4 de julho de 2024

Falou e disse - 80

(Estava a tentar dar-lhe as poucas luzes de música que tenho com o teclado e com a voz, como se fosse uma brincadeira apenas. Eu tocava um acorde e ela tentava acertar com a voz. Gostava que alguém tivesse feito essas coisas comigo quando tinha 6 anos...).

    STP - Vês filha? Isto é um acorde. É um conjunto de sons ao mesmo tempo. Tenta acertar com a voz como o pai vai fazer...

(Trlimmmm.... aaaahhhhhhhhh!)

     STP - Boa, meu amor! Acertaste mesmo bem! Estás a aprender depressa!

     A minha filha - Pai, sabes o que é que tu também aprendes depressa?

     STP - O quê, filha?

     A minha filha - A ter pêlos brancos na barba! Ahahahahah! (e faz o mesmo acorde no teclado).


26 de maio de 2024

     Estes botões estão em sofrimento. Isto passou a ser um problema de segurança nacional.

25 de maio de 2024

Falou e disse - 79

 (Ajudei a levar uma cama desmontada escada abaixo e a carregar uma carrinha com as peças)

     Vulpina - Desculpa lá, qual é a lógica de carregares a carrinha com as madeiras todas em cima do berbequim que eu vou usar?

     Acre - A atitude certa não é essa. A atitude certa é dizeres: olha, obrigado por me carregares a carrinha, mas de facto o berbequim ficou por baixo e eu vou precisar...

     Vulpina - Fala quem uma vez andou a brocar paredes com brocas de madeira ...

     Acre - Vês? [a bater com a mão no braço] É muito poder!

     Vulpina - Mas tu sabes o que é um berbequim?

     Acre - Opá, ainda tu não tinhas nascido e já eu sabia o que era um berbequim!

Tenho um entre as pernas, caraças!

Falou e disse - 78

Versão original - "Cuidado ó Carolina/Que o lagarto dá ao rabo!"

A minha filha - Cuidado ó Carolina/Que o lagarto vai-te ao rabo!

(Senhora Mãe a rir-se)

A minha filha - Mãe, porque é que te estás a rir?

21 de maio de 2024

Simples

     Tão simples e tão bom. Porque é que eu não me lembro de fazer isto mais vezes?

19 de maio de 2024

Falou e disse - 77

(A seguir ao almoço...)

     STP - Filhota, agora deixas o pai descansar um pouquinho, porque me está a doer a cabeça e é para ver se o café e o comprimido fazem efeito...

     A minha filha - Está bem papá, não te preocupes que eu cuido de ti, podes ir deitar!

(passados uns minutos vem até mim à cama com uma tigela com bocadinhos de miolo de pão misturados com cajus e um copo meio cheio do que parecia água, já que o quarto estava meio escuro)

     A minha filha - Pai, preparei um lanchinho para ti, para ficares melhor!

     STP - Está bem, meu amor, obrigado. O pai não tem fome, mas vai provar...

(E ia beber o copo de enfiada, mas ao primeiro gole ia vomitando)

     STP - Filha?! Isto é vinho branco?

     A minha filha - Sim! Tu gostas, não é?

     STP - Mas onde é que arranjaste o vinho branco?

     A minha filha - No frigorífico...

   STP - Oh meu amor, mas não há garrafas de vinho branco... Ah! É do vinho do pacote? Oh filha, mas esse vinho é para cozinhar!

     A minha filha - Sim... é para ficares melhor!

(Não sabia que se podia ficar enjoado como uma pescada e ao mesmo tempo rir à gargalhada).



Falou e disse - 76

(Eu a tentar fazer o almoço, e ela agarrada às minhas pernas, a andar de rojo no chão da cozinha)

     A minha filha - Pai! Pai! Pai Tenho fome! Tenho fome!

     STP - Se me deixares cozinhar também comes mais cedo, não é filha?

     A minha filha - Pai! Pai! Pai! Brinca comigo!

     STP - Estou a fazer o almoço, não tinhas fome?

