - Devias fazer uma canjinha… sabes pai, canjinha é para cuidar dos doentes. Canjinha também é cuidar. Os médicos também cuidam. Médico e cozinheiro é a mesma coisa!

    (Depois disto claro que voltei para trás para comprar as coisas. Dei-me conta que não fazia canja há muitos anos e tive de ligar à minha irmã para me relembrar. Mesmo assim foi uma canja aldrabada, porque no meu tempo havia miudezas e ovinhos na canja, e podia ser temperada com umas gotas de sumo de limão ou com uma folhinha de hortelã…).

    STP - Então, está boa?
(primeiro nem respondeu, só enfiava colheradas na boca, mas fez um fixe com a mão)

    A minha filha - Esta canja é diferente da do avô… mas está muito boa!

Falou e disse - 41



(Dei-lhe uma máquina fotográfica que imprime a preto e branco nuns rolos de papel; iamos no carro)

     A minha filha - Podemos ligar a máquina?

    STP - Sim amor, mas é preciso chegar a casa para a pôr a carregar, agora não tem bateria...

    A minha filha - .... sabes pai, podes conduzir mais depressa? A Vissi [gatinha de peluche dela] está mal disposta e vai vomitar...

    STP - Então, mas se eu conduzir mais depressa nestas curvas aí é que ela vomita!

    A minha filha - Não, que eu estou a tapar-lhe a boca! E ela precisa de vomitar em casa!

    STP - Mas se ela vai vomitar o pai encosta já aqui o carro!

    A minha filha - Não! Nós vomitamos na sanita, ela tem de vomitar na areia dela! Anda lá, depressa!


*

    A minha filha - Sabes, pai, a Vissi tem dois anos! Ainda é pequenina! E é filha da Melitas [gata dela, real]

    STP - E a Melitas? Quantos anos tem?

    A minha filha - A Melitas também tem dois anos!

    STP - Então... se têm as duas dois anos... como é que uma pode ser mãe da outra?

    A minha filha - Porque a Vissi saiu da barriga da Melitas!

    STP - Então... a Vissi nasceu ao mesmo tempo que a Melitas? E a Melitas era bebé? Então quando é que nasceu a Melitas?

    A minha filha - [calada, a olhar... olhar de tilt naquela cabeça] - A Melitas nasceu no dia 15!

    STP - Ah! Assim está bem!

*

    A minha filha - Pai, tens de escrever num papel para não te esqueceres de comprar mais rolos de papel para a máquina lá em Lisboa!

    STP - Está bem amor... mas podes ligar ao pai... para eu me lembrar!

    A minha filha - Não, é melhor escreveres, porque eu depois esqueço-me de ligar.

    STP - Então... mas o pai também te pode ligar e aí lembras-me!

    A minha filha - Vais escrever num papel. Não me ligues, que eu ligo-te!

[Tão novinha e já aprendeu como despachar um gajo]

30 de dezembro de 2023

Cantar lava-me a alma... - 02

... mas este é mesmo um crime público, nacional. Mas eu gosto tanto da canção...

Falou e disse - 40

(A fazerem-me pirraça)

   Anónima - Temos amêijoas e uma sapateira também.
   Anónima - Comprei um chardonet!
   STP - Um chardonet? Ahahahahah!
   STP - Um Chardonete?
   STP - Chardonê?
   STP - Xárdónête?
   Anónima - Oh pá…!

Falou e disse - 39

(Bati com a cabeça no tecto de uma parte da cozinha, que é baixo porque é um sótão)

STP - *Bonk* Caraças!
(Ela virou-se, ficou a olhar para mim…)
A minha filha - Pai, o que é aquele estrago ali? Agora vais ter que compor!



28 de dezembro de 2023

Huuummmmm..!!


    "Mano, não ponhas o carro aí! Põe antes naquele lugar ali ao fundo!"
    Tinha acabado de estacionar o carro em cima do passeio dentro de um parque de estacionamento que me pareceu cheio. E mal estacionei vi um rapaz de gorro e casaco fininho, nos seus trinta ou talvez menos do que isso,  a fazer um sprint em minha direcção. Bateu toc-toc-toc no vidro do pendura e baixei-lhe a janela para que me pudesse dizer aquelas palavras, embora já imaginasse o que é que ele queria.

