12 de outubro de 2004

Knives Out

Após uma rica semana em que o governo foi atacado em todas as frentes devido ao caso Marcelo Rebelo de Sousa, eis que o primeiro-ministro fez ontem uma comunicação ao País (relembrando as conversas em família do saudoso sucessor do ditador Salazar, Marcello Caetano, que, ironicamente, é padrinho de baptizado do Prof. Dr. mais famoso do país). Nem faltaram as fotografias dos filhos na mesa por trás dele, a demonstrar o seu interesse na defesa dos valores da Familia. E o que é que de tão interessante continha a mensagem do dr. Santana Lopes para os Portugueses? Aumento da função pública acima da inflação calculada, aumento das pensões até um máximo de 9% e descida da tributação do IRS. Nobres intentos, sem dúvida, mas dificeis de concretizar, porque

#1: Ainda há não muito tempo o excelentissimo sr. dr. Bagão Félix, Ministro das Finanças, reafirmou que no próximo ano não haverá disponibilidade finaceira para grandes loucuras, i.e. o Governo teria que continuar a sua politica de contenção;

#2: atendendo à presença cada vez mais desejada de militares americanos na região do Golfo Pérsico, à crescente instabilidade na Nigéria (6º maior produtor mundial de petróleo) e às tragédias climáticas na América Central e do Sul (por exemplo, a Venezuela é o 5º maior produtor mundial). Junte-se a isto a crescente procura de mercados emergentes com a China (que congrega apenas 1/5 da população mundial), e não se vêem sinais de o preço do crude baixar tão depressa. E com isto, a inflação vai atrás.

#3: Cheira-me tudo a manobra de diversão politica na ressaca do caso de censura. Agora que a responsabilidade de transmitir as partidas da Superliga em canal aberto foi delegada na TVI (achei muito estranho que a RTP, controlada pelo Estado que aparentemente até tem alguma margem de manobra financeira, a julgar pelo discurso de ontem, não tenha feito uma contra-proposta para segurar o seu maior ganha-pão dos últimos anos), poderá o medo de perder as avultadas receitas que o futebol sempre traz influir na capacidade decisória do sr. dr. Miguel Paes do Amaral?


Seja como for, reservo o seguinte espaço para algum elemento do Governo poder expôr o seu contraditório:


























O que até é estúpido, pois o próprio Pedro Santana Lopes andou durante semanas a fio a fazer comentários all alone no Jornal da Noite da SIC, pouco tempo antes de Durão Barroso ser convidado para a Comissão Europeia.

10 de outubro de 2004

Quinta das "nulidades"

Viram? Não viram? Mas com toda a certeza... já ouviram falar! É verdade! Não se fala de outra coisa senão do Zé Castelo-branco (ou elefante branco?) e do seu bóbi (ou bibi?)... Como é possível que um programa tão reles, com gente com tão pouco valor e com tão pouco conteúdo consiga ter tanta audiência? Será a curiosidade pura ou falta de gosto e ignorância? O que é que leva uma pessoa a ficar sentada em frente ao televisor a "comer" o pequeno-almoço da cinha, a aturar as bichanices da Romanova, ou a esbarrar com o bruta montes (de Vénus?) brasileiro, que só sabe é carregar baldes lol.
Num país onde, de acordo com as estatísticas europeias, a estupidez é máxima, como é possível que as pessoas não se revoltem? De onde vem tanta estagnação e gosto pelo fútil? Será que são os modelos estrangeiros??? Mas... se fossem... porque é que estamos mais atrasados que eles? Afinal são eles que inventam estas merdas que passam na televisão! Isto preocupa-me e leva-me a crer que Portugal é de facto um país do terceiro mundo, com uma assoalhada, água canalizada, Internet e T.V. por cabo (ooops… já tem ADSL), ou satélite, como lhe queiram chamar! Não passamos de marionetas... Fazemos exactamente o que eles querem que nós façamos. Somos um país de acomodados, quanto menos pensarmos... melhor! Os nossos únicos exemplos são as americanadas e o fitness, que importamos aos montes em HOLMES PLACES disseminados, como se de uma epidemia se tratasse!
São precisas vitórias no Euro para comprarmos bandeiras e andarmos para ai a buzinar e a gritar por Portugal! Que vergonha! De um país em cuecas, passámos para uma nação coesa e forte... até parecia o 25 de Abril, não fosse o facto de termos continuado com a ditadura!
Estaremos para sempre condenados a parasitar na cauda da Europa, ou será que um dia poderemos chegar ao tálamo e fazer parte do comando central?
O panorama não é muito satisfatório… não fossem as vitórias do Benfica e o livro de memórias do Mourinho!
Enfim… viva a SUPER BOCK!