   A minha filha - Pai! És o monstro tubarão! Não! És a monstra tubarona! Ahahahahaha!
(a ser arrastada pelo chão agarrada às minhas pernas enquanto eu abria armários e frigorífico)

     STP - Monstra tubarona? O quêêê? (ar de monstro furioso).

     A minha filha - Sim! Monstra tubarona! Ahahahahaha! Ai, desculpa! Desculpa! Desculpa!
(faço-lhe cócegas e ela a rir e a guinchar... volto a fazer o almoço).

     A minha filha - Oh monstra tubaronaaaa! Ahahahahaha!

     STP - Outra vez?! (ar de monstro furioso, outra vez cócegas até ela ficar sem ar).

    A minha filha - Ahahahahahah desculpa! Desculpa! .... Aaaaahhh.... As desculpas evitam-se! Ahahahahahah!

Falou e disse - 75

(Ela já tinha tomado o pequeno almoço, mas eu não. Então fomos fazer compras e eu aproveitei para comer alguma coisa)

     STP - O pai vai só ali comer qualquer coisa que ainda não tomou o pequeno almoço.

    A minha filha - Será que podes pedir um pão com queijo e um sumo de laranja, como NÓS gostamos?

11 de maio de 2024

Falou e disse - 74


(No cabeleireiro...)


     A minha filha - Não quero cortar o cabelo!

     Senhora Mãe - Mas tem de ser, é preciso ir cortando...

     A minha filha - Porquê?

     Senhora Mãe - Para ele continuar a crescer saudável, para ficares mais bonita!

     A minha filha - Mas mãe, eu já sou perfeita!

10 de maio de 2024

Serenata

       Estava com vontade de tocar e cantar, mas tinha deixado a guitarra no carro. Então desci as escadas e fui buscá-la. Ao percorrer lentamente o passeio da rua, reparei que estava um tipo a colocar aqueles papéis odiosos no limpa-pára-brisas traseiro dos carros estacionados. Tentei acelerar o passo, mas ele chegou quase ao meu carro ao mesmo tempo que eu.

     Sempre ambicionei apanhar um tipo destes e mandá-lo à fava. "Por favor, não coloque essa merda no meu carro!". Mas mesmo abrindo a porta do meu carro, estando presente, ele nem fez caso e colocou o papel como se eu não estivesse lá a olhar para ele.

     Não reagi porque o tinha topado antes. O homem ia a andar com uns tiques esquisitos e a falar sozinho! Ia a dizer "Sim, sei que gostas, não é? Claro que gostas, pois, eu sei..." repetidas vezes. Ainda tentei ver se havia um auricular na orelha e ele estivesse numa chamada com alguém, mas não. Achei melhor estar calado e tirar a guitarra de dentro do carro enquanto ele fazia o que tinha a fazer.

       Já com a guitarra na mão e a meter a chave na porta do prédio, grita-me a Piedade lá de cima, à varanda: "Oh João! Temos cantoria hoje? Tens de fazer uma serenata à tua namorada, não é? Ahahahah".

Está calor na rua, já cheira a verão.

8 de maio de 2024

Salicórnia - 02

      Acre - Esta malta dá-me uma azia! Olha para estes cestos cheios até cima com compras e vão para as máquinas de pagamento rápido! E depois são umas amélias a passar as compras!

     Vulpina - Não te zangues, não sabes da vida de cada um ...

     Acre - Estamos aqui na fila que já chega quase aos iogurtes e encostados aos legumes frescos e está frio! Olha este braço todo arrepiado! Olha esta perna toda arrepiada!

     Vulpina - Devias ter trazido um casaco em vez de vires para aqui de calções...

     Acre - Estão 30 graus lá fora! Agora há um código de etiqueta para vir ao Pingo Doce?

     Vulpina - Olha, mas eu não tenho frio. Posso ficar aqui na fila e tu vais para um sítio quentinho, o que achas? Para o pé do frango assado ou assim ...