    E depois tentei dizer-lhe que não tinha nem uma moedinha para lhe dar, mas ele já tinha virado costas e sprintado de volta ao tal lugar e lá do fundo fazia-me sinal.

    Peguei nas coisas, tranquei o carro e fui ter com ele. Disse-lhe que não tinha moeda nenhuma, e que ele guardasse aquele lugar para outra pessoa, que eu não ia demorar assim tanto.

    "Mas olha que eles multam-te, mano! E bloqueiam-te o carro! Deixa lá a moedinha, mete lá o carro como deve ser...".

    Encolhi os ombros, e hesitei uns segundos. Mas decidi fazer o que ele disse e fui buscar o carro para o estacionar no lugar que me tinha indicado.

    Fiquei sensibilizado com o rapaz. Não vou dizer que concordo com (ou discordo da) ideia de dar moedinhas a arrumadores, às vezes até em sítios onde para além da moedinha tem de se pagar parquímetro. Também não vou estar aqui com debates sobre a real ajuda de caridadezinhas ou de as pessoas as praticarem só para tranquilizarem a consciência. Ao menos essas pessoas têm uma consciência.
    A verdade é que estava um frio de rachar e eu estava bem agasalhado e mesmo assim tinha frio. Outra verdade é que às vezes dou moedinhas e outras vezes não. Raramente as tenho na carteira, porque agora quase tudo se faz com o telefone, não é? Mas se as tenho, às vezes dou porque algo me impele a fazê-lo, e outras vezes não dou porque esse algo não me impeliu dessas vezes.

    Levava comigo um tupperware sem tampa com coscorões cobertos por papel de cozinha, que ia entregar a quem prometi guardar alguns para provar. E ao passar por ele, que já se tinha afastado, tive o impulso de lhe dizer: "Epá, olha, não tenho uma moedinha, mas toma lá dois coscorões que estão bons".

    O rapaz olhou para mim de olhos esbugalhados e disse "Epá...!". E aceitou os coscorões.
    Trincou metade de um deles. Fechou os olhos e disse "Huuuummmmmmm....!" enquanto mastigava. Parecia uma criança a dizê-lo. E eu disse: "Estão muita bons, não estão? Fui eu que fiz! Vá, até logo!". E afastei-me a sorrir sozinho.
    Eu já não tinha frio de todo, e quero pensar que ele ficou um pouquinho mais quente. Embora os coscorões estivessem frios.

    Aquele huuummmmm ...

Sem açúcar

Cantar lava-me a alma ... - 01

... e tortura os ouvidos alheios.

    Se ouvirem, façam-no por vossa conta e risco.

25 de dezembro de 2023

Falou e disse - 38

    (Jantar de natal, borrego no forno e polvo à lagareiro, vinho a rodos)

    A minha prima - Estou acabada! Tenho frio e arrepios, mede-me aí a febre!

    STP - Tomaste um nolotil há hora e meia... mal será...

    (mede-se a temperatura)

    STP - 34,5º ... não deve estar a funcionar bem...

    A minha prima - Estou morta e não sabia!

    STP - Desculpa lá. Vou chamar o cangalheiro.

  A minha prima - Olha, tu e a tua irmã devem ter uma boa connection, já "empacotaram" uns quantos. Devem ter desconto!

Não ficou como é costume - 03 - Coscorões

    Em todos os Natais de que me lembro houve coscorões na mesa... portanto há que manter a tradição.
    Para quem não sabe fazer mas gostava de aprender, aqui está como eu os faço. Não resisto a comê-los. Muitos.
    Desta vez experimentei também tentar fazer com farinha sem glúten.





Coscorões sem glúten

Coscorões (com glúten)


23 de dezembro de 2023

Lingerie

 
   É uma vergonha, mas foi preciso chegar quase aos 50 anos para comprar lingerie para dar a uma mulher. Antes roubava-lhes peças... agora ofereço-as.

   Sinais dos tempos.

Pressão dos pneus

    Ah não sabe ver a pressão dos pneus? O que é que me vai dizer a seguir? Que nunca é preciso levantar o pé do pedal da embraiagem para reduzir a velocidade com a caixa? Só malucos a conduzir nas épocas festivas ...

