29 de dezembro de 2009

Último banco de medicina







E cá estou eu no último banco. Começou por ser relativamente atribulado, mas agora até acalmou. Custa um bocado entrar no hospital e ver o cacifo vazio, só com a minha bata e estetoscópio, e realizar que os meus colegas já foram para as ilhas.
Acho que não vou sentir muito a falta deste hospital. Mas tenho de admitir que estes quatro meses que estão prestes a findar me vão causar saudades em relação a algumas pessoas. E alegra-me ter a certeza que, em relação a algumas delas, o sentimento é mútuo.

Entretanto anda toda a gente maluca com a porcaria do fim de ano. Eu quase sempre tive fins de ano de treta. Ou tinha namorada e chateava-me com ela, ou não tinha namorada e sentia saudades dela, ou era uma granda seca porque tinha posto na cabeça que ia ser altamente e afinal não foi. Realmente, tal como a fome é o melhor condimento para uma refeição, as expectativas são a pior coisa que se pode ter para o que quer que seja. Ainda nem uma coisa aconteceu e já estão a matá-la ao início.
Por mim, sinceramente, metia-me a propofol a meio da tarde de 31 e acordava a meio da tarde de 1 de Janeiro. Ou então se calhar meto-me a jogar fifa e a comer cajus a noite toda.

Não faltam convites, mas... quero estar com toda a gente e não quero estar com ninguém. Lembro-me de pensar inúmeras vezes, durante coisas do género do fim de ano, "quem me dera que o não sei quantas estivesse aqui". E acho que me iria saber bem que essas pessoas com as quais eu quero estar pensassem, por uma vez, "quem me dera que o joão estivesse aqui". O joão todo, não só parte dele. E eu sei que quase nunca é assim.


Daqui por duas horas vou dormitar um bocadinho (ainda não sei onde) ... e depois Às 8 e meia torno a entrar na enfermaria. Até à tarde. E são só 12 horas de urgência... de cada vez que penso que para o ano provavelmente vou ter três bancos de 24h por semana até fico a bater mal.
Talvez ande tão ocupado que isso me leve a não ter tantas saudades de determinadas coisas que não posso reviver e de determinadas pessoas que não posso ter junto de mim ...

3 comentários:

  1. Isso é a tua maneira subtil de dizer que não queres a "nossa" passagem de ano???? Hás-de cá vir, hás-de... :P

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  2. depende da fome e depende das expectativas. parece que a vera dá uma pista à tua questão existencial, lololol
    Tenho apenas duas sugestões para ti: em vez de cajús, passas; e umas cuecas azuis na cabeça. diz lá que não é uma coisa digna de se ver? - há preceitos que são compativeis com o fifa e, arrisco, com diversos estados de humor.
    rim-podre

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  3. Eu não digo que não à "nossa" passagem de ano. Não sei é o que vamos fazer :p

    Caro pita: estás realmente filosófico, já sentia falta :P

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