5 de maio de 2024

Todo me parece bonito - 1 - Gostava de ser rei

 

Falou e disse - 73

(No supermercado, iamos buscar frango assado para safar facilmente o almoço)

     STP - Filha, queres escolher o almoço?

     A minha filha - Hmmmm pode ser aquilo? (aponta para o arroz de pato)

    STP - Mas já comeste aquilo, fiquei com a ideia de que não gostaste assim tanto... sabes o que é?

     A minha filha - Sei! É arroz com chouriça!

     STP - É arroz de pato...

    A minha filha - Mas tem chouriça! Tu podes comer o pato e eu como a chouriça! Quero a chouriça para todo o sempre!


[e depois comeu o arroz, o pato, e a chouriça do prato dela e do meu prato].

Falou e disse - 72

(Estava a trautear uma música qualquer que aprendeu na escola, mas a mudar-lhe a letra toda)

     A minha filha - Lalala tu és louco.... E o papá é louco....!

     STP - Eu sou louco?
 
     A minha filha - ... Não fui eu! Foram as fadas que disseram!

3 de maio de 2024

Abram alas

 


     Abram alas para o gor… gor…  gordo! (Hei de ir na rua a andar com um tipo a tocar trombone atrás).

24 de abril de 2024

Salicórnia - 01

     Vulpina - Eu não me importo de saber as tuas histórias. Não é importante para mim saber (também era o que mais faltava), mas não me importo de saber. Há quem não goste!

     Acre – Não te importas, mas eu também só conto se achar engraçado.

     Vulpina - Claro, e eu faço o mesmo! Se bem que eu não falo muito sobre as minhas histórias.

     Acre – No need!



     Acre - "A história da vez em que eu fui assaltada e valeu a pena!".

     Vulpina - Ahahahahahah!

     Acre – “Mas oh senhor polícia, eu não quero apresentar queixa…”.

     Vulpina - Ahahahahahah! “Valeu o dinheiro que perdi!”.

     Acre – “Isto a pagar afinal é bom… agora entendo os meus clientes!”.

     Vulpina - “Eu até gostava que me assaltasse mais vezes…”.

     Acre – “Perdi cinquenta euros que  tinha na carteira... mas da próxima vez vou subir a parada! Vou passar no mesmo beco com a minha carteira Chanel”.

     Vulpina - “E deixar lá dentro a minha morada! Com sorte vem assaltar-me a casa!”.




21 de abril de 2024

Falou e disse - 71


(Tinhamos estado numa festa de aniversário e ela aproveitou para fazer festinhas a um cão e para brincar com uma caturra).

     A minha filha - Tiraste fotos minhas com o passarinho?

     STP - Não... mas tirei com o cão!

     A minha filha - Õõõnnn ... mas assim não me vou lembrar dele!

     STP - Claro que vais, filha...

     A minha filha - No meu coração?

     STP - Olha, é isso mesmo!

     A minha filha - Mas o meu coração já está cheio, já não cabe!

     STP - Cheio? Então porquê?

     A minha filha - Cheio do papá, e mais não sei o quê ...

20 de abril de 2024

Falou e disse - 70

(Comprei umas coxinhas de frango já temperadas com colorau e mais não sei quê, embaladas. Não é o meu estilo, mas às vezes com tanto tempo de brincadeira com a minha filha, je suis obligé ... então... forno com as coxinhas de frango, com uns dentes de alho, e um limão espremido por cima, e um vinho branco e um fio de azeite... e um arroz branco que evaporou a água demasiado depressa porque não baixei o lume enquanto dava banho à miúda...).

     STP - Filha, o que achas, está bom?

     A minha filha (de boca cheia) - Hum hum!

     ...

(passados três minutos quando comecei a comer, ela de prato quase vazio...)

     STP - Oh filha, este arroz está um bocadinho duro, não é? Devia ter cozido um bocadinho mais.

     A minha filha - Hum... talvez um bocadinho. Mas demorava mais tempo! Pai, és o melhor cozinheiro do mundo!