22 de dezembro de 2023

Cotovelinhos para ti

 


    Sabes, no outro dia vi uma pessoa que me fez lembrar de ti. Assim muito alta,  nos seus late-twenties, meio betinha - concedo - mas com uma atitude sacudida como a tua. Sim, como tu, que agitas o ar e as pessoas à tua volta meio sem querer, meio sabendo que o fazes. Mas ela tinha uns braços quase exageradamente longos e magros, semicobertos por uma malhinha castanha dourada que eu juraria que era griffe se percebesse alguma coisa do assunto, caída pelos ombros e a deixar ver parte das clavículas pelo buraco da gola.

    Eu estava a trabalhar. Era tarde da noite, e claro que comecei por não levar muito a bem que ela viesse queixar-se de uma dor de há meses no cotovelo com alegado agravamento justamente naquela hora. Mas ela atirava perguntas e observações na forma mais descaradamente possível de relevar pela graça que tinha a fazê-lo. E ainda me disse que achava que a dor era por viajar muito e andar sempre a puxar o trolley, o que me fez rir e abanar a cabeça. Ela também se riu, estava bem disposta e nem lhe apetecia ter ido ao hospital, mas vinha com a mamã que a obrigou a fazê-lo.

    Afinal tinha uma pequena fractura. Não queria que lhe imobilizasse o cotovelo mas convenci-a, pelo que saiu de lá com gesso e bracinho ao peito. Mas antes disse às duas que achava a história fora do comum e que ia avaliar melhor as radiogradias, e depois alguém que não eu falaria com elas na próxima consulta, porque eu não estaria nesse dia.

    A situação pareceu-me esquisita, e as imagens também não eram normais. Fiquei a pensar naquilo. Não estava totalmente tranquilo.

*

    A minha filha e eu estávamos adoentados no fim de semana e por isso decidi em conjunto com a mãe dela adiar por uns dias o nosso encontro. Porque era melhor, para ela não ficar duplamente doente, para ela não apanhar frio, para não lhe estragar o natal.

    Então tentei estar com ela a meio da semana, e consegui protelar por dois dias a minha consulta e arranjar um buraco no calendário.

    Mas a minha filha não pareceu melhorar muito entretanto, e portanto na véspera achámos melhor desistir do encontro a meio da semana.

    Como eu tinha ficado a pensar naquela moça que me fez lembrar de ti decidi antecipar-lhe a consulta para esse dia. Portanto ela iria ser a minha única doente e a única razão para me deslocar ao hospital.

    Mas a minha filha terá depois choramingado e dito à mãe que tinha muitas saudades do pai e que queria que eu fosse ter com ela, e que queria ficar a dormir em casa do pai, coisas que não tem de todo o hábito de dizer - na verdade acho que nunca o tinha dito. E então recebi um telefonema da mãe dela, já estando eu a preparar-me para a dita consulta, a dar-me conta do sucedido. E que já que eu tinha o dia livre afinal achava que eu me devia pôr a caminho (são trezentos e dois quilómetros de distância).

    Disse-lhe que ia ver.

    Mas reflecti, e já chegado ao gabinete de consulta enviei mensagem a dizer que já não era possível. Que iria no dia seguinte. É verdade que nem lhe tinha explicado o porquê de não ir. Mas fui rotulado de irresponsável, de imaturo, de unreliable para a minha filha que está na idade de criar seguranças, que devia reconsiderar porque afinal tinha dito antes que tinha o dia livre e que a minha filha tinha de vir primeiro.

    Respondi-lhe o mais calmamente que me foi possível que "maturidade para mim é a capacidade de tomar decisões difíceis, às vezes bastante difíceis mesmo" (e que às vezes nos partem o coração - esta frase não lhe disse; dramático me confesso, mas também não tanto).

*

    Entra a moça meio-betinha meio-sacudida com a mãe no gabinete, surpreendidas pela antecipação da consulta, e apreensivas; no entanto, aliviadas porque afinal era eu o médico, porque "já que fui eu a avaliá-la pela primeira vez, era melhor assim". Contudo, a moça estava na expectativa de que afinal lhe ia remover o gesso e saía logo dali para fora para a próxima viagem.

    Expliquei-lhes que não fiquei tranquilo com a situação, que iam fazer mais um exame naquele dia porque já falei com outros colegas que orientaram tudo para que assim fosse.

    E depois de ver o resultado do exame voltei a falar com elas com calma, com tempo, respondendo ao que sabia e apontando caminhos para o que não poderia saber.