6 de outubro de 2004

I Might Be Wrong, parte I - CDS - Partido Popular

Em mais uma tarde de domingo, passada num qualquer café à beira de uma estrada, eis que surge uma folha de jornal antiga trazida pelo vento de Outubro. Como que trazida pelo destino, bate-me nos pés; instintivamente, levanto-a do chão, com a curiosidade de quem não tem nada para fazer. Automaticamente, desejei não o ter feito, porque vinham duas fotografias que rapidamente me deram a volta ao estômago. Curiosamente (ou talvez não), lado a lado encontravam-se dois ícones da política portuguesa: Celeste Cardona e Pires de Lima. Vocês sabem quem são, com certeza.

Claro que comecei a dizer mal a torto e a direito, chateei os meus amigos com o meu praguejar. Não me interpretem mal, eu não gosto de política e os filhos da mãe existem em toda a parte. Mas parece-me que no caso do PP as laranjas podres cairam naquele cesto como se fossem atraídas por alguma força primordial. Um pouco como a massa amorfa e desuna que girava em torno de uma estrela, e que formou planetas por agregação. Enerva-me pensar que, se dos 10 milhões, votaram 62,8%, e se o PP contou com 8,8% dos votos, isto dá, fazendo as contas, mais de meio milhão de pessoas (?).

Tomei a liberdade de apresentar algumas das vedetas em fotografia.

Pires de Lima: aparece em todos os debates como representante deste partido. Parece um trolha, (com a devida ressalva, porque os trolhas são gente válida, respeitável e necessária), nunca tem uma argumentação subtil (é quase do tipo: toda a gente sabe que eu sou um grande sacana, mas façam um esforço para fazer de conta que não e que o que eu estou a dizer é mesmo aquilo em que acredito), e não me apetece falar mais dele.

Celeste Cardona: fala como se soubesse muito mais do que toda a gente junta, mas quando a vejo a falar na televisão, acredito mesmo que sabe muito mais de determinados assuntos do que toda a gente junta (basta-me olhar para aquela boca de ordinária para ficar convencido disso). E esta de ter ido trabalhar agora para a CGD... oportuno, no mínimo.

Bagão Felix: a cara não engana. Estamos perante um vampiro. Talvez a foto não seja a mais bem escolhida, mas a verdade é que não encontrei uma que lhe expusesse os caninos. Como é possível que se escolha alguém comprometido com as seguradoras para ministro da segurança social? E agora, para ministro das finanças! É entregar o ouro (que não é muito, já) ao bandido (que esse sim, é mesmo muito bandido!).

Nobre Guedes: não tenho muito a dizer. É a prova de que o político português, mais do que roubar, pilhar brutalmente e sem contemplações, tem que mostrar que o faz. Um gajo que é indigitado para ministro do ambiente ir construir na área protegida da serra da Arrábida, que é dos sítios mais bonitos que já vi, um palacete senhorial... esse senhor devia ser atado ao pelourinho e apedrejado (com pedras da pedreira que lá foi aberta). Peço desculpa aos mais sensíveis, mas eu sou sensível à mãe natureza e esse senhor nem desculpa pediu.

João Pinho Almeida: o cromo mais difícil de sair. É a prova de que a mediocridade compensa. Um deputado mais novo que eu, de quem a própria bancada parlamentar se ri quando discursa. Director da Fúria Azul (claque oficial do Belenenses). 4º ano de Direito... quando vi os cartazes dele espalhados por Oeiras, como candidato à Câmara Municipal, não soube se havia de rir ou chorar. Estava agora a ver um documentário, mesmo a propósito, sobre a maneira como as planárias se regeneram: se cortarmos uma em quatro partes, cada uma delas origina uma nova planária. A semelhança entre as planárias e os filhos da puta acaba aqui, porque estas são platelmintes de vida não parasitária.
Fui pesquisar: meu deus! Ele afinal é mais velho do que eu! E diz nas habilitações: frequência do 4º ano de Direito! Já o estava a favorecer... e acreditem: esta fotografia favorece-o muito.
Fico por aqui. Toda esta temática dá-me náuseas.

Nota: o meu pai apanhou-me a montar as fotos! Apenas disse isto: estás a planear um filme de terror ou estás a pensar estrumar o alentejo inteiro? ...