Falou e disse - 69

 (Viu-me a abrir uma garrafa de vinho branco)

*POP!*

     A minha filha - Uaaaau! Como é que fizeste isso?

    STP - Vês? Isto tem um pico que entra na rolha. É só enroscar e depois estas asinhas vão para baixo...

     A minha filha - É fácil?

     STP - É fácil com um bocadinho de prática filha... mas isso é uma conversa que nos levaria muito longe.

     A minha filha - Ahhh...

(cinco minutos depois foi abrir a gaveta e buscar o saca-rolhas sem eu ver)

     STP - Oh amor, o que é que estás a fazer?

     A minha filha - A sereia não está bem. Ela não se sente bem. Vou-lhe dar uma pica.




Falou e disse - 68

(Estava a fazer-lhe cócegas na cama e ela a desmanchar-se a rir deu um pum)

     STP - Ah malandra! Deste um pum! Que cheiro, pffff sai daqui!!! (a fingir que a afastava)

     A minha filha - Ahahahahaha! Olha, espera, deixa-te estar assim!

(deitado de barriga para cima; ela vira-se de costas e senta-se em cima da minha cara)

     STP - Nem penses! Já estou a ver o que queres fazer e não!

     A minha filha - Vá lá, deixa-me sentar em cima da tua cara! Não vou fazer nada!

     STP - Não!!! (a fazer-lhe cócegas)

     A minha filha - Ahahahahahah! Vá lá, pai!! (baixa as calças). É só para ver uma cena!

     STP - Não!!! Olha um rabo!! (dou-lhe palmadas)

     A minha filha - Ai, papá! Ahahahahahah pára! ... outra vez! Com mais força!

16 de abril de 2024

Hard


     "Now I have come to the crossroads in my life. I always knew what the right path was. Without exception, I knew. But I never took it. You know why? It was too damn hard! Now here's Charlie. He's come to the crossroads. He has chosen a path. It's the right path. It's a path made of principle -- that leads to character. Let him continue on his journey.".

       Lt. Col. Frank Slade (Al Pacino) - Scent of a Woman

15 de abril de 2024

Falou e disse - 67

(Sobre o My fair lady, com a Audrey Hepburn)

   Moony - O inglês deste filme é maravilhoso. As novas gerações considerá-lo-iam ofensivo...

     STP - Porquê?

     Moony - Relações entre homens e mulheres... machismo... bla bla bla

     STP - As novas gerações podiam era ir levar na peida!

     STP - A cena é que provavelmente isso era uma cena boa...

     STP - Deviam ser açoitadas!

     STP - Again... cena boa para elas.

     STP - Não sei o que fazer...

     Moony - Obrigá-los a ler poderia resultar.

14 de abril de 2024

Um momento feliz


   As margaridas e amores perfeitos e ervas em terra mole, que não está seca nem enlameada, e que te massaja os pés em vez de os magoar ou de os sujar.
     O zumbido lento e baixinho de centenas de abelhas que esvoaçam nas suas vidinhas atarefadas pelas flores que encontram, suficientemente perto para as observares, mas suficientemente longe para não te incomodarem.
    O restolhar dos teus passos, que ouves dentro e fora de ti, porque não há muito mais que perturbe o silêncio.
   O riso da tua filha ao atirar areia para todo o lado, embora lhe tenhas dito - sem muita convicção - para não o fazer.
     O cheiro doce e suave de toda a vegetação quente à volta a anunciar que há de vir o verão, justamente numa altura tão melhor do que ele.
    As cores que competem umas com as outras pelo maior brilho e beleza, e enquanto reparas nisso a tua filha te pergunta qual é a tua cor favorita.
    O sol que está quente e pode queimar, mas que deixa que à sombra a temperatura esteja perfeita para estares em trajes menores.
    O riso da tua filha de cara afogueada ao mergulhar vestida no rio, embora lhe tenhas dito - sem muita convicção - que só permitias que ela molhasse os pezinhos.

    O encheres o peito de ar e dares-te conta de estar tudo bem naquele momento.