    Disse-lhes que havia um tumor ósseo no cotovelo, e que já tinha feito contacto com o IPO para os próximos passos. Ficaram abaladas mas, por fora, não tremeram. Agradeceram muitas vezes o cuidado e a rapidez do desenlace da situação.

*

    É raro eu beber vinho ao almoço, mesmo que este seja muito tardio, mas este dia pareceu-me apropriado para tal. E também é agora raro falar sobre trabalho.

    Havia lombinho de porco estufado - na panela de pressão, e apesar disso com um molho incrível - feito pela minha irmã. Procurei arroz mas não encontrei nas prateleiras; em vez disso descobri vários pacotes já encertados de diferentes massas.

    Entretanto disseste-me casualmente por mensagem que ainda não tinhas almoçado, e eu respondi que estava a preparar o meu almoço e que chegava para ti se quisesses. Como não me respondeste mais, soube que me irias tocar à campainha dali a pouco.

    Acabei a contar-te a minha história daquele dia. Eu de copo de tinto - não havia branco... - numa mão e de colher de pau na outra, em frente ao fogão, e tu de rabo abandonado na bancada da cozinha.

  Perguntaste-me se ainda não fazíamos cotovelos artificiais, embora ambos soubéssemos que não era essa a questão importante. Apontei com a colher de pau para o tacho onde borbulhavam as massinhas que ainda tinham resistido na embalagem às épicas massadas de peixe da minha irmã.

    "Cotovelinhos só estes" - disse-te.


21 de dezembro de 2023

Falou e disse - 37

 

     A minha filha - O que é este buraco?

   STP - Não sei, mas é perigoso porque podes cair lá dentro, sai lá daí, vá.

    A minha filha - Depois ficava lá dentro sozinha para todo o sempre?

    STP - … Amor, o pai ia ter dificuldade em tirar-te de lá, foge daí.

     A minha filha - Está bem. Eu acho que é uma toca de doninha. Anda pai, vamos deixar a doninha em paz.

Falou e disse - 36

 

  A minha filha - Pai, o que é que diz ali?

  STP - Amor, esperança, saúde e felicidade!

  A minha filha - Oh! Isso não é preciso, pai, já temos essas coisas! Anda brincar para o jardim.

19 de dezembro de 2023

Artes plásticas

 

    

    Foi a primeira vez em praí 14 anos que fiz um gesso em casa. Algum dia ia acontecer! (tinha tentado fazer à minha filha só para lhe mostrar como era, mas ela fugiu, portanto não conta).

17 de dezembro de 2023

Não ficou como é costume - 02 - Bacalhau com broa (aldrabado)

    Bacalhau com broa (aldrabado).

    Pode ser que alguém queira experimentar. Eu gosto muito, e como as coisas boas são para partilhar, decidi fazer um vídeo. Não sou influencer ou coisa que o valha (hell, no) mas a experiência foi gira. Só que tem quase 22 minutos... há quem veja canais de culinária para adormecer (fica a dica).


E o resultado final.

    Já que se fala em Tiramisù no vídeo... ele ficou com este aspecto. Da próxima vez talvez mostre uma foto melhor (não estava a conseguir focar bem à hora da sobremesa).


15 de dezembro de 2023

Sexismo de WC

 

@ La Lombonera

… e se fossem dar uma volta ao bilhar grande?

Falou e disse - 35

    Moony - Gostei particularmente do "que vergonha" no vídeo!

    STP - Podia inventar por motivos de humor, mas... tive que usar um pano para abrir o frasco.

   Moony - Fazias como eu: viro os frascos ao contrário e alargo a tampa com uma faca...

    STP - Lixas a faca, o frasco, e talvez a mão se a faca escapar!

   Moony - Não lixas nada. Um dia eu ensino-te!

    STP - Não precisas, eu safo-me com pancadas e força bruta.

   Moony - Uma pessoa torna-se inventiva quando não tem homens à volta com quem possa contar. A única coisa que não consigo fazer sozinha é matar baratas. Nem com garrafas de Reid.

    STP - Raid. Reid é o gajo que tu adoras das Mentes Criminosas.

    Moony - Raid, sim! ... e como é que tu sabes que esse é o meu favorito?!?!?!?

   STP - Demoraria tempo a explicar... mas sabes, eu cresci e vivi metade da minha vida só rodeado de mulheres...

