11 de maio de 2010

O meu Deus é um gajo porreiro

Como hoje estou de mal com o mundo, e por ocasião da visita do Bento 16, não queria perder a oportunidade de falar sobre o meu Deus. Vamos por partes.

A primeira parte é que me estou a borrifar para a vinda do Papa. Ou melhor, estou contra. Estou contra terem fechado quase todos os acessos para eu sair de Lisboa depois de um banco, e nenhum dos polícias me conseguiu dar uma indicação sobre como sair. Estou contra não terem feito apenas um percurso para o papa, e deixado os restantes abertos. Nem que tivessem de pôr um polícia em cada ramal de acesso a esse percurso. Afinal de contas, não eram 88000 polícias os destacados para a segurança?
Estou também contra a quantidade de dinheiro que se gastou nesta brincadeira. De cada vez que os nossos quatro f16 levantam vôo, são córenta mil aéreos que vão ao ar. Só porque sim. Nem era necessário, mas ... como podemos! Já para não falar no gasóleo que não sei quantos carros gastaram a dar voltas a tentar sair de lisboa. E resta saber qual é o cachet do papa. É que disso é que ninguém fala.

Tenho vergonha de viver num país que é (constitucionalmente, pelo menos) laico, mas em que 88% da população se diz católica. São muito católicos são.

O que me irrita mais é certos bacaninhos que andam com crucifixos no carro, e andam na faixa da esquerda a 20. Devem pensar: Deus ajudar-me-á a não ter acidentes pois que eu tenho uma cruz de pechisbeque pendurada no espelho retrovisor, e isso faz toda a diferença. Nem que por cada acidente que não tenham, provoquem três. E se alguém faz sinais de luzes metem a manápula de fora assim a fazer um gesto "passa por cima!".

Mas também não me irrita menos aquelas ideias do "ah, se ganhar o euromilhões, prometo que vou a pé para fátima!" ou "que deus te dê no dobro aquilo que me desejas a mim".

Saramago tem toda a razão. A concepção católica de Deus é egoísta, vingativa, interesseira. Eu já pensava isto, e só tenho pena que grande parte das pessoas não o leve a sério e pare para mensar um pouco.

O meu Deus é um gajo porreiro. Não precisa que cortem avenidas, ou que se mandem levantar aviões com o último fuel disponível para o resto do ano. Não precisa de representantes na terra, porque o melhor representante sou eu (e mais quem acreditar nele). E portanto não precisa de 80000 polícias a protegerem não se sabe bem de que ameaças. É verdade que também não precisa que se criem tolerâncias de ponto, mas por outro lado talvez me ensine a usar melhor o tempo livre em vez de fingir que rezo em voz alta para me mostrar o mais temente possível, ou de ir a fátima e obrigar não sei quantos enfermeiros a lavarem-me os pés porque como sou muito temente decidi ir descalço ou de galochas. Mas ei! Levei um ramo que parti ali de uma figueira ao pé de casa a fazer de cajado a imitar o Moisés!

Epá, respeito as peregrinações mas causam-me reboliço nos intestinos.

E depois aquela moda de lhe chamarem santo padre... é outra coisa que me deixa mareado. Santo padre porquê? Por ser o sumo pontífice dos chulos ?

Se as minhas avós vissem este texto ficariam profundamente desapontadas comigo. A verdade é que elas rezam muito por mim para que tudo me corra bem, e uma delas provavelmente até comprou flores e um poster do papa para meter na janela. E eu gosto que rezem por mim.

Vou-vos contar um segredo: estou com estas merdas, mas a verdade é que também eu por duas vezes na vida estive tão desesperado que já rezei. Uma delas, foi numa catedral em Milão, e a verdade é que as minhas preces foram ouvidas. Não sei por quem, mas foram.
E às vezes oro para dentro para o meu Deus, falo com ele, e faz-me sentir melhor.
Quanto mais vivo, vivencio, ouço, vejo, sinto, estudo... mais me convenço de que as coisas são tão complexas que é difícil imaginar que tudo se originou a partir de simples regras da física e da química que tanto amo e com as quais trabalho. Mas da maneira como as religiões contam a história é que tenho para mim que NÃO FOI! Não me venham com tangas.
O meu Deus ouve-me mesmo estando eu calado. Não preciso de dizer améns e comer óstias e andar de joelhos e rezar bxx bxx bxx bxx só para as outras pessoas perceberem que estou a rezar. E se ele tem alguma influência no meu destino, provavelmente é para me mostrar que não devia ter seguido determinado caminho e para aprender com o erro. Não é para me castigar.

Se Deus existe, então escolho que seja um gajo porreiro. Ou uma gaja. Mas isso também duvido. Muito. Mas isso são outros Carnavais.

Quanto ao papa, que se vá embora o mais depressa possível. O bafio do vaticano precisa dele como de pão para a boca.


PS - não quero ofender ninguém. Se o fiz... estão autorizados a não rezar por mim.

12 comentários:

  1. Estou chocada com o que escreveste...tenho pena que penses assim, que escrevas assim. Foi um post muito ofensivo e insultuoso.
    Espero que Ele te perdoe...

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  2. Lá está... eu não ofendi nem insultei Deus. Creio que Ele não tem de me perdoar ou castigar por criticar algumas palhaçadas que acontecem na terra.
    Se Ele efectivamente me castigar de acordo com a concepção católica... tem outras coisas por onde escolher ;)

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  3. Gostei do texto e achei os comentários hilariantes...

    Mas tenho de discordar contigo quanto a um ponto... A mim não me incomoda NADA a vinda do papa... por mim, podia voltar para a semana... Graças ao gajo, 3 diazinhos de férias que me vão saber mesmoooooo bem xD

    P.S.: achei-te demasiado politicamente correcto. Este tema merecia ter sido abordado pelo Acre ;)

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  4. Lol. Isso ou então estás com paciência para iniciar aqui um debate daqueles mesmo acesos xD

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  5. Sim, eu de facto não tenho tido tempo nem paciência para debates desses. Mas como hoje tive uma noite difícil que se prolongou pela manhã até ao meio dia e tal... achei que me ia fazer bem deitar alguma energia negativa fora ;)

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  6. Vou rezar por ti na mesma, à minha maneira, também sem bxx, nem joelhos esfolados, nem Bentos, nem Terreiros do Paço a abarrotar...

    Entendo tudo o que escreveste, só não acredito que estejas realmente de mal com o mundo :)

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  7. Não posso concordar totalmente com o teu texto porque se percebe, em alguns erros básicos, que é escrito por alguém que nunca esteve "por dentro" do assunto de que fala (tal e qual como o Caim do Saramago, por exemplo, que se baseia todo no mais básico erro de sempre: partir do princípio de que a bíblia é para ser lida toda no seu sentido literal!).
    Mas o meu Deus também é um gajo porreiro, como o teu! Talvez o problema seja que o tal Deus católico de que falas é quase sempre retratado com base nos católicos "da velha guarda", muitos ainda agarrados aos tempos do salazarismo e afins... nos quais nem eu, nem os jovens com quem trabalho diariamente, nem os padres com quem lido, nem sequer muitos dos católicos mais velhos que conheço, nos revemos!
    Mas as coisas mudam-se por dentro, não de fora... e, se um dia fizeres um esforço para conhecer estas realidades, vais ver que isto de ser católico hoje não tem mesmo muito a ver com o que escreveste aqui.

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  8. Este jovem queijense ficou lixado com o Pope.

    Acho pouco compreensível como aceitam os católicos a ostentação dum Papa, chefe da igreja fundada por um carpinteiro e continuada por um pescador.

    Grande abrço
    -P-

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