12 de abril de 2024

Fá sustenido

     Tinha-lhe dito que estava com algum sono mas podia conduzir eu. 

     Respondeu-me que não, que conduzia ela, que eu era um conas. Encolhi os ombros e refastelei-me no lugar do pendura, entre a porta e a mala gigante de senhora que repousava sobre a consola central.

    Ainda numa localidade, antes de entrarmos em autoestrada, as lombas pareciam montanhas. Parecia que iamos de jipe num safari. A sair das rotundas logo ali uma aceleração tipo warp speed como se saísse de uma chicane para uma recta, mesmo que a cem metros houvesse outra rotunda.

    Agarrei-me discretamente ao apoio da porta e fechei os olhos. Ela riu-se. "Ai estás com medinho...". Respondi que não, ensonado, a bocejar, Confio na tua condução.

     Entrámos na A1. Toda google maps no mega-telemóvel do tamanho de uma raquete de pingue-pongue, a assinalar o caminho. E acelera, faixa do meio, depois esquerda, Ah-sacana-porque-é-que-estás-a-travar-não-percebo-estas-pessoas, guinada e aceleração, ruuõõõõõõnn a passar por cima da guia sonora, semibreve em Fá sustenido, depois outra guinada para corrigir. Parecia um gráfico das BTC ao segundo.

     Começa a vasculhar cenas no saco que entretanto tinha colocado no banco de trás, à procura não sei do quê. Bracinho esquerdo no volante, bracinho direito com a mão a apalpar lá atrás, cabeça virada para trás, velocímetro a cento e vinte. Começa a invadir a faixa da esquerda, e, claro, flashadas de máximos não tardaram a atingir o espelho retrovisor, Ai, já saio! Que chato! Ah, vês como encontrei o bâton do cieiro? Guinada para a direita. Passa o bâton nos lábios.

     Depois vai na faixa do meio e, claro, há sempre uns tristes que vão na faixa do meio a oitenta a achar que vão depressa, Ai, chatos!, ultrapassa pela direita e olha para a esquerda a ver a cara do imbecil. Continua na faixa da direita a ultrapassar automóveis da faixa do meio. Lá à frente tinha visto um camião na faixa de aceleração de um acesso a preparar-se para entrar na autoestrada. E ela vai a ultrapassar outro carro pela direita, cujo condutor decide que afinal quer sair da autoestrada e não tem acesso ao ângulo morto. Guinada para a berma, ruõõõõõõnn colcheia em Fá sustenido, aceleração brutal para warp speed (transmissão automática até pode ser muito fixe nas acelerações), Não-percebo-esta-gente, e guinada novamente para a faixa do meio para não bater no tal camião. E o pisca...?, O pisca?! Mas eles têm alguma coisa a ver com o que eu quero fazer? 

     Viste o tabaco?

     Vasculha a mala, e depois o tablier, e lá está o tabaco na consola central. Acende um cigarro, abre as janelas. Portanto põe a música bastante mais alto, Esta é a música que uso para acordar de manhã! Por acaso peço-lhe que comece a música do início porque gosto muito. Mas depois não gosta dos graves e começa a configurar os equalizadores do som e a pôr mais alto, velocímetro a cento e trinta, bastantes carros na estrada. Guinadinha rápida de vez em quando para corrigir, algumas semifusas em Fá sustenido, pouco preocupantes.


Hear my name, take a good look

This could be the day

Hold my hand, walk beside me

I just need to say

I could not take a-just one day

I know when I would not ever touch you

Hold you, feel you in my arms ever again


Yeah, yeah, yeah

Yeah, yeah, yeah

Yeah, yeah, yeah

Yeah, yeah, yeah


     Acaba de fumar, Ai, não suporto este barulho ensurdecedor!, fecha as janelas, É-de-mim-ou-estão-sessenta-graus? Mexe no botão do ar condicionado e a regular a temperatura e ruõõõõõõnn Fá sustenido em tenuto, Não te preocupes, tudo controlado!, e eu a apreciar mais de perto a textura dos blocos de betão através da janela, Ah, assim está mais fresco...