(Ah... you think darkness is your ally? You merely adopted the dark, I was born in it, molded by it).

Falou e disse - 34

    A minha filha - O que é isso que estás a meter?

    Senhora Mãe - Chama-se desodorizante.

    A minha filha - Para que serve?

    Senhora Mãe - É como se fosse um creme para as axilas, para não cheirarem mal.

    A minha filha - Posso pôr?

    Senhora Mãe - Não, faz mal à tua pele, só os adultos é que precisam...

    A minha filha - Podes emprestar ao pai?

    Senhora Mãe - Porquê?

    A minha filha - Porque ele não tem e cheira mal.



Inception


*

    Estava num enorme palco num estúdio de televisão, num concurso, em frente a uma espécie de tribuna com duas juizas. O espaço estava meio na penumbra, com luzes arroxeadas. Em pé, de mãos apoiadas numa mesa, acompanhava uma miúda pequena que não conhecia, sentada num banco alto. Na mesa, estava uma folha de papel com uma equação diferencial manuscrita.

    E conferenciava com a miúda, e ela dizia-me que não percebia se aquele era um sinal de somar ou de dividir, porque estava mal escrito. A dúvida dela era aquela. "Porque a resposta é muito diferente! Assim não consigo resolver...". E eu também não conseguia ter a certeza. Uma dúvida insanável.

   Teria então acabado o tempo que nos fora concedido, e a miúda ficou sentada no banco alto, mas eu fui levado para os bastidores por uma professora. Exaltei-me e disse-lhe que não era justo entregarem uma questão tão mal escrita, mas a professora disse-me que não valia a pena reclamar.

    "Já me deixei estar calado muitas vezes, mas não me peça para me calar com uma injustiça destas!" - disse-lhe em voz alta enquanto era encaminhado para fora do palco.

    Depois, durante um bocado quis gritar e esmurrar uma parede, mas a voz não me saía e também não me conseguia mexer.

    Batem à porta do meu quarto e acordo. Meio estremunhado, levanto-me, visto o robe e saio para o hall. Recebo um abraço fraterno da Senhora Mãe, que me diz que lhe pareceu que eu estava a sonhar.

    Entretanto ela põe-me nas mãos um postal-convite para uns anos ou um baptizado ou um evento do género, de alguém que não conheço, e que vinha endereçado aos dois, com o meu nome enganado e mesmo assim mal corrigido, à mão.

     E depois vêm apertar-me a mão e despedir-se elementos da família dela que não me recordo de ter conhecido.

   Prossigo para a minha sala. Encontro os meus pais, que conversam comigo à vez sobre amenidades.

    Enquanto me dirijo para a cozinha, vou-lhes dizendo que tive um sonho estranho e ia começar a descrevê-lo. Mas havia um wok ao lume no fogão, com batatas pequeninas cozidas com casca a saltear, como a minha avó costumava fazer, com azeite, alhos esmagados e coentros, já em risco de queimar. Tinha de tomar as rédeas da situação. Cheirava a noz moscada.

    Reparo agora que estou com luvas de forno calçadas e não as consigo tirar. E agora vejo quando olho por cima do ombro que já não estão lá os meus pais, mas sim os meus "ex-sogros". E a minha ex-sogra ajuda-me a tirar as luvas e eu lá consigo salvar as batatas antes do point of no return. E depois vem com um tupperware com mais batatas e um punhado de massinhas fusilli cozidas e despeja tudo para o wok. "Põe estas também!".

    E acordo novamente, e desta vez é mesmo a sério. Acabei por dormir uma sesta de pouco mais de uma hora e meia e estou a sentir-me bastante melhor.

    Ahh, pai, estás aqui, oh! (bato com o punho fechado no peito). Tu é que sabias.

Falou e disse - 33

(Ela a esfregar o olho)

STP - Então amor? Estás com sonecos?

A minha filha - Não tenho sono, é comichão! Devo ter uma jujivit!

14 de dezembro de 2023

O que é torto ...


... tarde ou nunca se endireita? Eu quero ser a excepção que confirma a regra.

12 de dezembro de 2023

Fat ass

    Falei outra vez com o STP porque continuo a achar que precisa de uma intervenção a vários níveis.

    Considero ridícula a forma como coloca vídeos na net, ainda por cima os vídeos que lhe interessam, mas não põe outros que mostram a realidade.

