7 de junho de 2005

Tetris 5 - The purpose of Tetris

4 comentários:

  1. O primeiro tetris que apareceu era a duas dimensões (x,y), poucas cores, gráficos rudimentares, jogabilidade difícil e injusta... no entanto, revolucionou o panorama dos jogos de computador, a ponto de instituir um paradigma inteiramente diferente.

    Desde então, inúmeros tetris saíram para o mercado, tornando-se o jogo um conceito incontornável no imaginário da maioria das pessoas no mundo.
    Surgiram também os tetris a três dimensões (x,y,z). Havia um que eu jogava muito que se chamava blockout - alguns de vós devem conhecê-lo, com certeza.

    Gosto de pensar que o meu tetris tem n dimensões, n eixos, n variáveis... tantas quanto eu e vocês quiserem. Conforme o tempo passa (ou não é ele a 4ª dimensão?), os eixos crescem para mais longe até ao infinito.
    Quando cada um de nós se move; quando tocamos outra pessoa; quando interagimos uns com os outros; à medida que nos apaixonamos, que nos amamos, que rimos e sofremos; que temos alegrias imensas e desgostos que nos causam dor de queimadura; as peças do tetris que imagino passam a ter mais arestas, mais ângulos, mais dimensões, mais variáveis... até ao ponto em que é impossível representá-las no espaço.

    O esforço de encaixar essas peças é então cada vez maior... e chega-se ao limite em que deixa de ser viável ajustá-las racionalmente - a nossa rede neuronal cede à emotividade.

    Só as emoções nos tornam capazes de lidar com tamanha complexidade. As sensações vividas e não pensadas valem por si, e são impossíveis de representar de forma matemática, inteligível. As "peças" do meu tetris tornam-se então demasiado abstractas... mas aceito a complexidade inerente a um tamanho sistema de equações com a liberdade que tantas variáveis permitem em termos de expressão. Já a compreensão...

    À medida que escrevo, vou sentindo, e deixo que os dedos sejam os prolongamentos axonais do meu córtex frontal... e com isso corro o risco de não ser compreendido. Quando era pequenino e me doía um joelho ou um braço, dizia à minha mãe para pôr a mão por cima para que ela sentisse a minha dor. Claro que não era possível, mas... às vezes, ao escrever, bloqueio, porque não encontro palavras para descrever o que sinto!

    Foi o que aconteceu talvez com o tetris 4. Embora não me tenha sentido nunca prisioneiro da necessidade de me fazer entender, a verdade é que é gratificante para mim quando consigo fazer passar o que sinto, mais do que o que penso, para quem lê o que escrevo.

    O tetris 4, tal como os outros, tinha um fundamento real forte; é produto situacional, e julgo que toda a gente que me conhece deve ter percebido isso.
    Em linhas gerais, é a descrição de um menino que está a aprender a andar, devagarinho (ou, mais propriamente, a reaprender a andar, depois de ter caído), e alguém lhe oferece um balão; ele levanta os pés do chão, e por alguns momentos paira no ar, impulsionado pelo balão; sente vertigens muito boas, mas inexoravelmente perigosas; e como sabe, de alguma forma inata (será mesmo inata?) que o balão irá rebentar, decide largar o balão e pular para o chão firme enquanto a altura a que se encontra é suficiente para o fazer.

    O gás-fluido a que me refiro é uma metáfora do arrebatamento que sentimos quando nos apaixonamos. É uma injecção imediata de algo que não sabemos o que é, mas que nos deixa acelerados e atordoados. Ao mesmo tempo, é uma referência a um sonho que tive, em que julguei ter respirado fundo um perfume muito bom, e então acordei comigo mesmo a tentar inspirar mais... com os pulmões cheios de ar, de respiração cortada. Foi estranho!
    A junção da metáfora e da referência pretendia descrever a sensação de impotência e o desespero que sentimos pelo objecto da nossa paixão...

    A corda de um violino - a música que oiço é alegre, mas fina e inquietante - que se pretende esticada para vibrar, torna-se bamba e instável. Instáveis somos também nós, ora radiantes e esquizofrenicamente eufóricos, ora deprimidos - a paixão é algo que apela aos extremos.

    A tela virtual é uma referência ao mundo aparente que construímos quando nos queremos convencer à força de que estamos bem, a 100%, mas sabemos que lá no fundo há assuntos por resolver, tigres escondidos com o rabo de fora...
    O planeta árido é o que está por detrás da tela virtual: é a realidade, mais triste, com todas as incoerências e bugs que engulo e escondo de mim mesmo.
    Claro que hiperbolizei as situações: não pinto telas muito lindas, virtuais, e em compensação meu planeta também não é feito de granito! Mas já me senti como se fosse. Já há umas florezinhas a rebentar do chão, umas àrvores a dar cor verde, e as coisas compõem-se cada vez mais depressa :)
    Devem ter aprendido em ciências naturais, como eu, como se forma um solo a partir de uma rocha-mãe inicial. É mais uma metáfora a descrever o meu processo moroso de me tornar apto a dedicar-me a alguém. Convido-vos à ir à procura dos vossos livrinhos antigos onde isso vem explicado...

    Tudo o resto são descrições de emoções que não consigo explicar de outra forma que não seja recorrendo a imagens.

    Em resumo, o tetris 4 é produto de uma fantasia, de um equívoco. Mas estou contente por me ter equivocado, porque é sinal de que o meu solo é fértil, embora ainda esteja instável e pouco capaz de alimentar árvores exigentes do ponto de vista nutritivo! Tal como os outros três tristes tetris, também o 4º é uma forma de catarse. Escrevo um tetris "quando tem que ser". Apesar de o achar mesmo à medida do que queria transmitir, tenho muita pena de ter saído tão hermético e inacessível.

    Vosso

    João

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  2. este gajo é fabulástico!! e eu sinto um enorme orgulho em ter o privilégio de ler os seus textos, e (no background) ir tendo a ajuda do próprio para os decifrar. lindo lindo lindo!!!!!!
    a ele tiro o meu chapéu (cm n uso chapéu pode ser a bandolete??! ahah)

    **teté*

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  3. noto um amadurecimento muito grande... como se conseguisses retardar a velocidade a que as peças caem e as conseguisses encaixar melhorzito. Que não te falte o discernimento :D

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  4. Quando era meis puto e comecei a jogar tetris, tinha a impressão que aquilo tinha uma lógica sequencial de encaixe... e se perturbassemos essa lógica, a catástrofe era certa, mais cedo ou mais tarde! Esta ideia, claramente absurda para o tetris como jogo, é claramente adquada à tua imagem de tetris. Como na vida real existem as leis da termodinâmica, já sabemos, que mais tarde ou mais cedo, não vamos conseguir lidar com a complexidade de formas que nos caem... isto porque não temos decisões binárias, para nós haverá sempre todo o espectro que consigamos enfiar entre o preto e o branco! Como não conseguimos lida com estas multiplas variáveis complexas, refugiamo-nos nos sentimentos e emoções, no instinto, e muitas vezes, como bons portugueses, no desenrasca! Todas as pessoas têm de lidar com o seu sistema tetris, muito embora, há as que preferem deixar correr o seu em demo mode, não correndo o risco de esgotarem a sua lógica e virem-se forçados a recorrer à não lógica. Não tenham medo...

    Puto, quanto ao desenho (como diz o Pita (acho que é esse pensador de queijas)) está fantabolástico! Espero que mais e mais pessoas, pegem no comando e decidam o seu tetris, tirando-o definitivamente do demo mode!

    abraço

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