     Olha, tens soninho, porque é que não dormes um bocadinho?



10 de abril de 2024

Sem pressa mas sem perder tempo

     Não gosto de fazer, no geral, as coisas à pressa. Mas também não gosto de perder tempo.
     É por isso que fico desesperado quando vejo recursos a serem usados da forma mais errada possível tendo em consideração o indivíduo e o grupo ao mesmo tempo. É quase sempre difícil influenciar indivíduo e grupo no mesmo sentido com uma determinada medida ou conjunto de acções, mas há pessoas que o conseguem fazer realmente bem. E - o que é extraordinário - sem pensarem nisso.

     Estou na fila do multibanco e vejo uma pessoa bastante mais velha à minha frente a usá-lo. Claro que sei que tenho de ter paciência, e tenho. Provavelmente usa a máquina com alguma dificuldade, vê mal os números, tem medo de se enganar, e se calhar já há muito tempo que paga as contas daquela maneira.  Pudesse ele escolher uma hora mais morta para fazer isso, já que está reformado... em vez de ir às 19h ao supermercado (e já que é o único multibanco num raio praticável a pé). Mas enfim. Deixa lá o velhote enganar-se e pôr várias vezes o mesmo cartão e carregar no botão do saldo dez vezes. Daqui a uns anos os miúdos de hoje irão achar o mesmo de mim noutras coisas quaisquer.

     O que me irrita é malta bastante mais nova que eu, com telemóveis de mil euros com tecnologia suficiente para activar mísseis nucleares da Rússia (mas que na verdade só servem para ir aos instas desta vida) mas que vão ao multibanco levantar dez euros, depois tiram o saldo, depois levantam mais dez euros, depois tiram outro saldo, depois vão pôr outro cartão e fazem a mesma coisa, e estão ali quinhentos anos a jogar ao tetris na máquina, a carregar o telemóvel, a carregar sei lá o quê, a transferir não sei quê mais... Mens! Homebanking! Até a minha escova de dentes eléctrica dá para aceder ao banco! Ou para ver os tik-toks funkeiros da filha da vizinha.
     Ai não, não! Porque me entram na conta, porque os hackers da Nova Ordem Mundial, porque os criminosos digitais! E porque vivo off the grid!

     Infelizmente estou dependente destes multibancos porque são essenciais para alimentar a economia paralela e portanto tenho que me sujeitar a estas esperas. Mas custa-me. Devo ser o gajo mais rápido do meu bairro a levantar dez euros de um multibanco. Ainda os ecrãs estão a aparecer e já eu cliquei em tudo e o cartão está fora da máquina. Ainda a máquina está a gritar "retire a porra do seu dinheiro!" e já eu estou com a chave na porta de casa. Da próxima vez vou pedir a alguém que me cronometre e depois digo. Mas aposto que são menos de trinta segundos.

     Mas melhor do que isso é o uso de uma coisa bastante mais recente nos supermercados. As caixas rápidas para "compras em cesto". Não sei muito bem o que isso das compras em cesto quer dizer. Sei que fazem filas maiores do que as caixas convencionais com operador. E vão para lá com aqueles cestos que pesam mais que uma retroescavadora. Ou pior, com aqueles sacos gigantes que trazem de casa, que fecham com cordinha; ou com aqueles trolleys de compras... Pousam o saco/trolley no chão. Abrem a cordinha ou o zipper. Retiram as compras uma a uma do saco/trolley e colocam na plataforma da direita. Mas tipo bué compras!  Saem de lá artigos de desporto, detergentes gigantes para a roupa, compras de talho para alimentar leões, sacos com trinta papos secos... Fica a plataforma atulhada que até as laranjas saem do saco e vão parar ao meio do chão. E o saco das postas cortadas, de um bacalhau inteiro, também no meio do chão. Depois ah! É preciso passar o cartão de desconto. Depois passam devagarinho as compras pelo leitor e colocam na plataforma da esquerda. Entretanto a fila já atinge a zona dos iogurtes.
     Esperemos entretanto que a máquina não avarie e tenham que aguardar que alguém lá vá desbloquear aquilo, porque senão ainda é pior. Depois pagam. Inserem lentamente o código, não vão enganar-se e transferir dinheiro para o Laos. Entretanto, claro, têm um ou dois acompanhantes que em vez de ajudarem a arrumar as compras, vão falando com a única pessoa que faz alguma coisa sobre uma merda qualquer. E depois essa pessoa retira a factura, dobra-a cuidadosamente, vértice com vértice, em acordeão, que até parece que vai sair dali um origami de flamingo, ou de orquídea, ou de uma pila, ou o caraças... e coloca-a cuidadosamente no porta-moedas. Epá mas vais meter o bacalhau no IRS? Não tinha sido mais rápido que um profissional te passasse as compras? E alguns até as arrumam no saco? Tinhas mesmo de roubar meia hora da minha vida? 