    Está na altura de repor a verdade.


   Estavas farto de estar bem, era? Magrinho, levezinho? Gastavas menos gasóleo, menos dinheiro em comida, era só vantagens.

    Achavas que era só ir a Itália ver monumentos e voltavas igualzinho? A comer pizzas e pastas e molhos de queijo? Ah e tal porque "são poucos dias". Até teve o desplante de me dizer: "tenho quatro palavras para ti: gor gon zo la".

    Acreditavas que era só andar com maquilhagem e tirar fotos com o solinho a dar e mexidas com photoshop?

    Olha para esse perímetro abdominal. Não vás para o Jamor correr, não. Não tarda muito vejo-te com um gajo a tocar trombone atrás de ti na rua. E desse bolso vai sair um cateterzinho para infundir insulina. Se fosses jogar agora à bola eras escolhido para ir à baliza de certezinha!

    Ainda te vou ver a tatuar umas borboletazinhas no braço.

    Agora já sabes porque é que te disseram que é precisa mais que uma vida para te conhecer, olha lá para essa área de barriga! Sê honesto: a voltar de Itália obrigaram-te a pagar dois bilhetes, não foi? E foste no meio do avião e não foi à janela!

    Disse-lhe que tinha três palavras para ele: gi ná sio. Há bocado respondeu-me com uma foto. Vá lá, talvez tenha ganho (um bocadinho) de juízo!

11 de dezembro de 2023

Não ficou como é costume - 01 - Bife de vitela com molho de gorgonzola

 Respirem de alívio - um dos últimos vídeos de Roma a dizer parvoíces. O cocktail não era nada mau!



*

    Fiquei com muita vontade de experimentar fazer o molho de gorgonzola. A minha irmã não veio comigo a Itália, portanto resolvi levar Itália até à minha irmã. E até não calhou nada mal, uma vez que hoje a minha avó - que nos criou - faria 96 anos.

    A minha mãe dizia quase sempre uma coisa depois de servir uma refeição: "Não ficou como é costume!". E o resto do pessoal ria-se porque estava como era costume - óptimo.

    Grelhei uma carninha boa, fiz um molho de gorgonzola, e juntei-lhe um arrozinho de coentros e uma espécie de chutney de tomate cherry e gengibre. Sim, "cozinha de fusão"... mas soube-me bem.



Natal e Tiramisù

 
    Broken things heal stronger

    Ainda é cedo para desejar bom natal, embora alguém me tenha dito há dias que o natal é quando quisermos. Mas adoro o Natal e estou ansioso por fazer as coisas boas para comer na véspera.

    Por falar em coisas para comer, deixo aqui as parvoíces que disse, isto é, os veredictos, sobre o tiramisù que provei.








Alive 2024

 

O STP falou comigo há bocado. Já não falávamos há uns anos, mas nos últimos meses temos conversado bastante. Disse-me que estava todo entusiasmado por causa dos concertos do Alive. Não consigo entender toda esta animação e estive a partir-lhe a cabeça. 

Que é que lhe deu na cabeça para voltar lá? Não esteve doze anos sem lá ir para agora estragar tudo? Não lhe chega ir de vez em quando ao La Siesta beber umas margaritas? 

Tentei lembrá-lo da confusão pegada que aquilo é, e de que a organização é, no máximo, sofrível; de como andam lá os putos bêbados com os copos de cerveja e com mochilas maiores que eles às costas aos encontrões na multidão a furar para chegar até aos palcos; de como deve haver lá miúdas a gravar tik-toks e a gritar-lhe aos ouvidos sem que possa fazer grande coisa para as calar; e de como a comida das barraquinhas é pouco saudável, e para lá chegar pode-se soçobrar nas filas.

O STP disse-me que vão lá estar os Smashing Pumpkins e os Pearl Jam e que sim, beberá cerveja e andará na confusão e empurrará os putos das mochilas até chegar à frente, e gravará vídeos a fazer figuras de urso e comerá porcarias.

Ainda tentei dizer-lhe que é preciso comprar o bilhete, que ainda por cima não é barato, antes que esgote e que isso pode ser complicado, já que ele não é muito bom em logística; e usei por fim o argumento bomba atómica que costuma dar cabo dele em qualquer contenda: a sua dificuldade em fazer planos a médio prazo. "Tens a certeza que vais marcar um evento que só vai acontecer daqui a sete meses?".

