2 de março de 2009

Ambições

"There's not a love that's perfect

But I, I live in hope".

Esta é uma das minhas músicas preferidas dos Doves. Já partilhei aqui convosco outras duas de que gosto muito, e que traduzem na perfeição - na minha opinião - dois estados de espírito diferentes. Eu acho que os Doves são muito bons a fazer música confortável, mas com um ambiente muito próprio.
Esta música é melancólica, e provoca-me uma sensação que não consigo explicar bem. A letra invoca-me a ideia de que nunca estamos satisfeitos com o que temos, particularmente no plano das relações amorosas; procuramos sempre algo de melhor, como se o novo fosse garantir tal coisa.
Reconheço que já não me lembro se pus esta música aqui no blog para ouvirem. Se o fiz, peço desculpa, mas ela é tão boa que acho que não se perde nada.


*

Acho que é tão fácil sermos felizes sem nos darmos conta disso... e ao mesmo tempo é tão fácil acontecer acomodarmo-nos com o pouco que nos é dado, e achar que isso é estar satisfeito - um pouco como quando uma pessoa está deprimida há muitos anos, e se habituou de tal maneira a esse status que acha que viver normalmente é assim.

É curioso como a grande maioria das relações à minha volta caem numa destas situações. Entristece-me que assim seja,e faz-me perder a fé. De resto, entristece-me que as pessoas à minha volta andem emocionalmente desencontradas umas das outras. Que não se entendam naturalmente. Que não se satisfaçam... que não sejam tudo umas para as outras, por mais que queiram. Toda esta temática é causa de grande dor e sofrimento para toda a gente, e eu incluo-me no clube, claro.Como disse uma pessoa que conheço: "O amor é bonito... é uma merda, mas é bonito.". É tudo sempre muito mais complicado do que podia e devia ser.

Acho que é bom conhecermos algumas pessoas diferentes - do sexo oposto ou não, dependendo da orientação pessoal - para sermos capazes de valorizar aquilo que nos é oferecido numa relação. E é importante passarmos por estar com alguém que não gosta de nós, que não se dedica, que não faz sacrifícios e não se esforça por nós, para nos darmos conta daquilo que sente alguém que está junto de nós, e de quem não gostamos como queriamos. É preciso explorar, até para sermos capazes de calçar os ténis da outra pessoa.


Nem a menos, nem a mais. Se conhecermos demasiadas pessoas, talvez fique mais difícil dedicarmo-nos e entregarmo-nos a uma delas. Ou porque ficamos demasiado intolerantes, selectivos, e egoístas, ou porque nasce dentro de nós um sentimento - mesmo que não consciente - de que tudo tem um fim, e portanto haverá sempre alguém a seguir para preencher o lugar, o que implica uma incapacidade de dar uma oportunidade real à pessoa que gosta de nós. Penso que este é um risco muito real que corremos.


No extremo oposto, temos uma versão requintada da alegoria da caverna. Como é possível saber que gostamos realmente de uma coisa ou de uma pessoa e a preferimos a todas as outras a partir do momento em que ficamos a saber que existe uma enormidade de coisas e pessoas no mundo? Ainda por cima, o mundo actual é pródigo em confrontar-nos com situações, estímulos, e solicitações.

É bom viajar e conhecer... experimentar... mas, talvez, como disse alguém um dia, o melhor de viajar seja o regressar a casa (seja lá o que isso possa significar para vós), anos depois, como bom filho, como bom amante, e como bom companheiro, desejando aquilo que se tem. Há muita gente que não regressa, e outra tanta que não chega a partir.

*

Peço desculpa pela confusão de ideias transportada pelas linhas que escrevo. Acredito que desde que comecei a estudar para o exame - que já foi em Novembro - nunca mais me consegui exprimir como dantes. Espero que seja uma fase que passe o mais depressa possível.

3 comentários:

  1. Olá João,

    Acho que o teu texto foca uma questão bem pertinente. Talvez não só para mim, mas para muitas pessoas, tanto da minha idade, como para os jovens do futuro ainda mais (as tais gerações morangos que por aí vêm a caminhar meio atropeladas)

    Conheço várias relações que se ficaram pelo comodismo e outras que existem porque o sentimento parece não ter fim. Tanto umas como outras são válidas. As segundas, não é necessário explicar porquê. As primeiras, talvez porque não existiria mesmo melhor ou porque o pouco da felicidade que é tirado da relação é suficiente para a existência da pessoa enquanto comodista. Porquê dois pássaros a voar se há um na mão? Deve ser essa a lei base dessas relações.

    Concordo contigo que deve haver exploração, de modo a não vivermos na caverna (ainda que se calhar essa era a felicidade bastante), mas de modo a não nos tornarmos insaciáveis e de modo a não ser a procura do alguém perfeito o nosso maior vício.

    Não sei se é por conhecermos cada vez mais gente, ou pelas relações se desenvolverem depressa demais que cada vez há mais pessoas que tentam conquistar apenas o perfeito e depressa encontram defeitos num possível que tenham encontrado.

    Fazendo uma analogia um pouco rude, quando vamos à loja comprar algo, quanto maiores as alternativas, mais tempo demora a escolha e esta chega a ser massacrante. Penso que isso acontece mais a uns que a outros. Há quem chegue, escolha um par de ténis e saia da loja 5 minutos depois. Ou porque teve preguiça de pensar quais os melhores na realidade, ou porque teve uma espontânea paixão por eles mesmos, de modo a que não restassem dúvidas.

    Há por aí quem tenha esse “clique” (chamem-lhe o que quiserem), de modo a que não surjam dúvidas, sendo mesmo felizes ao máximo. Quem siga em frente sem olhar para trás e não pense mais nas milhares de alternativas que podia ter. Mas há aqueles que já têm uma ideia correcta do que é ser realmente amado, e do que é ter uma relação de pouco interesse pelo parceiro, do que é gostar mesmo de alguém e sabe que o bom é mesmo chegar a “casa”, mas deixa-se ficar na indecisão de que esse “lar” ainda não chegou e está para vir. Assim fica, deixando-se influenciar invariavelmente pelo pequenos atractivos negativos da mente, que não a deixam focar-se no ESSENCIAL. Essencial esse, para mim é estranho de dizer mas acho que sei o que é e cá continuo na dúvida e na procura. Parece que escondes a ti mesmo aquilo que é importante ter em conta, mesmo sabendo que esse esconder te trará provavelmente infelicidade. Mas se calhar ela viria na mesma, não?

    Beijo e desculpa a extensão da coisa.

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  2. As linhas confusas que dizes ter escrito, talvez não sejam assim tão difíceis de entender...
    Se bem que estas coisas do coração são complexas!
    Tudo o que implica "sentir" passa para uma dimensão diferente, aquela em que as palavras valem muito pouco!
    O tipo de situações que relatas, são realmente comuns... umas tristes, outras embaraçosas, outras bonitas!
    É dificil ter certezas. É dificil optar. É dificil tanta coisa nesta vida!
    Aquilo que eu mais quero é ser feliz! Aliás, tudo aquilo que eu queria era sentir eternamente aquela felicidade plena, que nos faz flutuar, sabes? Mas será isso possível?!

    Enfim...

    Gostei bastante da música.

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  3. "procuramos sempre algo de melhor, como se o novo fosse garantir tal coisa", dizes tu.

    Tambem ja nao acredito nisso. Passei por essa situaçao N vezes e agora chego a conclusao que o costumeiro e conhecido eh tao bom, talvez melhor que. Ha que trabalhar a coisa, mas ainda assim consigo dizer-te que o aborrecido tambem consegue ser reconfortante, divertido ate.

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