     Eu só vim buscar um fiúza e um pacote de cajus! Estas caixas são só para pessoas que vêm buscar vinho e frutos secos! Ou uma lata de atum para fazer com massa! Ou tampões! Não é para as compras do mês!

Falou e disse - 66

(Sobre as mentiras do 1 de Abril)

   Moony - Meses. Andei meses a planear o que ia dizer e como ia dizer. E pimbas, lixaste-me. Achei mesmo que ia conseguir. Que não te ias lembrar.

     STP - Eu sou daqueles velhos que fazem sudoku para combaterem a demência.

   Moony . Se te pagassem um euro por cada disparate que sai da tua boca, não precisavas de BTCs para nada!

     STP - E não preciso... ;)

7 de abril de 2024

Falou e disse - 65

(Senhora mãe a preparar-se para comer sushi)

A minha filha - O que é isso?

Senhora mãe - É sushi. É peixe cru.

(momentos depois, a olhar com ar enojado)

A minha filha - Porque é que te estás a comportar como um Yeti? 

1 de abril de 2024

Falou e disse - 64

 (Depois de cinquenta mil milhões de anos à espera na farmácia)


     Acre - Poucas coisas me aborrecem mais do que vir à farmácia!

     Ju - O que é que podes fazer?

     Acre - Nada...

     Ju - Então... (encolhe os ombros e sorri)

    Acre - E depois é cartãozinho de pontos... e tem ficha de cliente connosco? E quer uma raspadinha? E sabe tomar estes medicamentos? Foda-se... o caralhinho do cartão de pontos, oh caralho da fichazinha de cliente...

     Ju - Não tomaste o comprimido ontem...

     Acre - Tomei tomei!

     Ju - Talvez estejas a precisar de duplicar a dose.

    Acre - Mas não é? Vais à farmácia, que basicamente é uma mercearia, buscar merdas para o nariz, mas parece que vais abrir uma conta num banco off-shore, oh foda-se. Só falta um sniper numa torre do outro lado da rua! Não tenho paciência.

     Ju - Estás super rabugento...

    Acre - E depois é quinhentas mil senhas de atendimento geral, de grávidas ou a amamentar, de pessoas com dificuldade na locomoção, de ... olha, de cães com uma bola na boca, oh caralho! (vi um cão de bola de ténis na boca a passar).

     Ju - Vais-me dizer que não achas que as grávidas devem ser prioritárias?!

    Acre - Se está grávida devia era estar em casa de perninhas para o ar! Não é a andar em farmácias! Que mande o marido!

     Ju - E se não tiver marido?

    Acre - Se não tem? Olha, fodeu-se! Foda-se.

30 de março de 2024

Vinte e oito dias de cor - o resultado

     Gráfico de respostas do Formulários Google. Título da pergunta: Qual o prato que deve ganhar o concurso?. Número de respostas: 43 respostas.         

      Depois de três semanas de votações, aqui está o resultado. Houve 43 votos. Está atribuído o prémio, um jantar, tal como prometido!