E até já me estava a rir por dentro, convicto da vitória. Dar-lhe a volta com isto é easy money. Mas percebi que não me deu ouvidos. Tenho um certo receio de que esteja descontrolado. Já não tenho mão nele.

"Vais ver. Vou ao Alive e vou."

10 de dezembro de 2023

Are you not entertained?!



Shadows and dust.


Falou e disse - 32

  STP - Felizmente que “alguns de nós” amanhã têm folga para descansar!
    Moony - Também tens outra idade.
    STP - … o caraças para ti !

Mangiare

 
    Sinto que em poucas refeições já recuperei parcialmente a barriga. Um mesinho aqui passado obrigaria de certeza a uma mudança radical no guarda roupa...
    Hoje foi entrar de dia num sítio para almoçar, sair já de noite, e pensar num sítio para jantar enquanto víamos uma belíssima exposição do Escher no Palazzo Bonaparte.



    O antes do almoço...



... e o depois.

9 de dezembro de 2023

Quase sem voz

Piazza del Popolo

    (A cidade fica linda à noite. Claro que há sítios mais bonitos que este, mas as fotos não lhes fazem justiça e portanto nem tenho tentado).

    Entretanto prosseguem as tentativas de desinflamar a faringe + laringe.



Brutto & Buono


    Slurp slurp... apanhado com a língua no gelado! Um bom anti-inflamatório para a garganta.


    Isto sou eu a ser teimoso e a achar que conheço as músicas todas. Há que dar o braço a torcer às vezes. Achava que a música era esta:


Falou e disse - 31

    Moony - Yay! Ouvi Backstreet Boys num bar em Roma!

    STP - Err… yay?

8 de dezembro de 2023

Ma quanto è buono!

 
    "Now we are free. I will see you again. But not yet... Not yet...".

   O casalinho da foto deve ter achado que eramos uns cromos da fotografia e pediu-me para lhes tirar fotos a dar beijinhos.

   Está frio e acabei por ficar sem voz. Mas antes ainda deu para dizer umas parvoíces!

Falou e disse - 30

    Senhora mãe - Obrigada, filha.

    A minha filha - Não tens de quê!

    (Senhora mãe - Quando a enfiarem dentro do cacifo sabemos porquê.

   STP - Eu não tinha cacifo. Era mesmo no contentor do lixo que me enfiavam. Aqueles de metal antigos, grandes, que a tampa abria para trás. E depois empurravam o contentor pela rua abaixo...).

Falou e disse - 29

    A minha filha - Mãe, eu perguntei como é que nunca ninguém viu o pai natal e a professora disse que é porque ele é invisível. Mas invisível é o vento!

7 de dezembro de 2023

Marina

 

    Marinas pá! Que saudades!

    Vamos ao Pico?

    (Foi pena não se terem tirado fotos ao resto da malta... não foi por mal!).

6 de dezembro de 2023

Tempo de antena

   O seguinte espaço é da inteira responsabilidade dos intervenientes.

   Trata-se da última obra do Rui, como resposta ao pedido de amostra da sua caligrafia.


Permanecer

    Hoje foi manhã de consultas, e o gabinete estava gelado e com o ar condicionado avariado. Mas os doentes não se importaram de me ver com o casaco dos nevões vestido.

    Disse a uma doente que vinha acompanhada pelo marido que estava assim vestido porque não podia ficar doente, porque ia viajar. E ela contou-me sobre os cruzeiros que faziam, e que já foi 8 vezes a Itália e que eu tinha que ir ver Pompeia.

    Umas disseram-me que estava com óptima cara (talvez o tratamento facial tenha resultado, afinal?); Outros pediram-me que não lhes desse alta embora estivessem bem, porque era um gosto vir à consulta.

    E houve uma senhora mais velha que me disse que ainda bem que os tempos mudaram e que adora o meu "rabicho". E disse que eu devia ter uns 32 anos, o que foi muito fofinho da parte dela.

    Mas, excepcionalmente, todos estavam mesmo bem, o que é uma maravilha para eles e também para mim. Essa foi a melhor prenda de natal.

     Os meus doentes devem achar que eu tenho um problema, e portanto oferecem-me álcool para não me tremerem as mãos. Já não tenho onde pôr mais garrafas. Acho que vou dar uma festa ...