6 de Outubro... 2:53 :) OU :(

A vida é um conjunto de disposições para... São elas que constituem o limite das nossas capacidades, a nossa vontade, o nosso ser! Podemos até pensar que não vamos conseguir, que tudo é difícil e complicado, que nunca atingiremos o objectivo proposto. Por vezes, parece que caminhamos num deserto em que a areia corre como água, afogando a nossa vontade de vencer, enterrando a força e a esperança que havia em nós. Por vezes, sinto que tudo o que alcançei até aqui é falso e instável, perdendo-se por entre os dedos do tempo. Que realidade petulante permanentemente criamos ao som dos nossos dias? Que egoísmo é este que nos cerca e contagia, ao pulso frenético da matéria que se molda em sofisticadíssimos carros e telemóveis, que se veste com marcas radicais e snobs. Incomoda-me a sociedade em que vivemos. Sinto-me sufocada neste acelerador de particulas que incessantemente voam em direcção ao nada, ao abismo. Tudo seria tão simples se pudessemos estar cercados por imagens como estas! É preciso reinventar! Não... não me refiro ao "show" da Madonna no Atlântico! Como é possível ter tão pouca qualidade e tantos fãs! Não será isso representativo dos tempos em que vivemos? Da falta de sensibilidade para apreciar, reconhecer e louvar os verdadeiros valores musicais (e não só!)? Como é possível gostar de um produto sintético feito para para as massas... como se de um BIG MAC se tratasse. Perdoem-me os apreciadores de Macarrão Amassado Deficiente Orgásmico para Novatos e Amadores! Não é que a diva (ou divã?) não tenha jeito para a música... Agora elevá-la à categoria de Música é que por favor! É quase como dizer que "Se a minha avó tivesse asas era um avião"! Enfim... Indescritível realidade esta em que vivemos!

Fuga

A passo frenético e rotineiro lá vou inconscientemente respirando o saturado ar desta ignóbil cidade de buzinas constantes e intransigentes, de gente boa e má, de escravos e lordes! Bombardeada pela fulgurante imagem da publicidade, da inexistente necessidade criada, deixo-me sufocar e levar pelo individualismo egoísta da vida urbana. Mergulhada num mundo de ilusão, crédito e facilidade, vejo os cegos inocentes habituados a uma realidade miserável, em que os valores morais são suplantados pelos bens materiais, pelos enormes e sedutores corredores do consumo que subtilmente os entretêm. A par desta triste realidade, os protegidos do sistema, sustentados pelo suor daqueles que trabalham, facilmente o esquecem e, ao som dos mastros e velas, lá se vão banhando num restrito sol que, dito universal, não passa de pura miragem para aqueles que famintos e cansados consomem a sua inglória vida por um simples raiar! As crianças, despejadas em escolas sem tecto, lá vão sobrevivendo: deixando-se endrominar pelos desígnios da televisão; dando continuação a esta marcha progressiva em direcção ao nada. Os jovens, condenados à virtualidade do sistema educativo apoiado na teoria, decoram com frias palavras a preciosa e maravilhosa natureza, condensada em pequenas e limitadas imagens, pobremente reduzida a parágrafos sem vento, sem cheiro, sem som... A sua irreverência e sede de lutar por causas facilmente os faz aderir às inglórias manifestações, muitas vezes ignoradas e desacreditadas por uma censura egocentrista e indiferente, comandada por aqueles que também um dia foram jovens mas que agora, habituados a um mundo por eles banalizado e corrompido, apenas pensam em si e no seu bem-estar, tendo por lema: ganhar!Os idosos, que outrora foram o suporte de tudo e hoje são ignorados como inúteis fardos, nos bancos de jardim jogam as suas cartas, nos balcões das farmácias depositam a sua miserável reforma, no empedrado da rua pedem apenas por um pedaço de pão! Os drogados, doentes, sujos e viciados, contribuem para este cenário aterrador, destruindo as suas vidas e as dos outros, mutilando a preciosidade que é viver! Nas primeiras páginas, o crime, o racismo e a crise são uma realidade que se mistura no sufocante pó das inacabáveis obras, acabando por cair no fosso que é a nossa economia. É este o mundo em que eu vivo, é esta a realidade que me provoca uma tremenda tristeza e desolação, é esta a cidade que me faz querer fugir para o lugar dos meus sonhos que, embora desprovido de todas as inovações materiais, é dotado de toda a riqueza das mais sinceras e puras relações humanas, livres do egoísmo, da decadência, da aparência e da falsidade das grandes urbes comandadas por fortes apelidos, sustentadas por humildes desconhecidos.