     Este senhor é meu doente há uns anos e é um fixe. Foi operado há poucas semanas e veio agradecer o facto de já conduzir o seu carro automático (tem uns 83 ou 84 anos). Mas eu tive de perguntar o que era a moedinha. A filha dele disse-lhe: "Pois, tu tens de explicar a esta malta nova o que é, porque eles já não sabem...".

*

    De volta ao carro, estava a ouvir na rádio a Linger, dos Cranberries. A música foi lançada há trinta anos e fiquei a saber que foi a primeira que a banda compôs em conjunto com a vocalista, que entretanto infelizmente já morreu. Lembro-me muito bem de um amigo - que também já morreu - e o seu pai me darem boleia para a Faculdade de Ciências no pequeno jipe azul-metalizado deles, sempre de manhã cedo, já na primavera, com sol a raiar, e esta música passava muitas vezes na rádio a essa hora. Por isso, e por eu nunca ter prestado atenção à letra até há pouco tempo, esta música sempre me deu uma sensação matinal, de juventude, de alguma alegria e conforto.

     Acabei por tirar o casaco dos nevões e fui aproveitar o quentinho do sol à praia.



5 de dezembro de 2023

Dondoquice

 

    

    Hoje experimentei ser um bocado dondoca pela primeira vez. Tratamento facial e massagem. Achei interessante e vou lá voltar.

Hélio

    Meu amigo Hélio, o teu comentário de há 15 dias foi até agora o único que foi para o spam. Isso só deve mostrar que és especial.

    Mas resgatei-o e dou-lhe o destaque que merece, porque gostei muito:

    "ESSES pá! Tens uma toooooola!... Tens, como tinhas há já 15 anos, e mais ainda, muita razão: o abraço foi, e sempre será sincero e sentido. Por muitos e diversos motivos sobre a tua pessoa que são, aqui, demasiados para enumerar e que não pareçam um chorrilho de clichês. Numa palavra (ou dias) uma espécie de amor fraternal, com tudo o que isso inclui. Se não estivesse com pessoas à volta, tinha chorado hoje. Se calhar ainda vou a tempo... Outro abraço, de tantos que haverá a ser.".

    Deixo-te também a versão ao vivo de uma música de que gosto muito (e depois percebes porque é esta que te deixo). Qualquer dia mostro o meu cover!



4 de dezembro de 2023

Falou e disse - 28

    Sra. Advogada: Fui apanhada a 98 km/h num sítio onde a velocidade [máxima] era 50 km/h.

    STP - Ah bom, então não sou só eu...

    Sra. Advogada: Estou agora a tratar da minha [defesa de contra-ordenação].

   Sra. Advogada: "A arguida está convicta de nenhuma infracção foi, de facto, praticada, sendo por isso que não pode conformar-se com o descrito na acusação de que foi alvo e que se acha corporizada num auto de notícia que se afigura parco na sua descrição fáctica, mas abundante em vícios e dúvidas.".

    STP - Mas que lol ... tu tens uma lata ahahahah

    STP - Não pode conformar-se ahahahahah ias ao dobro da velocidade!

    STP - Não pode conformar-se que tem o pé pesado ahahahah

    STP - Senhor polícia, está a dizer que tenho excesso de peso no pé?!

    STP - Eu vou escrever isto. Mas mantenho o anonimato. E "fáctica" existe?

    Sra. Advogada - Em português não sei. Em juridiquês existe! E por mim estás à vontade, sou inocente, não tenho nada a esconder!

    STP - Ainda bem, porque esse pezinho não deve ser nada fácil de esconder mesmo que quisesses! Olha, tenho duas palavras para ti: cruise ... e control!

Falou e disse - 27

    Anónima - Viste o último Matrix?

    STP - Acho que ainda não...

    Anónima - Há lá uma frase sobre o red pill e o blue pill que me comoveu.

    STP - Essa "filosofia" presta-se a reflexões muito interessantes...

   Anónima - "The choice is an illusion. You already know what you have to do." A Trinity nem sequer toma nenhum pill...

    STP - E no que te fez pensar isso?

    Anónima - Escolhas. São fodidas.

   STP - São. Bem o sei... em parte é mais fácil quando não há escolha. Mas... escolhas são liberdade.